quarta-feira, 31 de julho de 2019

MARCO DE DIVISAS E VIDAS


 Rio Jaguari das águas, afluentes e divisas municipais. Um dos maiores rios do Brasil, responsável pelo abastecimento de inúmeras cidades da região, e marco territorial das mesmas.
Em destaque, as águas do Jaguari demarcam o começo e fim de municípios, nas margens esquerdas é Paulínia, nas margens direitas Cosmópolis.
📸 Foto Miler Haggen

quinta-feira, 25 de julho de 2019

"DIA DE SÃO CRISTOVÃO''

#Tbt AINDA ONTEM..
Dia 25 de julho de 1931 - Há exatos 88 anos em Cosmópolis!!!

  Cosmópolis amanhecia aos sons do campanário da Matriz, propagando as celebrações religiosas em louvor à São Cristovão, o “Padroeiro dos Motoristas”. Na tradição Católica Paulista, o Santo protetor daqueles que exercem seus trabalhos com o auxílio de conduções, sejam por trações mecânicas ou animais.

As celebrações ao Santo, consagrado por transportar doentes pelas águas, salvando o Menino Jesus, estavam entre as mais importantes do calendário Católico cosmopolense. As celebrações eram realizadas sempre nas manhãs do dia 25 de julho, reunindo centenas de fiéis e trabalhadores dos transportes.
Houve períodos, como nos anos 1920, construção da primeira Igreja Católica de Artur Nogueira, que reuniam-se fiéis das duas “villas”, com gigantescas procissões pelas estradas. Sendo o ponto principal de encontro e bênçãos de São Cristovão, o Largo da Igreja Matriz de Santa Gertrudes.

OLHAR NA FOTO1931 - O Largo da Igreja Matriz de Santa Gertrudes, então conhecido como “Praça Isabelita Vieira”, ficava repleto de carros, carroças, carroções, charretes, troles, cavaleiros e até bicicleteiros.
Pelas atuais ruas Campinas e Campos Salles, chegavam mais conduções, carros de bois, enormes carritelas e carroções, vindos da Fazenda Usina Ester, Nova Campinas, Serra Velha e Pinheirinho, e demais bairros rurais e núcleos.
A frota inteira da Usina Ester participava das celebrações, eram dezenas das mais variadas conduções agrícolas, como a maioria dos veículos automotivos existentes em Cosmópolis.

Seus condutores aguardavam nas escadarias da Igreja, acompanhados de uma multidão de fiéis. Seguindo as tradições do dia em Cosmópolis, a missa era campal, realizada nas escadarias da velha Igreja Matriz, projetada por Ramos de Azevedo.


Na madrugada do dia 25 de julho, um grupo de fiéis saia em buscas por uma típica flor laranja, nascida nos locais mais surpreendentes, semeada pelos ventos.

Era a icônica flor de São Cristovão, florzinha de um intenso tom laranja, típica na maioria das terras brasileiras, encontrada em meio aos matos, beiras de calçadas e muros, a mais popular das flores dos campos e cidades.

As pequenas flores, muitas vezes menosprezadas por serem consideradas mato e erva daninha, ornamentavam os pés de São Cristovão. O Intenso laranja das florezinhas, destacava-se entre rosas, lírios e outras flores mais nobres e ornamentais.

Ao término das celebrações litúrgicas da missa, seguia a procissão dos condutores e seus veículos pelas ruas de Cosmópolis. Saindo da atual Rua Campos Salles, a procissão seguia pela Avenida Ester até a Rua João Aranha, para as bênçãos da Estação.

Na frente da procissão, um caminhão da Usina Ester, um “Fordinho 1929 bigode”, levava em um andor todo enfeito na carroceira, a imagem de São Cristovão. Acompanhava o Padre e autoridades religiosas, seguidos das corporações musicais.

Uniam-se as corporações musicais, como a tradicional “Corporação Musical de Cosmópolis” e a “Corporação Musical dos Sorocabanos”, regidas pelos mestres Antônio Tavano e Ataliba de Carvalho, interpretando marchas em louvor á São Cristovão.

As corporações cosmopolenses com suas origens militares, seguiam uma tradição dos tempos do império, nas honrarias musicais em louvor ao santo, consagrado como um dos protetores do exército.

Uma tradição dos tempos da “Carril Agrícola Funilense”, era preservada pelos maquinistas e funcionários da "Companhia Sorocabana". Várias torras e pedações de madeira, usadas pelos foguistas nas fornalhas que movimentavam os trens, eram abençoadas na missa. Uma parte simbólica do madeiramento era trazido por carroções, ficando expostos nas laterais da Igreja.


No roteiro da procissão de São Cristovão, um dos pontos principais era a estação de trens, localizada na atual "Praça dos Estudantes", popular "Praça do Relógio do Sol". O Pároco realizava a benção da estação e das madeiras a serem utilizadas pelos trens.

Nesta data, até mesmo os trens seguiam e chegavam em horários especiais em todo o Estado. Na maioria das cidades paulistas, as estações e suas locomotivas recebiam as bençãos de São Cristovão.

A procissão voltava para a Igreja Matriz de Santa Gertrudes, seguindo pela Campos Salles, ondem eram realizadas as bênçãos aos condutores e suas conduções. Quarteirões de conduções, ruas de terras marcadas pelas marcas das rodas.

Cada condutor recebia uma pequena flor de São Cristovão, as mesmas que ornamentavam o andor. A florzinha laranja, era guardada com carinho e devoção, como uma proteção divina. A interseção de São Cristovão junto ao Menino Jesus, nos caminhos da vida.

“São Cristóvão, protegei-me e ajudai-me nas minhas idas e vindas a saber viver com alegria, agora e sempre”.
Amém!
Texto e foto Adriano da Rocha

terça-feira, 16 de julho de 2019

ECLIPSE LUNAR

Um verdadeiro encontro celestial 🌞🌝🌒

Eclipse lunar nos céus cosmopolenses, encontro do sol com a lua. O encontro mais aguardado do dia, em todo o mundo. Registro captado às 19h20, pelas lentes do fotógrafo Anastácio Filho.

domingo, 14 de julho de 2019

245 DE HISTÓRIAS- NOSSA CAMPINAS COSMOPOLENSE

Marco do surgimento de cidades, símbolo maior do progresso Paulista, a “Princesinha do Oeste”, com poderes e valores de "Rainha'' no mundo. Berço de celebres nomes, terra de imortais da história nacional e internacional, cidade das andorinhas, amigos, e das nossas raízes cosmopolenses.
1929 - Mapa do Município de Campinas, destacando suas "Villas" e distritos, como Cosmópolis, Americana, Santa Barbara, Rocinha (atual Vinhedo), Rebouças (Sumaré ), Souzas, entre outras.


Neste domingo, dia 14 de julho, são celebrados os 245 anos de Campinas. Data que marca o aniversário da cidade, sua oficialização como "Villa", e também, os desbravamentos das terras que originariam Cosmópolis.

As atuais cidades de Campinas e Cosmópolis, estão interligadas desde o início de suas histórias. Cosmópolis, nasceu de Campinas, sendo distrito campineiro até sua emancipação política e administrativa, em 30 de novembro de 1944.

O progresso da “Vila Cosmópolis”, exaltavam o distrito como a “Nova Campinas”, sendo o berço de uma das suas mais pungentes industriais, a Usina Ester. A alusão de “Nova Campinas”, surgia antes do progresso industrial, em 1890, com a primeira epidemia de febre amarela.

A epidemia que dizimava vidas na cidade, projetada nas terras cosmopolenses uma “Nova Campinas”, livre da misteriosa doença. Até, surgir o primeiro caso de febre amarela nas novas terras, cancelando o projeto. Ainda não sabia-se que o mosquito, era o principal transmissor da doença.
1929 - Mapa do Município de Campinas, destacando suas "Villas" e distritos, como Cosmópolis, Arthur Nogueira, José Paulino (atual Paulínia )Americana, Santa Barbara, Rocinha (atual Sumaré), Souzas, entre outras.

Nossas histórias se cruzam incontáveis vezes, sendo impossível contar a história de Cosmópolis, sem mencionar, citando a importância de Campinas. Celebres políticos campineiros, prefeitos interinos de Campinas, possuíam terras em Cosmópolis, sendo responsáveis pela criação urbana e industrial cosmopolense.
Em destaque, os prefeitos João Batista de Barros Aranha, Orozimbo Maia, Antônio Campos Salles, Antônio Álvares Lobo, Heitor Teixeira Penteado, proprietários de terras cosmopolenses e responsáveis pela administração da Villa, e criação de projetos urbanos e rurais.
Na sequência, uma seleção de curiosidades e registros, que interligam as histórias de Cosmópolis e Campinas. Como dizia nas suas audições o campineiro Cesar Ladeira, famoso pioneiro do rádio, "Campinas, a cidade mãe de cidades".

NASCEMOS, SURGIMOS, JUNTOS COM CAMPINAS
Cosmópolis surgiu dos desbravamentos do “Pasto do Fundão”, região mais distante do território campineiro. Os primeiros desbravamentos, abertura de “picadas” nas matas, passagem de batelões (embarcação fluvial paulista indígena, um gigantesco barco criado usado apenas um grande tronco de árvore) pelos rios Jaguari, Pirapitingui e Três Barras (Baguá), são do fim do século 16. As passagens e aberturas nas matas, foram nomeadas de "Trilhas dos Goiases", caminhos de acesso aos atuais estados de Goiás e Minas Gerais.

Os desbravamentos aconteciam na busca pelo ouro e esmeraldas, na passagem dos Anhangueras, velho e novo, e das bandeiras de Fernão de Camargo e Barreto Leme, fundadores de Campinas. O nascimento de Cosmópolis, como povoação, surgia com a criação de Campinas, por volta do ano de 1772.

COLONIZADA POR CAMPINEIROS
01- Manuel Ferraz de Campos Salles/ 02- Orozimbo Maia / 03- Major Arthur Nogueira Ferraz/ 04- Gertrudes Eufrosina Nogueira Ferraz / 05 - José Paulino Nogueira Ferraz / 06 - Heitor Penteado

Cosmópolis não foi colonizada por imigrantes germânicos, suíços e alemães, como erroneamente é mencionado. A criação dos núcleos coloniais, aconteceriam somente no fim do século 18. Os germânicos foram os pioneiros nos núcleos, somente na primeira fase dos loteamentos. Em 1900, a maioria dos lotes coloniais e urbanos, eram de imigrantes italianos, representando mais de 70% da população cosmopolense.

A verdadeira colonização das terras cosmopolenses, criação das primeiras fazendas e povoações, foi feita por campineiros no fim do século 17. Eram bandeirantes do "Planalto de Piratininga" (atual cidade de São Paulo) e seus descendentes, na sua maioria caboclos, mistura dos índios com os europeus (portugueses e espanhóis).

Os primeiros colonizadores das terras cosmopolenses, responsáveis pelo desbravamento das matas e introdução da agricultura (cana de açúcar e café), foram as famílias campineiras Almeida Barboza e Ferraz. Os Almeida Barboza, destacando o Padre João Manuel de Almeida Barboza, fundou a Fazenda do Funil nos idos de 1800, terras que originariam Cosmópolis.

PIONEIROS DE CAMPINAS, OS COLONIZADORES DE COSMÓPOLIS
O Padre Almeida Barboza, foi uma das figuras religiosas mais importantes de Campinas, assim como, pessoa extremamente controverso na sua vida particular, marcado pela severidade e relacionamentos amorosos com criadas.
Sem herdeiros, doou as terras ao filho de uma funcionária, seu afilhado, o campineiro João Manuel de Almeida Barboza.
Conhecido como um dos maiores capitalistas do seu tempo, o jovem herdeiro do Padre, é considerado filho do religioso.

Os Ferraz, são responsáveis pela colonização e desbravamento não somente de Cosmópolis, mas de grande parte de todo o Oeste Paulista. Os Ferraz campineiros mais conhecidos, são os Nogueira Ferraz, destacando os irmãos José Paulino e Major Arthur, fundadores da Usina Esther, e o político e capitalista, Manuel Ferraz de Campos Salles.

FAMÍLIA DE CAMPOS SALLES É “COSMOPOLENSE”
Segundo Jolumá Brito, renomado historiador campineiro, os pais do famoso presidente e governador de São Paulo, Camposa Salles, nasceram nas atuais terras cosmopolenses. Em relatos de amigos dos Ferraz de Campos Salles, primos dos Almeida Nogueira, Campos Salles passou parte da infância nas terras cosmopolenses.

Nas pesquisas do historiador, realizadas nos anos de 1940, a família Ferraz de Campos Salles, possuía uma grande fazenda na região. O local exato da propriedade, seria nas terras que originariam o “Núcleo Colonial Campos Salles”, recebendo este nome em sua homenagem.

O Núcleo Campos Salles, é considerado o primeiro projeto republicado de colonização de terras, povoado por imigrantes suíços e alemães. As terras cosmopolenses da família Ferraz, milhares de alqueires, tinham início nas margens do Ribeirão Três Barras, cruzando Artur Nogueira, Holambra, Engenheiro Coelho e Conchal, terminando em Mogi Mirim.

Com os casamentos, falecimentos de membros, as terras foram repassadas aos novos herdeiros, sendo loteadas em empreendimentos particulares, e em parceria com o Estado, como aconteceu nos núcleos coloniais Camposa Salles, Santo Antonio e Nova Campinas.

Entre os novos herdeiros das terras, campineiros como Fernando Arens Júnior, Major Arthur Nogueira Ferraz e irmãos, e os Oliveiras Pinto, conhecida família Frade.

IGREJA MATRIZ DE SANTA GERTRUDES
01- Ramos de Azevedo / 02- Inauguração da Igreja Matriz de Santa Gertrudes, Igreja Velha. Em destaque na foto, importantes figuras da sociedade campineira, como os políticos Orozimbo Maia, Heitor Penteado, João Aranha, Francisco Glicério, e ao centro, Major Arthur Nogueira e familiares.
03- Igreja Velha, primeira Igreja Matriz de Santa Gertrudes.
04- Igreja de São Benedito em Campinas 

A “igreja velha”, primeira Matriz de Santa Gertrudes, tem seu projeto inspirado nos templos campineiros da Basílica Nossa Senhora do Carmo, seguindo sua base arquitetônica, e a Igreja de São Benedito. O responsável pelo projeto cosmopolense, foi o celebre arquiteto Ramos de Azevedo, uma homenagem do campineiro Major Arthur, a matriarca da família, Gertrudes Eufrosina Bicudo Nogueira Ferraz.

Figura de destaque da sociedade paulista e campineira, carinhosamente conhecida como “Tudinha Nogueira”, uma das mulheres mais ricas do Oeste Paulista.

Para homenagear as raízes religiosas da família, a “Igreja Velha de Santa Gertrudes” era inspirada na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, onde surgiu a cidade de Campinas e nasceu a maioria dos Nogueira Ferraz, como a homenageada.

Porém, toda a estruturação, adornos e simbologia religiosa, da “Igreja velha de Santa Gertrudes”, seguia o mesmo padrão arquitetônico da Igreja de São Benedito, histórico templo religioso criado por escravos de Campinas.

A Igreja de São Benedito, construída em 1835 por escravos da Fazenda Saltinho e região, na sua restruturação no fim dos anos 1880, o projeto era feito por Ramos de Azevedo. A "Igreja velha de Santa Gertrudes", possuía os ornamentos, colunas, janelas e vitrais, semelhantes da Igreja de São Benedito. Confeccionados com as mesmas formas de moldes cimentícios, ferragens e portas, usados na Igreja São Beneditos, adaptados ao templo cosmopolense, em Campinas.

A inspiração na Basílica do Carmo, era realizada na área interna e externa, altar e revestimentos das paredes.

Intempéries climáticas, fortes tempestades e até um ciclone que devastou a região, impediram que as obras seguissem fielmente ao projeto original, diminuindo o tamanho da igreja. Neste ciclone, acontecido nos anos 1900, os ventos derrubaram paredes e a torre da Matriz.

No mesmo período da construção da “Igreja velha”, o escritório de Ramos de Azevedo era responsável pelos projetos e obras, do complexo industrial da Usina Ester, Palacete Irmão Nogueira (Sobrado), e o armazém de distribuição da Carril Agrícola Funilense, em Campinas.

Construção que anos depois seria incorporada ao patrimônio municipal, tornando o popular “Mercadão”, um dos maiores símbolos de Campinas. Todas as obras, eram supervisionadas em Campinas e Cosmópolis, por Dumont Villares, sobrinho do inventor Santos Dumont.

RUA CAMPINAS: “ESTRADA DOS TROPEIROS”
01- Inauguração do monumento em homenagem ao Major Arthur Nogueira. Na foto, ao lado do monumento, está o prefeito Orozimbo Maia, rodeado de políticos campineiros e família Nogueira / 02- Inauguração da Praça Major Arthur Nogueira, com a presença do prefeito de Campinas, Celso da Silveira Rezende, junto com sua comitiva.

03- 1908- Estação Sorocabana, antiga Funilense, destacando a curva de acesso à Usina Ester, demarcando o fim da Rua Campinas na Baronesa Geraldo de Rezende.

04- Inauguração da Usina Ester, com a presença de inúmeras autoridades políticas campineiras. Em destaque, Francisco Glicerio, Orozimbo Maia, Dumont Villares, Heito Penteado, João Aranha, Sidrack Nogueira Ferraz, Coronel Silava Telles, entre outros.

05- 1890- Cachoeira do Funil, região do Poção, estão na foto o Barão Geraldo de Rezende, José Paulino Nogueira Ferraz, Bento Quirino, Arthur Nogueira, Coronel João Manuel de Almeida Barbosa, proprietário da Fazenda Funil, entre outros.

A Rua Campinas, até o loteamento urbano de Cosmópolis em 1900, era uma estrada que ligava a Fazenda do Funil à Campinas. Com o surgimento da Villa Cosmópolis, o fim da Rua Campinas, atual rua Baronesa Geraldo de Rezende, era a divisa urbana com as terras da Fazenda Usina Ester.
Inicialmente, a Rua Campinas era uma junção com a atual João Aranha, uma abertura nas matas, criada pelos primeiros desbravadores no século 17.

Neste período, a Rua Campinas terminava nas proximidades da atual "Praça do Coreto", sendo a região usada como pouso de tropeiros e viajantes. Outro caminho neste mesmo ponto, chamado de “Barroquinha”, devido a situações de barrancos e morros dos terrenos, era o principal acesso para outras cidades.

O pouso, um local de descanso, antes de seguir para Limeira e Piracicaba, surgiria nos anos 1890, a "Estação da Carril Funilense", que delimitava o fim da Rua Campinas na Baronesa Geraldo de Rezende. A delimitação acontecia pelo cruzamento dos trilhos, que faziam a “curva”, paras as terras da Fazenda Usina Ester e "Vila de Arthur Nogueira".

Cosmópolis, sempre campineira de coração!!
Campinas na história da cidade de Cosmópolis. Campinas, sempre presente, com muito orgulho e satisfação, nas histórias pessoais e familiares, de milhares de cosmopolenses.
PARABÉNS Campinas, saudações e felicitações dos “campineiros de Cosmópolis”!!!


Texto Adriano da Rocha
Fotos Acervo Grupo Filhos da Terra

terça-feira, 9 de julho de 2019

"REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA EM COSMÓPOLIS"


Muitos desconhecem o motivo do feriado, estabelecido há 10 anos no Estado, a grande maioria na verdade, nunca aprendeu sobre sua história nas escolas públicas
Cartões postais da Revolução de 1932 e condecorações de soldados paulistas. Objetos originais de época, pertencentes ao patrimônio de memorabilidade Paulista do Acervo Cosmopolense

  Em 2019, são relembrados os 87 anos da “Revolução Constitucionalista de 1932”, movimento popular que exigia a elaboração de uma nova constituição nacional, e a redemocratização do governo, então comandado pelo ditador Getúlio Vargas. Não foi um movimento separatista, como erroneamente foi divulgado pelo regime Vargas, mas sim, pela liberdade e direitos de todo o povo brasileiro.

Foi a maior revolução popular armada, unindo classes sociais e partidos, da história brasileira. Único notório levante nacional contra um ditador e seu regime, instituído por golpe militar, em 1930. São algumas das respeitáveis marcas da “Revolução Constitucionalista de 1932”, celebrada sua memória neste feriado estadual de 9 de julho.

Mapa da Revolução , obra de José Wash Rodrigues. Destaque no brasão dos pavilhões para Campinas , ao lado de Santos e São Paulo, como principais bases do movimento constitucionalista

Nos quase seis meses de conflitos, uma verdadeira guerra entre brasileiros, somariam mais de 2 mil mortos. Cessando somente, devido ao esgotamento das tropas paulistas, atenuadas pela escassez de munições e condições de saúde dos soldados. São Paulo combateu sozinho, devido a desistência dos estados como Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso, a "guerra paulista pela constituição" foi encerrada em 2 de outubro de 1932, com a rendição do exército paulista. Um acordo realizado com Getúlio Vargas, garantindo as vidas dos soldados e retaliações ao Estado.

Uma data com extraordinária importância histórica, responsável pela garantia de vários direitos na criação da nova constituição em 1934. Nesta constituição, foram instituídos o voto feminino e igualdade de direitos entre homens e mulheres, criação da carteira profissional e direitos trabalhistas, obrigatoriedade e gratuidade do ensino, sendo o ensino religioso facultativo, respeitando a crença do aluno; proibição do trabalho e exploração infantil; princípio da igualdade perante a lei, entre inúmeras garantias, pleiteadas pelo movimento constitucionalista.

Relembrando a importância de Cosmópolis na Revolução de 1932, resgatamos histórias do movimento constitucionalista nas terras cosmopolenses. No período, a “Villa Cosmópolis”, então um dos distritos pertencentes ao território do município de Campinas.

TRINCHEIRAS E CRIANÇAS 
1982/ Região onde existiam as trincheiras no Morro Castanho. Em destaque funcionários da prefeitura de Cosmópolis, limpando os terrenos para o processo de ampliação da atual vicinal prefeito Oswaldo Heitor Nallin, acesso à Limeira e Artur Nogueira

A região das atuais praças "Major Arthur Nogueira" e "Estudantes", popular "Coreto" e "Praça do Relógio do Sol", foram protegidas por trincheiras nas ruas Baronesa Geraldo de Rezende e Campinas. A razão, era a Estação de trens da Sorocabana, e os desvios das linhas de acesso à Campinas, então localizados naquele ponto. As trincheiras protegiam os acessos férreos de uma possível invasão “Getulista”, e garantiam a proteção da população.

Em pontos estratégicos, foram criadas grandes trincheiras e bases de monitoramento, como no “Morro Castanho” (acesso para Limeira, Americana e Piracicaba), “Morro Amarelo” (acesso para Campinas, principal base dos comandos), e Morro do Schwartz (região do Sucão, acesso para Artur Nogueira, Mogi Mirim e sul de Minas).

2016/ Morro Amarelo, região conhecida como "Caminho da Onça", onde foram criadas as trincheiras para proteção dos acessos por Campinas

Um fato interessante, eram os soldados que faziam as vigias, crianças como os meninos Poério Tavano, Custódio da Rocha, Manuel da Rocha, Hugo Taboga, entre outros saudosos cosmopolenses.

Sem munições, as armas e balas foram doadas pela população aos soldados, os meninos passavam os dias afiando facões e lâminas de baionetas, as quais eram entregues as tropas.

Caso houvesse os avanços Getúlistas, avistadas nestes pontos, os meninos avisavam os comandos das tropas paulistas, localizado no Palacete Irmãos Nogueira, popular Sobrado da Usina Ester.

Para amedrontar as tropas Getúlistas, os meninos eram munidos de matracas, um instrumento confeccionado de madeira, o qual emitia um som semelhante aos disparos de metralhadoras. As matracas cosmopolenses, segundo Poério, eram fabricadas pelo mestre Antônio Tavano, marceneiro e maestro da Corporação Musical.

FÁBRICA DE PÓLVORA E MUNIÇÕES
2016/ Morro Amarelo, região conhecida como "Caminho da Onça", onde foram criadas as trincheiras para proteção dos acessos por Campinas
 
Um dos grupos de inteligência das tropas paulistas, seguindo um projeto de Paulo Nogueira Filho (Paulito), analisava fabricar pólvora e munições na Usina Ester. As munições seriam confeccionadas nos maquinários do complexo industrial, utilizado como uma fundição, e próximo ao Rio Jaguari, a fabricação da pólvora.

A localização, os mais de 40 quilômetros de trilhos que passavam pelas terras da Fazenda Usina Ester e Cosmópolis, facilitariam o transporte e envio de munições para as grandes bases do movimento, principalmente as tropas paulistas nas divisas com Minas Gerais.

A notícia do bombardeio de uma fábrica de pólvora em Lorena, alarmava os proprietários da Usina Ester. Os bombardeiros realizados pelos “vermelhinhos de Getúlio”, apelido paulista aos aviões da força aérea comandada pelo ditador, deixaram vários feridos e mortos na cidade, e uma gigantesca cratera gerada pela explosão dos estoques de pólvora da fábrica.

Temendo um bombardeiro, e sobretudo, prezando pelas vidas dos moradores das colônias, centenas de casas existiam próximas da Usina, Paulo de Almeida Nogueira proibiu a continuidade do projeto.

Os testes aconteciam na região do “Poção”, próximo da antiga ponte férrea sobre o rio Jaguari, neste ponto, os soldados fabricavam o carvão vegetal, utilizado como princípio da pólvora negra. As experiências na fabricação de pólvora naquele ponto, apelidaram as margens da extinta ponte como “Queima chão”.

SEDE DOS COMANDOS E INTELIGÊNCIA
2011/ Palacete Irmãos Nogueira, popular Sobrado, momentos antes da sua demolição. Em destaque, na parte superior, o mirante do Major, área reservada para monitoramento pelas tropas paulistas

O extinto Palacete Irmãos Nogueira, popular Sobrado da Usina Ester, foi utilizado como base de chefias na Revolução. Altas patentes militares, chefes de inteligência e estratégica militar, criaram uma central de comandos e supervisão da região.

Construído nos anos de 1900, junto com a velha Igreja Matriz de Santa Gertrudes e o Mercadão de Campinas, a edificação foi projetada pelo renomado arquiteto Ramos de Azevedo, sendo as obras supervisionadas pelo jovem Dumont Villares, sobrinho do celebre inventor Santos Dumont.

O Sobrado foi edificado em local estratégico na Fazenda Usina Ester, atendendo as exigências do Major Arthur Nogueira Ferraz, estabelecido em um ponto onde os irmãos poderiam visualizar todas as terras e empreendimentos da família.

Na parte superior do Sobrado, inspirado em uma edificação suíça, era possível ver toda região através de um cômodo especialmente projetado por Ramos de Azevedo.

Neste ponto do Sobrado, conhecido como mirante do Major, visualizava-se as cidades de Campinas, Americana, Limeira, e as “villas” de Arthur Nogueira, José Paulino (atual Paulínia), e toda Cosmópolis.
2011/ Palacete Irmãos Nogueira, popular Sobrado, momentos antes da sua demolição. Área interna do mirante do Major, reservada para monitoramento pelas tropas paulistas. Neste espaço, com múltiplas janelas, os comandantes podiam observar toda região


Outra razão importante na escolha do Sobrado, era a privilegiada visão das linhas férreas que “cortavam” a região, assim como os horizontes mineiros, sendo crucial para os comandos no caso de possíveis invasões das tropas Getúlistas.

Mais um quesito importante, eram os sistemas de eletricidade, telefones e telégrafos do Sobrado. Assim como todo o complexo industrial da Usina, o Sobrado possuía distribuição de energia elétrica gerada na própria fazenda, através da hidroelétrica do Paredão.
Sendo impossível os cortes no fornecimento, derrubada de postes por tropas inimigas, devido ao sistema de distribuição transmitido por cabos subterrâneos.

2011/ Palacete Irmãos Nogueira, popular Sobrado, momentos antes da sua demolição. Em destaque, um dos acessos as janelas com visão para aérea norte 


PONTOS DE ARRECADAÇÃO DE OURO E PRATA
Para financiar os custos com alimentos, uniformes, e principalmente materiais de guerra, como capacetes, armas e munições, o Movimento Constitucionalista criou a campanha “Ouro para o bem de São Paulo”.

A população doava os objetos de ouro e prata em determinados pontos, criados e comandados pelas tropas constitucionalistas, recebendo como prova e gratidão ao apoio, um diploma de reconhecimento. Os casais que doavam joias como alianças de casamento e noivado, recebiam uma aliança de ferro, com a marca do movimento.

Em Cosmópolis, a campanha era organizada pelo casal Paulo de Almeida Nogueira e Esther Coutinho Nogueira, proprietários da Usina Ester. Os pontos de coleta eram o Sobrado e a Estação da Sorocabana.

Devido a idoneidade e respeito da família Nogueira, todas as classes sociais da região participaram. Nas centrais de doações, criadas pelos Nogueiras, também eram realizados as confecções de uniformes e reformas, entrega de alimentos e suplementos, cuidados médicos, e bases postais para comunicação com as famílias e comandos.

Esther Nogueira, doou todos os objetos de ouro e prata da Usina, sendo dela a frase: “Meu bem mais precioso não será ouro e prata, mas a doação dos meus filhos ao estado de São Paulo”.

José Paulino Nogueira Netto e Paulo de Almeida Nogueira Filho, estiveram entre os principais líderes do movimento, sendo Paulo Filho, o Paulito, um dos mais atuantes da Revolução.

Paulito, esteve à frente dos financiamentos das tropas, sendo responsável pelas articulações em todos os setores. São de sua autoria importantes livros e publicações sobre o período, em sua gestão como deputado, foi um dos idealizadores da oficialização de monumentos e referências estaduais em memória aos combatentes.

Na Argentina, foi em viagem secreta para as compras de munições, buscando o apoio de Agustín Pedro Justo Rolón, então presidente da Argentina. Traído pelo governo argentino, o qual temia as retaliações de Getúlio Vargas, Paulito e seu grupo foram detidos. Impossibilitando as tropas paulistas do recebimento dos armamentos e ajuda dos compatriotas argentinos.

No contrário, a Revolução poderia ter outros rumos, quem sabe até, conseguindo seu principal objetivo, a nova constituição no vigente ano ....
Continua...

Texto Adriano da Rocha
Fotos Acervo Grupo Filhos da Terra, João Paulo Pexe , Eduardo Ketelhuth