sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

TRADIÇÃO PAULISTA ESQUECIDA

DIA DE REIS 


    As romãs já estão granadas, mais redondas que barriga de gordo depois da ceia na casa da mamãe. Da fruta reluz um tom único, o vermelho romã, vindos das suas cascas medicinais (abençoado remédio para as inflamações de garganta), contrastando com a intensa cor laranja da sua florada, nascendo em cada flor uma pequena coroa, na qual surgem os novos frutos.
Frutinha de um gosto inconfundível, um azedinho único, que na sabedoria do velho caipira paulista traz sorte e espanta os "már infortúnio" da vida. Nesta mesma sabedoria, relembro uma tradição bem paulista das romãs, antigamente muito praticada nas festividades do fim do ano e, principalmente no dia 6 de janeiro.

   A tradição começa no dia do natal, enfeitando a mesa com romãs, porém, elas não devem ser abertas. Somente no dia 6 de janeiro, dia consagrado aos Reis Magos, as romãs são abertas.
Na manhã do Dia de Reis, a primeira refeição devem ser as frutinhas de uma romã, separando seis carocinhos, que são guardadas durante todo o ano novo, dentro da carteira; sempre envoltas de um papel com os nomes dos três Reis Santos: Gaspar, Baltazar e Belchior.

  Um poderoso “patuá”, que segundo o costume e a fé do caipira paulista, traz prosperidade e saúde, simbolizando os presentes dados pelos reis magos ao Menino Jesus.

Segundo a lenda, a romã era o único alimento que existia na manjedoura, encontrada por São José em uma árvore que sombreava o local. Os Reis magos vindos do Oriente para ver o Menino Jesus, receberam da Sagrada Família partes das frutas na ceia da noite de Natal.

 Por Deus a fruta foi consagrada, representando na fartura e união dos seus pequenos frutinhos e, na coroa que enaltece a romã, que um rei somente é rei através da união de seu povo. A romã não amadurece fora do pé e, por mais que tentem forçar o “madurá”, os frutos não prestam, “arroxeando”.

 Este “madurá” por vontade de Deus, representa que um rei mesmo com a união do povo, somente será Rei e, realizará um bom governo , se Deus assim permitir e, seu reinado abençoar...



Foto Pé de romã germinado de uma antiga romanzeira do Vila Mariana (Vila Nova). Tradição que entre "germinadas", perdura a quase 100 anos, sendo o primeiro pé pertencente a Dona Izabel Lange Woord. A romanzeira está plantada na sede do Acervo Cosmopolense na Rua Monte Castelo.

domingo, 1 de janeiro de 2017

AINDA ONTEM...

  01/01/1945... “Ainda ontem”, há exatos 72 anos
  Fixado nos postes de madeira da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), nas paredes das casas comerciais, o cartaz anunciava as solenidades e festividades de instalação do novo município paulista, a cidade de Cosmópolis.
Durante todo o mês de dezembro o convite impresso pela renomada “Tipografia Paulino” de Campinas, era distribuído nas missas da Igreja Matriz de Santa Gertrudes, cultos da Igreja Evangélica da Confissão Luterana, colônias da Fazenda Esther, sessões do Cine Theatro Avenida; e entregue pessoalmente pelo chefe da estação aos passageiros que faziam baldeações e embarques na plataforma de trens da Estação da Companhia Sorocabana.

Alvorada matutina em festa 
01/01/1945- Cosmopolenses acompanhando as festividades de instalação do município na Praça do Coreto

A *janeira cosmopolense (nome paulista para o início do ano), amanhecia ao som da Corporação Musical na Praça Major Arthur Nogueira, o popular Jardim do Coreto. Todo o espaço estava enfeitado por bandeirolas, distribuídas por cordões fixados nas árvores e postes. A arte foi feita por alunos do Grupo Escolar de Cosmópolis (futura escola do Rodrigo), com auxílio dos professores. O material, papel de variadas cores e barbantes, foi adquirido com a ajuda do comércio.
Uma bateria de rojões com 21 tiros, estourava nos céus, anunciando o início das festividades para toda a cidade. Na estação desembarcavam autoridades da região, como também representantes do Estado e do governo militar. Carros de praça com chofer da capital, traziam deputados e chefes do governo Vargas.

Ditador homenageado 
01/01/1945- Antiga subprefeitura de Cosmópolis, em destaque a faixa em homenagem ao ditador Getúlio Vargas

Na frente da antiga subprefeitura, foi fixado na Rua Campos Salles um arco de madeira, revestido com flores e ornamentos naturais, prendendo em seu topo uma faixa de agradecimento a Getúlio Vargas. O ditador em novembro de 1944, aceitou o decreto lei que estabelecia a criação do município, emancipando política e administrativamente Cosmópolis de Campinas em 30 de novembro do distinto ano.
Missa campal
01/01/1945- Missa campal no largo da Matriz de Santa Gertrudes

A Igreja de Santa Gertrudes, projetada pelo celebre Escritório de Engenharia e Arquitetura Ramos de Azevedo, tornava-se pequena para abrigar a multidão de convidados. Por este motivo o Padre Germano Padro, pároco da comunidade Católica, celebrou uma missa campal nas escadarias da igreja.

Instalação do município 
As 15h, Dr. Moacir e Achiles Avancine assinavam a instalação do município de Cosmópolis, oficializando perante o estado o território como cidade, assumindo os comandos administrativos e políticos. Em decorrência do regime militar do ditador Getúlio Vargas, no período de 1930 até 1945, não existiam os cargos de vereador, assim como não existiam eleições para cargos de prefeito e governador.


Baile, churrasco e chopp Columbia
1945- Um dos produtos de destaque da consagrada Cervejaria Columbia em Campinas

O salão social do Cosmopolitano Futebol Clube, localizado na Rua Baronesa Geraldo de Rezende, foi cedido pela diretoria para as festividades musicais do baile do município.
No tradicional salão alviverde (alusão ao piso hidráulico com as cores do clube), a sonoridade dançante foi feita por Jazz Bands locais, com encerramento dos consagrados musicistas de Limeira, Zé Canoeiro, Lagoa e Vaninho, o famoso Trio Canoeiro. Na Rua Sete de Setembro, eram assados carnes diversas, sendo distribuído o churrasco acompanhado de muito chopp Columbia, produzido em Campinas.

Dois olhares do antigo salão social do Cosmopolitano Futebol Clube, localizado na Rua Baronesa Geraldo de Rezende. Foto Bruna Genaro


Texto datilografado por Adriano da Rocha, redigido com base em depoimentos feitos ao Acervo Cosmopolense e inserções noticiosas do histórico dia, impressas tipograficamente no semanário local “O Apito”, e no jornal campineiro “Correio Popular”. Fotos acervo Adriano da Rocha.


...