Texto e fotos Adriano da Rocha
O santo foi um dos primeiros
padroeiros populares de Cosmópolis, escolhido pelo povo antes da
oficialização de Santa Gertrudes em 1915 como padroeira. Nos tempos das
fazendas, de Cosmópolis do Funil, Pinheirinho e Nova Campinas, o primeiro santo
padroeiro foi o Bom Jesus da cana verde e o Santo Antonio . No passado a festa de Santo Antônio nos dias 12 e 13
de Junho, foi uma das maiores celebrações católicas de Cosmópolis, festa que
reunia fiéis de toda a região no largo da Igreja de Santa Gertrudes para a celebração religiosa e principalmente pelo
pãezinhos de Santo Antônio que eram distribuídos em grande quantia neste dia
aos solteiros na busca pelo amor. Nesta postagem um pouco da história desta
celebração cosmopolense, “retalhos” de relatos que recolhi no início deste
acervo que nos fazem viajar na história
junina de Santo Antônio em Cosmópolis até o final da década de 40.
e orações realizadas cada dia na casa de um devoto, os
Antônios e Antônias como se dizia na época, no final das orações era servido os
famosos anisetes, uma bebida típica nas celebrações Paulistas que era feita da
mistura de água ardente a famosa pinga, água, açúcar e um colorante com essência,
o calorífico. O anisete servido era colorido ao gosto de cada fiel com os caloríficos
compradas nos boticários e pharmacias da vila, e cada cor tinha o seu sabor,
vermelho (cereja), verde (menta), amarelo (abacaxi), e o mais apreciado o azul
no sabor marcante de anis. Era uma espécie de kisuqui se lembra dele!! Coloria
a bebida e dava um suave aroma, a bebida era servida somente em celebrações
religiosas, e por esse motivo seu sabor era especial. Na véspera do dia de
Santo Antônio dia 12 (dia dos namorados) ao terminar as orações e rezas, começava
a festa em louvor ao santo que cortava a madrugada, e só terminava no dia
seguinte. A fogueira era acessa, e a madrugada do dia 13 era movimentada, era a
noite das simpatias e demais supertições, “sorteironas” e “sorteirões” rogavam
ao popular “Santo casamenteiro” de todos os meios na busca de um amor. Bacias
cheias de água na virada do dia 12 para o dia 13, buscavam a lua e refletir a imagem do amor perfeito,
cada “sorteiro” tinha a sua simpatia preferida que ia de amarrar o santo de ponta cabeça
durante treze dias e desamarrar na madrugada, a colocar o santo dentro das
táias d’água ou dos antigos filtros da marca Fiel, e beber aquela água durante
os treze dias. Mas triste mesmo nessa noite era para as coitadas das bananeiras,
essas sim sofriam nesta época, amanheciam cheias de facas encravadas em seu
tronco, a supertição dizia que no dia seguinte o caldo que escoria no corte
formava a inicial do nome do amado ou amada. Quem não gostava muito eram os donos
de bananeiras que amanheciam na espera dos "sorteirões" que vinham logo cedo para
ver a inicial do nome do amor, e eram pegos com a faca na bananeira pelos donos
do bananal.
Também era a noite dos balões, nos céus de toda região nesta noite
subiam milhares de balões, da Igreja de Santa Gertrudes se via ao longe os
balões das colônias da Usina Ester, Nova Campinas, e das vizinhas Arthur Nogueira,
Limeira e demais cidades. O céu recebia novas estrelas, coloridas e enfeitadas,
eram os balões por todas as partes subindo iluminados ao céu com os pedidos feitos
ao santo escritos em cartinhas amarradas ao balão. Nesta noite, se
erguia o mastro com a imagem dos três santos (Santo Antônio, São João e São Pedro),
e nas cidades Paulistas a tradição era o mastro com quatro santos, já que São
Paulo o seu dia é dia 29 de Junho, o mesmo dia de São Pedro, sendo assim nas
terras Paulista no dia 29/06 eram feitas duas festas, que enceravam as celebrações
juninas. Era costume na nossa região de enfeitar o mastro dos santos com frutos
da terra, e ao logo do mastro sobressaiam espetos feitos com galhos dos pés de
café onde eram fincadas laranjas, sendo os galhos entrelaçados com algodão. Frutos
da terra que representavam a economia agrícola da cidade e o agradecimento ao
santo pela fartura nas colheitas. Na nossa região especialmente Cosmópolis,
Artur Nogueira e Limeira, a quem diga que foi aonde surgiu essa tradição, já
que no Brasil foi nesta região que a laranja era considerada o ouro Paulista no
mundo.
As danças típicas Paulistas como
a cana verde, arrasta-pé, cateretê e demais ritmos dos tempos dos bandeirantes
que antigamente eram executados por dois caboclos com suas violinhas de 12
cordas de caritê, já se misturavam com o som das harmônicas dos imigrantes italianos
e espanhóis transformando e recriando nossa música e cultura. As comidas
tradicionais Paulistas desta época como a pamonha, bolo de fubá, e os doces de
cidra, laranja e abóbora, leitoas assadas e o franguinho “arichiado”, eram
vendidos em leilões e arrematados por quem dava o maior lance e a renda era
revertida para igreja. Na memória destaco nas quermesses cosmopolenses o
leiloeiro Zuza Nallin, que marcou época fora da sua alfaiataria sendo um dos principais
leiloeiros das festas da Igreja de Santa Gertrudes. Um simples bolo de fubá com
erva doce ou uma grande leitoa, se tornavam itens disputados pelo povo, e a
propagando do Zuza leiloeiro era no grito, seu palco uma caixa velha de
bacalhau ou um engradado de madeira das cervejas da Cia Antártica, e aos gritos e sempre bem
humorado o povo reunia a sua volta e ele soltava o grito segurando as prendas
que eram doadas ao leilão: "Quem dá mais pela broa da Geni, oiá que a broa da
Geni é boa. Quem dá mais pelo porco do Mané? E oiá, oiá a galinha da Ditinha”..”
O produto que muitas vezes em um dos armazéns da cidade era comprado por poucas
moedas de réis, na disputada do leilão era arrematado com notas de barão, e o
feliz comprador seguia contente com seu prêmio arrematado.
13/06 de 1933... Registro feito pelo photografo Guilherme Hasse da distribuição do pãozinho de Santo Antônio no largo da antiga Igreja de Santa Gertrudes. |
A manhã do dia 13 de Junho em
Cosmópolis surgia com uma grande alvorada de fogos anunciando aos fiéis as
celebrações em homenagem a Santo Antônio. A missa era sempre campal, feita ao
ar livre no largo da Igreja de Santa Gertrudes. Na primeira foto da postagem
você pode ver o Padre Victor Ronduá rodeado por fiéis na saída da procissão de
Santo Antônio, acompanhando a frente da procissão os “anjinhos”, meninas que
vestiam o traje de anjo feito com todo o carinho pelas mães, com auréolas e asinhas
de arame revestidas de pano e flores, ou centenas de penas de galinhas imitando
as assas dos guardiões angelicais. O largo
da igreja era todo enfeitado de bandeirinhas confeccionadas pelos alunos do “Grupo
Escolar de Cosmópolis”, e com todo capricho a comunidade construía pequenas
taperinhas para a serem usadas na noite da quermesse. Da escadaria da igreja o
padre celebra pontualmente às 8h00 a missa em louvor a Santo Antônio, e seguia
a celebração pelas ruas de Cosmópolis em uma grande procissão que descia a Rua
Santa Gertrudes e seguia a Avenida Esther até a região da Biquinha, onde se contornava
a região da Rua Otto Herbest e voltam os féis para igreja pela Rua Ramos de
Azevedo, onde era feita a distribuição dos pães de Santo Antonio. Na supertição
popular o pão de Santo Antonio dava uma ajudinha aos solteiros para encontrar o
bem amado, e na linguagem popular desencalhar de vez. Mas não eram apenas as
sorteironas e sorteirões que buscavam o pãozinho, segundo as crenças o pão
trazia também a união do casal e a prosperidade da família, e também era
costume se distribuir pequenos sacos do pão torrado e moído, que quando acrescentado
o pó no preparo dos alimentos em casa a comida trazia fartura e saúde a toda
família durante todo o ano. Inicialmente o pão de Santo Antonio em Cosmópolis
era produzido pela comunidade nas casas dos féis, o formato tradicional dos
pães é do tamanho de uma bisnaga e cada dona de casa fazia o seu cesto de pães
para serem consagrados e distribuídos no dia 13, e segundo o costume somente as
mulheres casadas podiam fazer os pães. Com o crescimento da Vila que aos poucos
sonhava com sua emancipação de Campinas, surgiam várias padarias na Avenida Esther
e no dia da celebração ao santo, cada padaria doava uma quantia de pães em
promessa a Santo Antonio. Desta época destaco a “Padaria Santo Antonio” do
famoso Otacílio padeiro, que doava milhares de pãezinhos para celebração. E
mais tarde no final da década de 50 a padaria da família Toledo, e demais
padarias da região central continuarão a tradição. Na época do registro fotográfico
acima de 1933, o primeiro de terno preto segurando um pãozinho é Otto Herbest então subprefeito do distrito de Cosmópolis,
alemão e luterano, a celebração de Santo Antônio conseguia fazer essa união de religiões. E se
tornava não apenas uma celebração católica ao santo, mas na época a união de toda uma
cidade, festando como se dizia, unida em
grande alegria feliz por viver aqui...
Continuação nas próximas semanas no dia de São João...
Acima o sucesso de 1958 "Trezena de Santo Antônio" grande sucesso da época interpretado por "Os Caciques' e as irmãs Dora e Antonieta do Duo Brasil Moreno, famoso Duo que esteve em Cosmópolis em diversas apresentações nas décadas de 40 e 50, se apresentando no Cine Teatro Avenida e em diversas companhias de circos.
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