quinta-feira, 13 de junho de 2013

FESTA DE SANTO ANTÔNIO

Texto e fotos Adriano da Rocha


O santo foi um dos primeiros padroeiros populares de Cosmópolis, escolhido pelo povo antes da oficialização de Santa Gertrudes em 1915 como padroeira. Nos tempos das fazendas, de Cosmópolis do Funil, Pinheirinho e Nova Campinas, o primeiro santo padroeiro foi o Bom Jesus da cana verde e o Santo Antonio . No passado a festa de Santo Antônio nos dias 12 e 13 de Junho, foi uma das maiores celebrações católicas de Cosmópolis, festa que reunia fiéis de toda a região no largo da Igreja de Santa Gertrudes para  a celebração religiosa e principalmente pelo pãezinhos de Santo Antônio que eram distribuídos em grande quantia neste dia aos solteiros na busca pelo amor. Nesta postagem um pouco da história desta celebração cosmopolense, “retalhos” de relatos que recolhi no início deste acervo  que nos fazem viajar na história junina de Santo Antônio em Cosmópolis até o final da década de 40.



13/06/1930...Tradicional celebração em louvor a Santo Antônio, onde a missa era sempre realizada ao ar livre pela grande quantia de devotos, celebração e bênção dos pães pelo Padre Victor Ronduá no largo da igreja de Santa Gertrudes.
 As comemorações ao Santo tão querido pelos católicos Paulistas começavam com a trezena de Santo Antônio que iniciava 13 dias antes do dia do Santo (13/06), com rezas e orações realizadas cada dia na casa de um devoto, os Antônios e Antônias como se dizia na época, no final das orações era servido os famosos anisetes, uma bebida típica nas celebrações Paulistas que era feita da mistura de água ardente a famosa pinga, água, açúcar e um colorante com essência, o calorífico. O anisete servido era colorido ao gosto de cada fiel com os caloríficos compradas nos boticários e pharmacias da vila, e cada cor tinha o seu sabor, vermelho (cereja), verde (menta), amarelo (abacaxi), e o mais apreciado o azul no sabor marcante de anis. Era uma espécie de kisuqui se lembra dele!! Coloria a bebida e dava um suave aroma, a bebida era servida somente em celebrações religiosas, e por esse motivo seu sabor era especial. Na véspera do dia de Santo Antônio dia 12 (dia dos namorados) ao terminar as orações e rezas, começava a festa em louvor ao santo que cortava a madrugada, e só terminava no dia seguinte. A fogueira era acessa, e a madrugada do dia 13 era movimentada, era a noite das simpatias e demais supertições, “sorteironas” e “sorteirões” rogavam ao popular “Santo casamenteiro” de todos os meios na busca de um amor. Bacias cheias de água na virada do dia 12 para o dia 13, buscavam a lua e refletir a imagem do amor perfeito, cada “sorteiro” tinha a sua simpatia preferida que ia de amarrar o santo de ponta cabeça durante treze dias e desamarrar na madrugada, a colocar o santo dentro das táias d’água ou dos antigos filtros da marca Fiel, e beber aquela água durante os treze dias. Mas triste mesmo nessa noite era para as coitadas das bananeiras, essas sim sofriam nesta época, amanheciam cheias de facas encravadas em seu tronco, a supertição dizia que no dia seguinte o caldo que escoria no corte formava a inicial do nome do amado ou amada. Quem não gostava muito eram os donos de bananeiras que amanheciam na espera dos "sorteirões" que vinham logo cedo para ver a inicial do nome do amor, e eram pegos com a faca na bananeira pelos donos do bananal.


 Também era a noite dos balões, nos céus de toda região nesta noite subiam milhares de balões, da Igreja de Santa Gertrudes se via ao longe os balões das colônias da Usina Ester, Nova Campinas, e das vizinhas Arthur Nogueira, Limeira e demais cidades. O céu recebia novas estrelas, coloridas e enfeitadas, eram os balões por todas as partes subindo iluminados ao céu com os pedidos feitos ao santo escritos em cartinhas amarradas ao balão. Nesta noite, se erguia o mastro com a imagem dos três santos (Santo Antônio, São João e São Pedro), e nas cidades Paulistas a tradição era o mastro com quatro santos, já que São Paulo o seu dia é dia 29 de Junho, o mesmo dia de São Pedro, sendo assim nas terras Paulista no dia 29/06 eram feitas duas festas, que enceravam as celebrações juninas. Era costume na nossa região de enfeitar o mastro dos santos com frutos da terra, e ao logo do mastro sobressaiam espetos feitos com galhos dos pés de café onde eram fincadas laranjas, sendo os galhos entrelaçados com algodão. Frutos da terra que representavam a economia agrícola da cidade e o agradecimento ao santo pela fartura nas colheitas. Na nossa região especialmente Cosmópolis, Artur Nogueira e Limeira, a quem diga que foi aonde surgiu essa tradição, já que no Brasil foi nesta região que a laranja era considerada o ouro Paulista no mundo.



 As danças típicas Paulistas como a cana verde, arrasta-pé, cateretê e demais ritmos dos tempos dos bandeirantes que antigamente eram executados por dois caboclos com suas violinhas de 12 cordas de caritê, já se misturavam com o som das harmônicas dos imigrantes italianos e espanhóis transformando e recriando nossa música e cultura. As comidas tradicionais Paulistas desta época como a pamonha, bolo de fubá, e os doces de cidra, laranja e abóbora, leitoas assadas e o franguinho “arichiado”, eram vendidos em leilões e arrematados por quem dava o maior lance e a renda era revertida para igreja. Na memória destaco nas quermesses cosmopolenses o leiloeiro Zuza Nallin, que marcou época fora da sua alfaiataria sendo um dos principais leiloeiros das festas da Igreja de Santa Gertrudes. Um simples bolo de fubá com erva doce ou uma grande leitoa, se tornavam itens disputados pelo povo, e a propagando do Zuza leiloeiro era no grito, seu palco uma caixa velha de bacalhau ou um engradado de madeira das cervejas da  Cia Antártica, e aos gritos e sempre bem humorado o povo reunia a sua volta e ele soltava o grito segurando as prendas que eram doadas ao leilão: "Quem dá mais pela broa da Geni, oiá que a broa da Geni é boa. Quem dá mais pelo porco do Mané? E oiá, oiá a galinha da Ditinha”..” O produto que muitas vezes em um dos armazéns da cidade era comprado por poucas moedas de réis, na disputada do leilão era arrematado com notas de barão, e o feliz comprador seguia contente com seu prêmio arrematado.

13/06 de 1933... Registro feito pelo photografo Guilherme Hasse da distribuição do pãozinho de Santo Antônio no largo da antiga Igreja de Santa Gertrudes.



 A manhã do dia 13 de Junho em Cosmópolis surgia com uma grande alvorada de fogos anunciando aos fiéis as celebrações em homenagem a Santo Antônio. A missa era sempre campal, feita ao ar livre no largo da Igreja de Santa Gertrudes. Na primeira foto da postagem você pode ver o Padre Victor Ronduá rodeado por fiéis na saída da procissão de Santo Antônio, acompanhando a frente da procissão os “anjinhos”, meninas que vestiam o traje de anjo feito com todo o carinho pelas mães, com auréolas e asinhas de arame revestidas de pano e flores, ou centenas de penas de galinhas imitando as assas dos guardiões angelicais.  O largo da igreja era todo enfeitado de bandeirinhas confeccionadas pelos alunos do “Grupo Escolar de Cosmópolis”, e com todo capricho a comunidade construía pequenas taperinhas para a serem usadas na noite da quermesse. Da escadaria da igreja o padre celebra pontualmente às 8h00 a missa em louvor a Santo Antônio, e seguia a celebração pelas ruas de Cosmópolis em uma grande procissão que descia a Rua Santa Gertrudes e seguia a Avenida Esther até a região da Biquinha, onde se contornava a região da Rua Otto Herbest e voltam os féis para igreja pela Rua Ramos de Azevedo, onde era feita a distribuição dos pães de Santo Antonio. Na supertição popular o pão de Santo Antonio dava uma ajudinha aos solteiros para encontrar o bem amado, e na linguagem popular desencalhar de vez. Mas não eram apenas as sorteironas e sorteirões que buscavam o pãozinho, segundo as crenças o pão trazia também a união do casal e a prosperidade da família, e também era costume se distribuir pequenos sacos do pão torrado e moído, que quando acrescentado o pó no preparo dos alimentos em casa a comida trazia fartura e saúde a toda família durante todo o ano. Inicialmente o pão de Santo Antonio em Cosmópolis era produzido pela comunidade nas casas dos féis, o formato tradicional dos pães é do tamanho de uma bisnaga e cada dona de casa fazia o seu cesto de pães para serem consagrados e distribuídos no dia 13, e segundo o costume somente as mulheres casadas podiam fazer os pães. Com o crescimento da Vila que aos poucos sonhava com sua emancipação de Campinas, surgiam várias padarias na Avenida Esther e no dia da celebração ao santo, cada padaria doava uma quantia de pães em promessa a Santo Antonio. Desta época destaco a “Padaria Santo Antonio” do famoso Otacílio padeiro, que doava milhares de pãezinhos para celebração. E mais tarde no final da década de 50 a padaria da família Toledo, e demais padarias da região central continuarão a tradição. Na época do registro fotográfico acima de 1933, o primeiro de terno preto segurando um pãozinho é  Otto Herbest  então subprefeito do distrito de Cosmópolis, alemão e luterano, a celebração de Santo Antônio  conseguia fazer essa união de religiões. E se tornava não apenas uma celebração católica  ao santo, mas na época a união de toda uma cidade, festando como se dizia,  unida em grande alegria feliz por viver aqui...

Continuação nas próximas semanas no dia de São João...


Acima o sucesso de 1958 "Trezena de Santo Antônio" grande sucesso da época interpretado por "Os Caciques' e as irmãs Dora e Antonieta do Duo Brasil Moreno, famoso Duo que esteve em Cosmópolis em diversas apresentações nas décadas de 40 e 50, se apresentando no Cine Teatro Avenida e em diversas companhias de circos.


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