"PATRIMÔNIO AMBIENTAL"
Texto Adriano da Rocha
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Área superior da Gruta, antigo acesso feito pelas Colônias / Foto Adriano da Rocha |
O progresso canavieiro impediu o avanço imobiliário das terras, cultivando há 120 anos, uma barreira de isolamento e “preservação”. Escondida, sobre uma imensidão de canaviais e pequenas reservas de matas, a “Gruta do Carrapicho” está entre os mais surpreendentes “patrimônios ambientais cosmopolenses”.
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Saída para as cachoeiras e quedas d'água / Foto Adriano da Rocha |
Estivemos neste sábado (24), percorrendo carreadores, antigas estradas canavieiras, pontes ferroviárias abandonadas, abrindo “picadas” nas matas, e realizando travessias pelas águas, caminhando por extraordinários quinze quilômetros, redescobrindo a “Gruta Carrapicho”.
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Canaviais formados na região da extinta Colônia Carrapicho / Foto Ruy S. Pedroso |
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Vista privilegiada de Cosmópolis, em destaque a região central e bairros Bela Vista. Ao fundo, parte do polo petroquímico da Petrobras, em Paulínia / Foto Ruy S. Pedroso |
ETERNIZANDO OLHARES NA FOTOGRAFIA
Localizada na Fazenda Usina Ester, o acesso é mediante uma autorização da empresa, sendo restrito somente, a coragem e determinação de chegada até a Gruta. Desbravaram, estes caminhos desconhecidos por muitos, 30 destemidos aventureiros, responsáveis pela seleção dos memoráveis registros fotográficos.
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Encontro de raízes e água, mata de acesso a Gruta Carrapicho / Foto Adriano da Rocha |
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Cerca de 200 litros de lixo foram retirados da Gruta e regiões de acesso. Um dos participantes da caminhada, voluntariamente há 28 anos realiza à limpeza da Gruta. Principal material recolhido são garrafas plásticas e maços de cigarro / Foto Eliana Bernacchi |
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Uma das várias aberturas formadas entre as rochas. Passagem realizada com extremo cuidado e atenção nas "pisadas" / Foto Eliana Bernacchi
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A cada foto, novos olhares desta singular região, diferentes pontos e percepções da lendária Gruta Carrapicho. Uma extensão gigantesca de rochas sedimentares e pedras, com pontos superiores à 10 metros de altura, nascentes e vertentes de rios, um complexo natural sem igual na região.
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Região dos quintais das casas da extinta Colônia Carrapicho, área é utilizada para plantação de sorgo vassoura / Foto Ruy S. Pedroso |
COMPLEXO NATURAL EM CONSTANTE FORMAÇÃO
Obras da natureza, em constante formação estrutural e mutação silvestre, edificada por séculos de chuvas e enchentes nos rios.
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Depois de horas de caminhada, a primeira visão da Gruta. Registro feito no antigo acesso aberto pelo Major Arthur Nogueira, nos idos de 1910 / Foto Adriano da Rocha |
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Interior do complexo de pedras, rochas e argila/ Foto Adriano da Rocha |
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Caminho para as quedas d'água e Ponte Funda, antiga linha férrea da Carril Agrícola Funilense / Foto Adriano da Rocha |
A passagem das águas, responsável pela erosão do solo argiloso, gerou enormes aberturas nas pedras, “dilacerando” o chão nos caminhos.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Eliana Bernacchi |
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Foto Carlinhos Bandola |
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Foto Carlinhos Bandola |
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Entre as pedras, contemplando a obra da natureza, a fotografa Jéssica Giovanonni / Foto Ruy S. Pedroso |
Com as enchentes ocasionadas pelas chuvas, surgem incontáveis cachoeiras entre as fendas rochosas, formando na vazão das águas, impressionantes quedas d’água.
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Quedas d'água formando pequenas cachoeiras / Foto Miler Adamo |
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Foto Carlinhos Bandola |
Quanto maior a intensidade das chuvas, trazendo a vazão das bacias dos rios Jaguari, Pirapitingui, Atibaia e Piracicaba, maior o fluxo de águas na Gruta. Aumentando as vazantes, surgem caudalosas cachoeiras nas enchentes, e “fios” d’água, nos períodos de estiagem.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Juliana Lara |
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Um das várias quedas d'água da Gruta Carrapicho / Foto Ivonei Sala |
BARREIRA TÉRMICA REFRESCANTE
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Foto Ruy S. Pedroso |
No chão, repleto de pedras trazidas pelas correntezas dos rios, brotam nascentes no solo arenoso, as populares bicas d’água. O constante movimento das águas, o complexo rochoso e matas, criam uma verdadeira barreira térmica na Gruta.
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Adriano da Rocha |
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Pedras trazidas pelas enchentes dos rios da região / Foto Adriano da Rocha |
Enquanto a temperatura atingia 32ºc graus (12h00), na área de acesso próximo aos canaviais, na região da Gruta os termômetros marcavam refrescantes 20ºc graus. Nas vertentes entre as rochas, a passagem das águas no solo e paredes, diminui significativamente a temperatura, embaçando lentes de óculos e câmeras.
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Foto Ruy S. Pedroso |
As rochas e pedras, transformam-se em filtros no percurso das águas, cristalizando as vertentes, e deixando a água fria.
UMA VERDADEIRA COLÔNIA DA NATUREZA
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Foto Adriano da Rocha |
Sobre as pedras e paredes da Gruta, os musgos formam seus ninhos, criando verdadeiras colônias das mais infindas tonalidades de verde. Samambaias, orquídeas silvestres, helicônias, e centenas de classes de myrtaceaes e rubiaceae, encantam com suas floradas, incrustadas nas pedras e troncos das árvores.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Eliana Bernacchi |
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Eliana Bernacchi |
Criadouros e ninhos, de inúmeras espécies de seres vivos; insetos como formigas, borboletas e aranhas, aos pequenos sapos e rãs. Verdadeiros banquetes das aves, como os macucos, paturis, tesourinhas, corruíras, rolinhas “fogo apago”, sábias pardos, anus, “quero quero”, ao “assombrosa” urutau, a lendária “mãe da lua”.
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Foto Miler Adamo |
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Foto Ruy S. Pedroso |
A Secretaria de Meio Ambiente do Estado, através do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), realizou nos últimos anos, a soltura de inúmeras aves nas matas ciliares da Usina Ester, Americana e Limeira, atraindo inúmeras espécies para a região da Gruta.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Adriano da Rocha |
Buscando alimento nas matas, sonoramente ouvimos tucanuçus, popular tucano toco, encontramos rastros de saruês (nome paulista de gambas), lobo guarás (vinagre como eram conhecidos pelos colonos), e pesadas pegadas das temidas onças pardas.
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Foto Adriano da Rocha |
A inconstância das águas, mudança nos períodos de enchentes e estiagens, assim como a profundidade baixa das vertentes e o constante movimento, impossibilitam a criação de peixes na Gruta.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Adriano da Rocha |
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Orquídeas silvestres / Foto Ivonei Sala |
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Ruy S. Pedroso |
TRINAR DO TRINCA FERRO
O mais emocionante, foi ouvir novamente, o canto livre do “trinca ferro”. No passado, ave símbolos das matas cosmopolenses, praticamente extinta nas décadas de 1960 e 1970, devido ao uso de agrotóxicos nas lavouras de cana, laranja e algodão.
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(Foto ilustrativa) Trinca-ferro paulista, registrado por observadora da natureza / Foto: Aline Patricia Horikawa |
As revoadas das aves sobre as plantações, sobretudo nos dias de pulverização, extinguiram os trinca ferros de Cosmópolis, assim como a maioria das cidades paulista, principalmente nas localidades com grande influência agrícola.
Nos anos de 1980, as constantes mortes das aves, ocasionou na proibição de vários agrotóxicos e sistemas de pulverização de defensivos.
O “trinca ferro cachoeirinha”, nome cosmopolense desta espécie, voltam as matas através das solturas realizadas pelo CRAS. As aves soltas, são registradas pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), possuindo controle de localização e registro através de anilhas.
A captura e comercialização, é fiscalizada pelas autoridades policiais cosmopolenses, sendo crime inafiançável, com detenção e multas.
MUDANÇA DE CAMINHOS E TRILHAS
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Foto Adriano da Rocha |
Os acessos são vários e complexos, possíveis somente através de trilhas nas matas, sendo necessário, a presença de pessoas que conheçam a região, os famosos mateiros. A cada safra de cana de açúcar, chuvas e estiagens, entre intempéries climáticas e queimadas, os caminhos para a Gruta são recriados pela natureza.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Adriano da Rocha |
Enchentes cunham verdadeiras crateras nas trilhas, enormes buracos cobertos de folhagens e troncos caídos, necessitando extremo cuidado e prevenção na caminhada. Com as chuvas, o crescimento dos matagais é inevitável, encobrindo antigos caminhos e recriando rotas.
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Foto Eliana Bernacchi |
A cada mês, um novo cenário é criado pela natureza, os pontos de localização desaparecem no surgimento de paisagens diferentes. Na mudança de estação, início, meio e fim de safras, tudo é transformado, mudando os mesmos percursos de meses passados.
FASCÍNIO DOS AVENTUREIROS
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Foto Carlinhos Bandola |
Neste redescobrimento da Gruta, encontramos canaviais em formação no trajeto, assim como muita terra tombada, em preparo com vinhaça, para o plantio da cana.
Os contrastes na paisagem, entre imensidões de canaviais e quilômetros de terra tombada, traziam novas rotas aos mateiros.
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Ponte Funda, construída nos primórdios da Carril Agrícola Funilense / Foto Eliana Bernacchi |
Adentrando em florestas de bambuzais e eucaliptos, remanescentes da “Bepa” e Doutor Bonifácio, furnas perdidas dos tempos do Major Arthur Nogueira, percursos dos trenzinhos da Carril Funilense, a trilhas novas criadas recentemente por grupos de “bicicleteiros”.
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Ponte Funda, encoberta pela matas que cobrem suas centenárias estruturas / Foto Miler Adamo |
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Última reforma foi realizada em 1979 / foto Eliana Bernacchi |
As dificuldades específicas de cada trilha, a curiosidade em conhecer e rever a Gruta, causam o fascínio dos desbravadores, atraindo aventureiros da região.A chegada na Gruta depois de horas de caminhada, a emoção em estar naquele local, é indescritível. O encontro das luzes, buscando passagem nas matas e paredões, traz uma luminosidade surpreendente, um dos maiores atrações deste recanto.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Eneias Eneias Barrionuevo |
O reflexo das luzes nas águas, cria diferentes tons de verde ao iluminar o musgo das pedras; sendo disperso nas nuances de cores das formações rochosa dos paredões; resultando em um extraordinário encontro de luzes, como fossem, potentes refletores elétricos, iluminando todas as belezas da Gruta.
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Foto Ruy S. Pedroso |
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Foto Eneias Eneias Barrionuevo |
MARCAS DA IGNORÂNCIA
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Foto Adriano da Rocha |
Neste refletir as belezas da Gruta, as luzes trazem à mostra o reflexo da ignorância e desrespeito ao meio ambiente. Um vergonhoso “costume”, audaciosa tradição de vândalos nos seus caminhos de destruição, marcar com “pichações” sua passagem na Gruta.
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Adriano da Rocha |
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Foto Adriano da Rocha |
Usando tintas químicas das mais diversas, nomes de pessoas, juras de amor, símbolos, grupos de bike e até alusões ao tráfico, são registradas indevidamente nas paredes.
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Foto Adriano da Rocha |
As ásperas e porosas paredes, absorvem o vandalismo perpetuamente, sendo encontrados incontáveis registros dos anos de 1980, 1990, e dezenas de novas pichações. Muitas marcações de 2018, recentemente pichadas, nos meses de janeiro, fevereiro e início do mês de março.
Continua em futuras postagens...
NOVAS CAMINHADAS
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Foto Eneias Eneias Barrionuevo |
Devido as várias mensagens e pedidos, estamos organizando novas redescobertas na Gruta Carrapicho. A caminhada será mensal, realizada com previa divulgação de data, local de saída e trajeto à ser percorrido. Novos pontos entrarão na rota de “redescobertas municipais”, como o Morro Amarelo, Caminho da Onça, Morro do Shurts, Saltinho, trilhas da Funilense, entre inúmeros “recantos cosmopolenses”. A.G.U.A.R.D.E.M
Agradecimentos
Usina Ester, Carlinhos Bandola e seus mateiros, Polícia Municipal (Capitão Falcão e Jorge do Trânsito), Fotoclube Foto in Foco, e todos os destemidos participantes da caminhada.
Especialmente aos socorristas da Ambulância Municipal, pela rapidez no atendimento a um dos participantes da caminhada. Fora o susto pela intoxicação alimentar, misturada às horas de exaustivo percurso, nosso amigo está muito bem, pronto novamente para outras redescobertas cosmopolenses.