segunda-feira, 23 de setembro de 2013

MEMÓRIA MUSICAL


                                              Texto e foto Adriano da Rocha
 Um dos destaques do domingo (22/09) no programa “Domingo Espetacular” da TV Record, foi uma reportagem mostrando o drama de famosos artistas do passado que na atualidade poderiam ficar sem casa, devido a obras de ampliação do metro de São Paulo. Entre os artistas uma senhora de 87 anos de idade, que poderia perder seu único bem conquistado nos áureos tempos de fama, a matéria de grande destaque durante a semana trazia nas vinhetas diárias o anuncio de chamada: ”A cantora de Beijinho doce pode ficar sem casa para morar”. A senhora sorridente e muito simpática mostrada na matéria é a artista Maria de Castro, que no final da matéria com a ajuda da equipe de jornalismo da TV Record conseguiu o direito de permanecer no imóvel ao qual reside a mais de 60 anos. Pelo tempo limitado da televisão ou por falta de pesquisa da equipe que produziu a matéria, a verdadeira história daquela alegre senhora não foi contada com a devida importância que merecia. Maria de Castro ao lado da irmã Lurdes de Castro (falecida em 2011) formaram o “Duo Irmãs Castro”, uma das duplas mais importantes da história da música brasileira, ídolos do passado consagradas no Brasil e no mundo, e hoje infelizmente desconhecidas por grande parte da população. Paulistas de Itapeva e Bauru começaram no rádio profissionalmente na década de 30 ainda crianças com 10 e 12 anos de idade.



  As jovens irmãs se destacavam entre os artistas pelo maravilhoso dueto de vozes e pela perfeição nas interpretações de sucessos americanos, cantando em inglês com a mesma naturalidade que cantavam em português os sucessos nacionais da época. Na capital Paulista em 1940 foram apresentadas ao famoso empresário circense e artista Nhô Pai, que ao ver o talento das pequenas irmãs pediu uma autorização aos pais das meninas e as levou para o Rio De Janeiro, onde foram contratadas pela Rádio Mayrink Veiga, surgia então uma das mais brilhantes parcerias musicais da história da música brasileira. Em 1944 gravavam seu primeiro disco 78rpm com o corrido "Não Me Escrevas" (Gabriel Ruiz/ Nhô Pai) e o rasqueado "Che Camba (Vem cá)" (Nhô Pai), ambas de relativo sucesso. A consagração nacional surgia em 1945 com a gravação do segundo disco 78 rpm com o valseado de Nhô Pai o “Beijinho Doce”, que trazia na face B do disco outro grande sucesso de Valdez Leal e Nhô Pai “Faz um ano”. A dupla a cada nova gravação surpreendia o público com outro grande sucesso como foi o caso do rasqueado Paulista criado por Nhô Pai e Mario ZanCiriema”, e outros tantos sucessos que imortalizaram a dupla, clássicos como: Luar de Aquidauana, Noites do Paraguai, Encruzilhada, Cidade Morena, Orgulhosa, índia soberana, e inúmeros outros sucessos que marcaram mais de 60 milhões de discos vendidos até 1985 quando a dupla se aposentou. Foram à primeira dupla feminina da música caipira, que no final da década de 40 mudava sua denominação para Música Sertaneja, consagradas em todo o Brasil e destaque em países como Argentina, Paraguai, Chile e México, como as Rainhas da Voz.•.

  Em Cosmópolis o destaque do cartaz acima, registro de 1954, uma das várias apresentações da dupla em nossa cidade. Cartaz de cerca de 60 cm, fixado nos postes e em alguns comércios da cidade divulgando a apresentação da famosa dupla no “Circo Teatro Estrela D’alva” armado no local onde hoje é o Fórum. A apresentação da dupla na cidade marcou época pelo grande público presente nas sessões do circo que devido aos sucessos Beijinho doce, Ciriema e o drama circense “Morte da Lurdinha”, rendeu três grandes sessões de público. Recorde de público também foi à chegada da dupla em Cosmópolis, que reuniu centenas de pessoas para ver as famosas irmãs chegando de avião, isso mesmo de avião, a dupla foi uma das primeiras artistas no Brasil a possuírem seu próprio avião, um luxo e uma necessidade devido aos inúmeros shows e a precariedade das estradas brasileiras naquele tempo.



 O campo de avião cosmopolense funcionava nas proximidades do circo na Rua Ramos de Azevedo, e ficava entre as Ruas Antonio Carlos Nogueira e Santa Gertrudes, um local que marcou época nas décadas de 30 e 40, e depois com o “progresso” cosmopolense foi transferido para a Avenida da Saudade nas proximidade onde hoje é a Praça da Bíblia e o Shopping, e somente não se oficializou como aeroporto por interferência da Usina Ester e incapacidade política da época, que mesmo com o apoio do governo do estado acabou perdendo para Campinas o “aero clube" ou quem sabe "Aeroporto cosmopolense”. Queridas Irmãs Castro com muito orgulho em sua história de sucesso nossa cidade de Cosmópolis também fez parte. Hoje com a modernidade é mais fácil ouvi-las novamente acessando o Youtube e em uma breve pesquisa você vai encontrar vários sucessos destas queridas irmãs no “cast” do serviço de vídeos, quem viveu está maravilhosa época vai matar a saudade, e quem ainda não conhece o trabalho das irmãs vale a pena ouvir e com certeza se tornar mais um fã. Que a modernidade seja bem vinda para imortaliza-las sempre, algo antes restrito apenas a poucos colecionadores, já que grande parte da discografia das Irmãs Castro é em 78 rpm, e mesmo os poucos Lp’s gravados pelas irmãs a cada dia se torna mais difícil encontrar quem possua as antigas vitrolas ou gramophones funcionando perfeitamente para ouvi-las como antigamente no virar da rotação e no “picar” da agulha no sulco do disco... Irmãs Castro orgulho da nossa terra.

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