Uma referência, um ponto de destaque no antigo bairro da Sericultura,
a majestosa Paineira foi durante mais de um século testemunha do progresso de
Cosmópolis. Sua sombra no passado foi pouso de boiadeiros, seus galhos ninhos
de pássaros e dos macacos bugios que dominavam aquela região nos tempos do
Major Nogueira e do Coronel Aranha. Viu os carros de bois fazendo picadas nas
matas, Jacarandás, cambucis, cabriúvas, figueiras e perobas sendo cortadas,
árvores gigantescas tombando para serem trilhos para os trens da Cia Funilense,
e se manteve firme e vistosa marcando um caminho e um destino. Viu uma gente
nova chegando às terras que nascerá uma gente vermelha e trabalhadeira que
chegava ao novo mundo com o surgimento da Usina Ester, viu as matas a sua volta
se tornarem um imenso mar de canaviais e pé de amoras que suas folhas eram
alimento do bicho da seda, sericultura trazida pelo Major Levy Sobrinho que
daria o nome ao bairro onde nasceu, cresceu e hoje resistes à morte. Vistes o
progresso passar ao seu lado pelos trens da Funilense carregados de cana para
Usina, viu passar pela estrada de terra com barrancos de lado a lado, charretes,
carros de bois, carritelas, troles, viu jardineiras trazendo gente e levando
gente, viu o asfalto chegar e o progresso de verdade ficar no passado e um
falso progresso de beliches e dormitórios dominar a cidade. No outono sua
florada resplandecia todo o lugar, as painas como nuvens se espalhavam pela
Avenida Centenário e Rua Santa Gertrudes, o gramado a sua volta se cobria de
painas e quando a florada surgia, como
um manto de flores rosas e brancas o chão a sua volta se vestia. Velha paineira
que suas painas tantos colonos e vileiros usaram para fazer colchões e travesseiros
embalou sonhos e foi testemunha dos sonhos do primeiro amor, que na sua sombra
generosa foi recanto dos namorados nos tempos do grêmio estudantil, onde nas
suas raízes descobriam os significados da palavra amor e o primeiro beijo.
Ouvia o canto do João de barro fazendo sua casinha em seus galhos com o barro
das margens do límpido Rio Baguá, ouviu o cantar da sábia sendo contrastado ao
som dos apitos das várias tecelagens, anunciando a chegada e a partida das
centenas de funcionários. Hoje mais de um século resistes ainda, embora
considerada morta por aqueles que de maneira criminosa tentaram ceifar sua
vida, ainda resistes como a marca da incapacidade e irresponsabilidade do poder
nas mãos de um ignorante, de alguém sem preparo ou será sem coração? Paineira,
velha paineira, resistes como a cidade que te viu nascer, não perdes a
esperança de dias melhores e que erros não sejam mais acertos e aceitos como
desculpas. Paineira, velha paineira, resistes bravamente e quando um dia então morrer
será de pé, mostrando sua força e sua majestade aos seus algozes, e quem sabe
neste dia o progresso da Nova Campinas que vistes surgir, volte novamente na
Cosmópolis de hoje que igual a ti velha paineira luta, clama, e chora sem ser
ouvida...
Texto Adriano da Rocha.
Fotos Paineira ou o que sobrou de um dos marcos de
Cosmópolis, que em uma “poda” resultou a imagem da segunda foto.
...