Sabe quando você abre o jornal e “toma” aquele susto, foi essa minha reação ao ler as notas de falecimento publicadas hoje no jornal semanário da cidade. Meu espanto e tristeza ao ler o primeiro nome, Martha Stefanine, 85 anos, falecida no dia 17/08, divorciada, e residia na Rua São Paulo- Jardim de Faveri. O espanto e tristeza também a todos que conheceram essa querida senhora, a popular Dona Marta, uma certa indignação pelo atraso da noticia vista apenas pelo jornal.
Na Cosmópolis do “progresso” desgovernado e desordenado, a triste noticia de um falecimento é divulgada em poucos meios na cidade, pelo jornal no final de semana, na internet quando chega a noticia, nos serviços de alto falantes da Igreja Matriz de Santa Gertrudes ou da Igreja Assembleia de Deus. Mas quem foi essa Dona Martha?? Quem não a conheceu pode perguntar. Eu respondo com minhas lembranças, um pouco sobre essa importante personagem da vida de muitos cosmopolenses.
Dona Martha Stefanine, uma pessoa que a vida trouxe todos os motivos para nunca mais sorrir, mas sempre era sorridente e prestativa a todos. Dona Marta foi uma das maiores benzedeiras de Cosmópolis, um “dom”, uma bênção, que ela trazia consigo herdado de sua mãe, uma tradição na sua família a mais de cinco gerações, e que infelizmente não deixou herdeiros. Dona Martha perdeu sua única filha tragicamente na década de 70, uma morte absurda que chocou toda cidade, morreu por um amor desenfreado, desencontrado, que a fez tirar a própria vida. Mesmo com essa cicatriz que dói e nunca “sara”, guardava a mágoa consigo, e sempre se mostrava contente.
Era benzedeira das boas, não fazia coisa ruim para ninguém, benzia cantando e declamando orações, usava ramos de alecrim, arruda e espada de São Jorge, molhava em uma velha bacia de ágata cheia de água benta, com os ramos fazia o sinal da cruz e pedindo a interseção do Pai Eterno e da Divina providência para a cura do "mal agrado".
Não cobrava nada, e não aceitava também, de longe chegavam mães com crianças, adultos e velhos, contra qualquer mal feito pelo homem ou atiçado pelo “coisa ruim” Dona Martha era um dos caminhos para a salvação através da oração. Benzia quebranto, ramo de ar, “zipela”, dores nas costas e pernas, cobreiro, vento caído, olhado, espinhela, bicheira, matrimonte, e o famoso responso de Santo Antônio para encontrar objetos perdidos e roubados. Seu responso era muito poderoso, até Padre pedia sua ajuda, que dirá minha Tia Selama que um dia roubaram seu Fusquinha e graças ao responso feito por Dona Martha foi encontrado o veiculo em Araras abandonado em uma praça.
Dona Martha tirava da pessoa e trazia o mal para ela, dependendo o mal “colocado” chegava a ficar dias de cama, mas a fé era grande e Deus logo a benzedeira benzia para continuar sua missão. Tendo fé e acreditando nada é impossível na vida, não é!!
Era benzedeira “transmutada”, nome popular a quem tem o dom de benzer a distância rezando em nome da pessoa "precisada". Acompanhando a modernidade benzia por telefone, e mesmo na distância quando benzia e o "mar olhado" era dos brabo, o ramo de benzimento murchava e segurava todos os males.
Lembro dos patuás que ela fazia, buscava no mercado sempre café, cravo, canela, alecrim e outras ervas, com pano vermelho fazia o patuázinho de pano vermelho envolto das ervas e uma pequena oração de São Bento.
Dona Martha muito obrigado o "curado" dizia, ela respondia com seu jeitão caipira: Nada fiz fió, nunca um dia fiz ou farei, é Deus que cura, foi Deus quem curou. Foi Deus quem te fez, foi Deus quem te curou, pela graça de Deus o mal foi simbora e a cura ficou.•••.
Minha lembrança, respeito e saudades da querida Dona Martha Stefanine, vai com Deus e receba do Pai o merecido descanso da sua paz eterna.
A foto é de 1994, feita aqui na Loja, Dona Marta de azul e minha Tia Selma. Dona Martha sorria vou tirar uma foto. Ela disse: Pra que tu quê foto minha Ancermo??? Para guardar de lembrança...
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