domingo, 25 de março de 2018

DESBRAVANDO A “GRUTA CARRAPICHO”

"PATRIMÔNIO AMBIENTAL"
Texto Adriano da Rocha

Área superior da Gruta, antigo acesso feito pelas Colônias / Foto Adriano da Rocha 
  O progresso canavieiro impediu o avanço imobiliário das terras, cultivando há 120 anos, uma barreira de isolamento e “preservação”. Escondida, sobre uma imensidão de canaviais e pequenas reservas de matas, a “Gruta do Carrapicho” está entre os mais surpreendentes “patrimônios ambientais cosmopolenses”.

Saída para as cachoeiras e quedas d'água / Foto Adriano da Rocha

Estivemos neste sábado (24), percorrendo carreadores, antigas estradas canavieiras, pontes ferroviárias abandonadas, abrindo “picadas” nas matas, e realizando travessias pelas águas, caminhando por extraordinários quinze quilômetros, redescobrindo a “Gruta Carrapicho”.

Canaviais formados na região da extinta Colônia Carrapicho / Foto Ruy S. Pedroso 
Vista privilegiada de Cosmópolis, em destaque a região central e bairros Bela Vista. Ao fundo, parte do polo petroquímico da Petrobras, em Paulínia / Foto Ruy S. Pedroso
ETERNIZANDO OLHARES NA FOTOGRAFIA 

Localizada na Fazenda Usina Ester, o acesso é mediante uma autorização da empresa, sendo restrito somente, a coragem e determinação de chegada até a Gruta. Desbravaram, estes caminhos desconhecidos por muitos, 30 destemidos aventureiros, responsáveis pela seleção dos memoráveis registros fotográficos.

Encontro de raízes e água, mata de acesso a Gruta Carrapicho / Foto Adriano da Rocha

Cerca de 200 litros de lixo foram retirados da Gruta e regiões de acesso.  Um dos participantes da caminhada,  voluntariamente há 28 anos realiza   à limpeza da Gruta. Principal material recolhido são garrafas plásticas e maços de cigarro / Foto Eliana Bernacchi

Uma das várias aberturas formadas entre as rochas. Passagem realizada com extremo cuidado e atenção nas "pisadas" / Foto Eliana Bernacchi

A cada foto, novos olhares desta singular região, diferentes pontos e percepções da lendária Gruta Carrapicho. Uma extensão gigantesca de rochas sedimentares e pedras, com pontos superiores à 10 metros de altura, nascentes e vertentes de rios, um complexo natural sem igual na região.

Região dos quintais das casas da extinta Colônia Carrapicho,  área é utilizada para plantação de sorgo vassoura / Foto Ruy S. Pedroso 


COMPLEXO NATURAL EM CONSTANTE FORMAÇÃO
Obras da natureza, em constante formação estrutural e mutação silvestre, edificada por séculos de chuvas e enchentes nos rios.

Depois de horas de caminhada, a primeira visão da Gruta. Registro feito no antigo acesso aberto pelo Major Arthur Nogueira, nos idos de 1910 / Foto Adriano da Rocha

Interior do complexo de pedras, rochas e argila/ Foto Adriano da Rocha

Caminho para as quedas d'água e Ponte Funda, antiga linha férrea da Carril Agrícola Funilense / Foto Adriano da Rocha

A passagem das águas, responsável pela erosão do solo argiloso, gerou enormes aberturas nas pedras, “dilacerando” o chão nos caminhos.

Foto Adriano da Rocha

Foto Adriano da Rocha
Foto Eliana Bernacchi

Foto Carlinhos Bandola

Foto Carlinhos Bandola

Entre as pedras, contemplando a obra da natureza, a fotografa Jéssica Giovanonni / Foto Ruy S. Pedroso


Com as enchentes ocasionadas pelas chuvas, surgem incontáveis cachoeiras entre as fendas rochosas, formando na vazão das águas, impressionantes quedas d’água.

Quedas d'água formando pequenas cachoeiras / Foto  Miler Adamo

Foto Carlinhos Bandola



Quanto maior a intensidade das chuvas, trazendo a vazão das bacias dos rios Jaguari, Pirapitingui, Atibaia e Piracicaba, maior o fluxo de águas na Gruta. Aumentando as vazantes, surgem caudalosas cachoeiras nas enchentes, e “fios” d’água, nos períodos de estiagem.

Foto Adriano da Rocha

Foto Ruy S. Pedroso

Foto Ruy S. Pedroso
Foto Juliana Lara

Um das várias quedas d'água da Gruta Carrapicho / Foto Ivonei Sala

BARREIRA TÉRMICA REFRESCANTE
Foto Ruy S. Pedroso
No chão, repleto de pedras trazidas pelas correntezas dos rios, brotam nascentes no solo arenoso, as populares bicas d’água. O constante movimento das águas, o complexo rochoso e matas, criam uma verdadeira barreira térmica na Gruta.
Foto Ruy S. Pedroso
Foto Ruy S. Pedroso

Foto Adriano da Rocha

Pedras trazidas pelas enchentes dos rios da região / Foto Adriano da Rocha


Enquanto a temperatura atingia 32ºc graus (12h00), na área de acesso próximo aos canaviais, na região da Gruta os termômetros marcavam refrescantes 20ºc graus. Nas vertentes entre as rochas, a passagem das águas no solo e paredes, diminui significativamente a temperatura, embaçando lentes de óculos e câmeras.
Foto Ruy S. Pedroso

As rochas e pedras, transformam-se em filtros no percurso das águas, cristalizando as vertentes, e deixando a água fria.

UMA VERDADEIRA COLÔNIA DA NATUREZA
Foto Adriano da Rocha


Sobre as pedras e paredes da Gruta, os musgos formam seus ninhos, criando verdadeiras colônias das mais infindas tonalidades de verde. Samambaias, orquídeas silvestres, helicônias, e centenas de classes de myrtaceaes e rubiaceae, encantam com suas floradas, incrustadas nas pedras e troncos das árvores.

Foto Adriano da Rocha


Foto Eliana Bernacchi

Foto Adriano da Rocha

Foto Ruy S. Pedroso
Foto Eliana Bernacchi



Criadouros e ninhos, de inúmeras espécies de seres vivos; insetos como formigas, borboletas e aranhas, aos pequenos sapos e rãs. Verdadeiros banquetes das aves, como os macucos, paturis, tesourinhas, corruíras, rolinhas “fogo apago”, sábias pardos, anus, “quero quero”, ao “assombrosa” urutau, a lendária “mãe da lua”.

Foto Miler Adamo

Foto Ruy S. Pedroso


A Secretaria de Meio Ambiente do Estado, através do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), realizou nos últimos anos, a soltura de inúmeras aves nas matas ciliares da Usina Ester, Americana e Limeira, atraindo inúmeras espécies para a região da Gruta.

Foto Adriano da Rocha

Foto Adriano da Rocha

Buscando alimento nas matas, sonoramente ouvimos tucanuçus, popular tucano toco, encontramos rastros de saruês (nome paulista de gambas), lobo guarás (vinagre como eram conhecidos pelos colonos), e pesadas pegadas das temidas onças pardas.
Foto Adriano da Rocha

A inconstância das águas, mudança nos períodos de enchentes e estiagens, assim como a profundidade baixa das vertentes e o constante movimento, impossibilitam a criação de peixes na Gruta.
Foto Adriano da Rocha

Foto Adriano da Rocha

Orquídeas silvestres / Foto Ivonei Sala
Foto Adriano da Rocha

Foto Ruy S. Pedroso

Foto Ruy S. Pedroso

Foto Adriano da Rocha

Foto Ruy S. Pedroso

Foto Ruy S. Pedroso

TRINAR DO TRINCA FERRO
O mais emocionante, foi ouvir novamente, o canto livre do “trinca ferro”. No passado, ave símbolos das matas cosmopolenses, praticamente extinta nas décadas de 1960 e 1970, devido ao uso de agrotóxicos nas lavouras de cana, laranja e algodão.


(Foto ilustrativa) Trinca-ferro paulista,  registrado por observadora da natureza / Foto: Aline Patricia Horikawa

As revoadas das aves sobre as plantações, sobretudo nos dias de pulverização, extinguiram os trinca ferros de Cosmópolis, assim como a maioria das cidades paulista, principalmente nas localidades com grande influência agrícola.
Nos anos de 1980, as constantes mortes das aves, ocasionou na proibição de vários agrotóxicos e sistemas de pulverização de defensivos.

O “trinca ferro cachoeirinha”, nome cosmopolense desta espécie, voltam as matas através das solturas realizadas pelo CRAS. As aves soltas, são registradas pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), possuindo controle de localização e registro através de anilhas.

A captura e comercialização, é fiscalizada pelas autoridades policiais cosmopolenses, sendo crime inafiançável, com detenção e multas.

MUDANÇA DE CAMINHOS E TRILHAS
Foto Adriano da Rocha

Os acessos são vários e complexos, possíveis somente através de trilhas nas matas, sendo necessário, a presença de pessoas que conheçam a região, os famosos mateiros. A cada safra de cana de açúcar, chuvas e estiagens, entre intempéries climáticas e queimadas, os caminhos para a Gruta são recriados pela natureza.

Foto Adriano da Rocha


Foto Adriano da Rocha



Enchentes cunham verdadeiras crateras nas trilhas, enormes buracos cobertos de folhagens e troncos caídos, necessitando extremo cuidado e prevenção na caminhada. Com as chuvas, o crescimento dos matagais é inevitável, encobrindo antigos caminhos e recriando rotas.


Foto Eliana Bernacchi

A cada mês, um novo cenário é criado pela natureza, os pontos de localização desaparecem no surgimento de paisagens diferentes. Na mudança de estação, início, meio e fim de safras, tudo é transformado, mudando os mesmos percursos de meses passados.

FASCÍNIO DOS AVENTUREIROS
Foto Carlinhos Bandola

Neste redescobrimento da Gruta, encontramos canaviais em formação no trajeto, assim como muita terra tombada, em preparo com vinhaça, para o plantio da cana.
Os contrastes na paisagem, entre imensidões de canaviais e quilômetros de terra tombada, traziam novas rotas aos mateiros.
Ponte Funda, construída nos primórdios da Carril Agrícola Funilense / Foto Eliana Bernacchi

Adentrando em florestas de bambuzais e eucaliptos, remanescentes da “Bepa” e Doutor Bonifácio, furnas perdidas dos tempos do Major Arthur Nogueira, percursos dos trenzinhos da Carril Funilense, a trilhas novas criadas recentemente por grupos de “bicicleteiros”.
Ponte Funda, encoberta pela matas que cobrem suas centenárias estruturas / Foto Miler Adamo
Última reforma foi realizada em 1979 / foto Eliana Bernacchi

As dificuldades específicas de cada trilha, a curiosidade em conhecer e rever a Gruta, causam o fascínio dos desbravadores, atraindo aventureiros da região.A chegada na Gruta depois de horas de caminhada, a emoção em estar naquele local, é indescritível. O encontro das luzes, buscando passagem nas matas e paredões, traz uma luminosidade surpreendente, um dos maiores atrações deste recanto.
Foto Adriano da Rocha


Foto Eneias Eneias Barrionuevo 



O reflexo das luzes nas águas, cria diferentes tons de verde ao iluminar o musgo das pedras; sendo disperso nas nuances de cores das formações rochosa dos paredões; resultando em um extraordinário encontro de luzes, como fossem, potentes refletores elétricos, iluminando todas as belezas da Gruta.


Foto Ruy S. Pedroso

Foto Eneias Eneias Barrionuevo 

MARCAS DA IGNORÂNCIA 
Foto Adriano da Rocha

Neste refletir as belezas da Gruta, as luzes trazem à mostra o reflexo da ignorância e desrespeito ao meio ambiente. Um vergonhoso “costume”, audaciosa tradição de vândalos nos seus caminhos de destruição, marcar com “pichações” sua passagem na Gruta.
Foto Adriano da Rocha

Foto Adriano da Rocha

Foto Adriano da Rocha

Foto Adriano da Rocha

Usando tintas químicas das mais diversas, nomes de pessoas, juras de amor, símbolos, grupos de bike e até alusões ao tráfico, são registradas indevidamente nas paredes.
Foto Adriano da Rocha

As ásperas e porosas paredes, absorvem o vandalismo perpetuamente, sendo encontrados incontáveis registros dos anos de 1980, 1990, e dezenas de novas pichações. Muitas marcações de 2018, recentemente pichadas, nos meses de janeiro, fevereiro e início do mês de março.

Continua em futuras postagens...

NOVAS CAMINHADAS
Foto Eneias Eneias Barrionuevo 

Devido as várias mensagens e pedidos, estamos organizando novas redescobertas na Gruta Carrapicho. A caminhada será mensal, realizada com previa divulgação de data, local de saída e trajeto à ser percorrido. Novos pontos entrarão na rota de “redescobertas municipais”, como o Morro Amarelo, Caminho da Onça, Morro do Shurts, Saltinho, trilhas da Funilense, entre inúmeros “recantos cosmopolenses”. A.G.U.A.R.D.E.M

Fotos Miler AdamoRuy S. Pedroso (Fotoclube Foto in Foco), Jéssica Giovannoni, Juliana LaraCarlinhos Bandola Alexander CamposIvonei Sala, Eliana Bernacchi e Adriano da Rocha


Agradecimentos
Usina Ester, Carlinhos Bandola e seus mateiros, Polícia Municipal (Capitão Falcão e Jorge do Trânsito), Fotoclube Foto in Foco, e todos os destemidos participantes da caminhada.

Especialmente aos socorristas da Ambulância Municipal, pela rapidez no atendimento a um dos participantes da caminhada. Fora o susto pela intoxicação alimentar, misturada às horas de exaustivo percurso, nosso amigo está muito bem, pronto novamente para outras redescobertas cosmopolenses.


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