Aniversário da Igreja Matriz de Santa Gertrudes, passa despercebido para a maioria da população.
Texto e fotos Adriano da Rocha
Há exatos 97 anos, na manhã de 17 de Setembro de 1915, era oficialmente inaugurada à primeira Igreja Matriz de Santa Gertrudes, na pequena Vila de Cosmópolis, então distrito de Campinas.
|
Esta foto registra o momento histórico da inauguração, tirada no final da missa celebrada pelo Monsenhor Joaquim Mamede. Destaca-se na foto a presença de toda a família Nogueira, destacando no centro da foto de calça branca e bigode o Major Arthur Nogueira, ao seu lado Paulo Nogueira Filho de terno branco e sua mãe dona Esther Nogueira, rodeada de crianças. |
Uma data pouco lembrada pela população cosmopolense, mas de grande importância em nossa história. Há
exatos 97 anos, na manhã de
Domingo do dia 17 de Setembro de 1915, era oficialmente inaugurada à
Igreja Matriz de Santa Gertrudes.A data da inauguração, foi esquecida por grande parte da comunidade católica, a história deste marco arquitetônico cosmopolense, é ainda menos conhecida pela maioria da população. Muitos desconhecem até, que antes da atual Matriz,existia uma outra edificação, demolida no início da
década de 1950, para construção da atual igreja Matriz.
Processo de demolição que gerou a revolta de muitos moradores, principalmente a indignação da família que doou o terreno e construiu a antiga igreja. Uma construção cheia de imprevistos da natureza, que demorou mais de 10 anos para ser totalmente terminada. Realizada pelo renomado "Escritório de Arquitetura e Engenharia Ramos de Azevedo", o qual simultaneamente nas terras cosmopolenses, construía o complexo industrial da Usina Ester e o Sobrado (Palacete Irmãos Nogueira), casa da família Nogueira.
Tudo isso iremos contar nas próximas linhas , voltando no tempo através de relatos, fotos e muitas estórias e histórias ,que cercam este monumento católico, admirado por todas as crenças e símbolo maior de nossa cidade.
Vamos juntos voltar no tempo, e conhecer um pouco mais da nossa história.
|
Planta geral da Villa de Cosmópolis em 1913, feita pelo engenheiro e cartógrafo Germano Vert ,a pedido do governo do Estado de São Paulo. Você pode perceber, que as atuais Ruas Campos Salles, Antonio Carlos Nogueira e Sete de Setembro, possuíam outros nomes , renomeados no período da IIª Guerra Mundial, por ordem do Regime Vargas |
A pequena
Vila de Cosmópolis, no incio do século
20, não possuía uma grande edificação católica, apenas pequenas capelas espalhadas nas regiões dos bairros rurais do
Coqueiro, Nova Campinas, Pinheirinho, Serra Velha, Itapavussú, e outros bairros bem distantes da Vila, que surgia próxima a estação da
Cia Funilense (fundada em 1898).
Nas regiões dos bairros
Nova Campinas, Pinheirinho, Serra Velha e demais povoados daquela região, um pároco de
Limeira, visitava os fiéis à cada 2 meses. Nas regiões do
Coqueiro, Itapavussú, Saltinho, e na
Vila de Cosmópolis, um pároco de
Campinas, fazia as visitas mensalmente, celebrando missas nas proximidades das ruas
Ramos de Azevedo e
João Aranha.
Neste ponto, existia uma pequena capelinha, edificada muito antes da chegada da
Cia Funilense, onde eram feitas orações pelos moradores católicos. Na vinda do padre, celebrações de missas e confissões dos fiéis, não sendo realizados batismos, devido a normas da Igreja.
Nesta época, inicio do
século 20, o território de
Cosmópolis, possuía o dobro do tamanho territorial atual. A área pertencentes ao distrito de
Cosmópolis, então comarca de
Campinas, iniciavam nas terras de
São José (
atual cidade de Paulínia ) e terminavam na
Vila de Arthur Nogueira (
atual cidade de Artur Nogueira). Entre as principais demarcações nogueirenses, a atual
Avenida 15 de Novembro,nas proximidades do cemitério, e a Rua Floriano Peixoto.
Também faziam parte do território de
Cosmópolis, uma grande extensão de terras hoje pertencentes as cidades de
Americana e
Limeira. Na emancipação politica e administrativa de
Cosmópolis, em
1944, perdemos grande parte deste território.
Acordos políticos e comerciais, regimentavam a divisão das terras, recriando o território da nova cidade de
Cosmópolis. No antigo território, período Fazenda do Funil e compra das terras pela família Nogueira, já existiam também, diversas comunidades religiosas protestantes, como as comunidades
Luteranas do
Serra Velha (1868) e
Núcleo Campos Salles (1896), na região do Núcleo Campos Salles, surgiam as comunidades
Presbiterianas e
Batistas, como a primeira Igreja Evangélica da Confissão Luterana, oficialmente construída próximo a Escola Alemã.
Faltava, a construção de uma grande edificação Católica, foi então que os fiéis reuniram-se e construíram uma capela, edificada na região onde seria anos depois, construída a Igreja de
Santa Gertrudes.
A capela, criada modestamente pela comunidade, foi edificada de madeira, sendo dedicada ao
Senhor Bom Jesus. Com o aumento do número de fiéis, a visita do Padre tornou-se semanal à capelinha, que começou a ser administrada pela
Paroquia de Santa Cruz, de
Campinas.
|
Major Arthur Nogueira, um dos fundadores da Igreja Matriz de Santa Gertrudes. |
A pequena capela, somente tornou-se igreja,depois da intercessão da
família Nogueira, proprietária das terras onde foi erguida a pequena edificação. Era oficializada junto a Arquidiocese Católica de Campinas, a construção de uma nova igreja naquele ponto, sendo utilizada a capela para celebrações religiosas, no período da construção.
Em homenagem à progenitora da família, mãe dos
irmãos Nogueira, a senhora
Gertrudes Eufrosina de Almeida Nogueira, a edificação religiosa seria consagrada à
Santa Gertrudes.
A
família Nogueira, foi a precursora da pequena Vila , quando no final da década de
1890, comprou as terras das
Fazendas Funil, Três Barras e Bela Vista. Desta negociação, surgiu atraves de uma sociedade particular com apoio público, a
Companhia Carril Funilense, com sede na época no
Mercado Municipal de Campinas, e a
Companhia Agrícola Arthur Nogueira.
Em parceria com o governo do
Estado de São Paulo e o
governo federal, a
Cia. Arthur Nogueira, iniciou em 1895 em suas terras os núcleos do
Campos Salles e
Nova Campinas, e no inicio do
século 20 a
Villa de Cosmópolis.
Surgia próximo aos rios
Pirapitingui e Jaguari, a
Usina Ester, uma construção feita pelo famoso "Escritório de Engenharia e Arquitetura
Ramos de Azevedo", sobe a supervisão do renomado engenheiro
Dumontt Vilarelles, que na mesma época da construção da Usina, construía o Palacete Irmãos Nogueira (demolido em 2011), e atual Mercadão de Campinas (primeira sede da Funilense).
A construção da igreja, começou junto com a construção da
Usina Ester (inaugurada em
1905), a pedido do
Major Arthur Nogueira ao
escritório Ramos de Azevedo, então era construída uma igreja nos moldes da antiga
Basílica de Nossa Senhora do Carmo, considerada a mais antiga igreja de
Campinas (localizada
próxima ao INSS). A edificação seguiu o projeto arquitetônico da basílica, criando-se em proporções menores, uma igreja que lembrava o antigo templo, onde está sepultado o
fundador de Campinas,o bandeirante Barreto Leme.
A construção começava onde existia a pequena capelinha de madeira , nas obras eram empregados pessoas da vila e imigrantes, que chegavam junto com a
Cia Funilense,
Os tijolos eram fabricados pelos próprios construtores, o madeiramento mavrado de árvores derrubadas pelos colonos do
Núcleo Campos Salles, que derrubavam as árvores das matas virgens da região, para o cultivo agrícola nas terras. As árvores seguiam para a serraria da família Tetzner, localizada no Serra Velha.
No período de construção da igreja, aconteceram vários imprevistos que prolongaram as obras por quase
10 anos. Os imprevistos ,na maioria vindos da natureza, como grandes tempestades e até mesmo um ciclone, que assolou toda a região em
1912. O acontecimento climático, destruiu grande parte da Igreja, destelhando e derrubando paredes do
Palacete Irmãos Nogueira, ambos construídos pelo escritório
Ramos de Azevedo, que priorizou a edificação do Palacete, inaugurado em
1914.
|
29/11/1905..Inauguração oficial da Usina Ester, nesta foto os irmãos Nogueira donos da Usina Ester junto com autoridades da época , no centro da foto de terno branco e chapéu o engenheiro Dumontt Vilarelles arquiteto e membro do escritório de engenharia Ramos de Azevedo responsáveis pelo projeto da Usina |
|
|
Igreja Matriz de Santa Gertrudes, ao lado esquerdo, o antigo cruzeiro que na década de 40, foi transferido para o cemitério onde permaneceu até a década de 1960. Este registro, foi realizado no ano de inauguração da igreja ,em 1915. Erradamente foi datada tirada na década de 1950, algo impossível neste período, por já existirem casas na Rua Ramos de Azevedo, não vistas no registro fotográfico |
Depois de muitos esforços,as obras da igreja terminavam em
31 de Agosto de
1915, sendo oficializado com a doação das terras, registrada no cartório da Vila por
Arthur Nogueira e
Paulo de Almeida Nogueira, esposo de Esther Nogueira, filha de José Paulino e sobrinha do Major.
A inauguração oficial da igreja, seria realizada com uma missa no
Domingo, dia
17 de Setembro de 1915, celebrada pelo
Monsenhor Joaquim Mamede da Silva Leite.
O
Monsenhor, a pedido do
Arcebispo de
Campinas, Dom João Batista Corrêa Nery, chegou a Vila de Cosmópolis, dias antes da inauguração oficial da igreja, realizando um verdadeiro movimento de catolização.Fez
215 comunhões,
236 crismas, e
dois casamentos, criou o apostolado de oração, e as diretorias religiosas da igreja, o movimento foi destaque na imprensa campineira e também no noticiário da época
"A Camélia".
Tudo estava preparado para o esperado dia, espiritualmente com o movimento feito pelo
Monsenhor Mamede, e pela população da Vila, que aciosa aguardava o grande acontecimento, enfeitando ruas com bandeirinhas e flores, em homenagem a Santa Gertrudes.
|
Dom João Batista Corrêa Nery e Monsenhor Joaquim Mamede da Silva Leite. |
Às 8h00 do Domingo,
dia 17 de Setembro de 1915, era realizada a inauguração oficial da
Igreja Matriz de Santa Gertrudes. A missa celebrada pelo
Monsenhor Joaquim Mamede, recebia a presença de todas as autoridades religiosas da cidade,
Luteranos, Batistas e Presbiterianos, a Igreja estava cheia, a quantia de pessoas vindas de todo a Villa de
Cosmópolis e bairros pertencentes ao distrito, era tamanha, que a capacidade de
100 pessoas sentadas dentro da igreja, foi rapidamente ocupada. Ficando uma grande parte dos fieis, na pequena Praça do largo da igreja.
No fim da celebração, o momento histórico foi registrado pela foto que abre a nossa matéria, com a presença dos fundadores da
Igreja de Santa Gertrudes, a
Família Nogueira.
Destacando neste registro, ao centro da foto o
Major Arthur Nogueira, rodeado dos irmãos (eram 8 vivos na época da inauguração), entre eles
José Paulino Nogueira,
Paulo de Almeida Nogueira e sua esposa
Ester Nogueira e os filhos
Paulo de Almeida Nogueira Filho e
José Paulino Nogueira, entre outras autoridades da época.
A celebração na praça, era animada pela
Corporação Musical da Usina Esther, autoridades e demais membros do apostolado da igreja, seguiram em um grande almoço restrito no
Palacete irmãos Nogueira na
Usina Ester, onde continuaram as comemorações aos convidados, até o fim da noite do dia
17 de Setembro de 1915.
CONTINUA EM OUTRAS POSTAGENS....
A demolição da Igreja de Santa Gertrudes e construção da atual Matriz.
Onde realmente seria feita a nova Matriz, a projeto da Igreja Matriz seguindo o modelo de uma igreja de Limeira...
A igreja que marcou a história da cidade e de muitos moradores, foi demolida no fim da década de 19
50. Contrariando uma parte da população, e principalmente à família Nogueira, que mesmo doando uma nova área para a construção da nova matriz, a
arquidiocese de Campinas, responsavel pelos comandos da Matriz e acompanhando as vontades dos dirigentes locais, preferiu na demolição.
O local da construção da Matriz, seria na atual
Praça Kennedy (Praça do Rodrigo), por este motivo a Rua
Santa Gertrudes segue até a Praça. A região foi até mesmo loteada pela
Usina Ester, aos trabalhadores da empresa, mas mesmo assim, a pároco preferiu a demolição.
Da antiga Igreja de
Santa Gertrudes, restam ainda os pisos que seguem até o altar da atual Matriz, e as imagens de
Santa Gertrudes e demais Santos, patrimônios da comunidade.
Em homenagem ao seu construtor
Ramos de Azevedo, foi nomeada a rua dos fundos da igreja, isso em
1910, antes do término da construção da Igreja. A rua Ramos de Azevedo, cruzava toda a cidade na época, e demarcava o inicio do
Núcleo Campos Salles e o final da cidade, nas margens da represa do
Rio Pirapitingui.
Texto e fotos Adriano da Rocha