Assim como seus sucessos, ela também é imortal.
Onde existir uma viola, um cantador de coisas nossas, sempre Inezita será lembrada e cantada.
A marvada pinga de Inezita, já era sucesso na década de 20 cantado pelos “irmãos Laureano” nos cirquinhos do interior Paulista e interpretada como “Festança no Tietê” pela consagrada e pioneira “Companhia de Caipiras do Cornélio Pires” nas faculdades de São Paulo e do Rio de Janeiro (antiga capital da republica).
Saiu oficialmente gravada no velho discão de carnaúba em 1937, com o nome Moda da Pinga, cantada pela dupla Raul Torres e Serrinha (tio e sobrinho, caipiras imortais de Botucatu), com autoria de Laureano (Ochelsis Aguiar Laureano) e Raul Torres . A moda da pinga, surgiu em um desafio de cururú entre amigos violeiros, e cururú de carreira boa tem mais de horas, e assim era a moda da pinga, possuía vários autores e inúmeros versos. Laureano e Raul Torres encurtaram as carreiras, criaram novos versos na moda, e Raul Torres gravou o cururú como Moda de Viola, foi um grande sucesso, principalmente nas audições da dupla Torres e Serrinha na famosa Rádio Mayrink Veiga.
A moda já estava esquecida no inicio da década de 50, poucos se lembravam da moda, Inezita com seu velho jipe fazendo seus recolhes de cultura, suas buscas pelo verdadeiro Brasil , em uma viagem ao interior Paulista (segundo ela mesma região de Mogi Mirim, região berço de sua família materna) ouvia a moda duetada por caipiras em uma roda e violeiros.
Inezita fez o recolhe dos versos cantados pela caipirada, e a moda de viola virou um cururú. A música aprovada pela RCA Victor e a censura (sem aprovação da censura até a Marvada Pinga podia ser “barrada”), a moda saiu no disco oficialmente em 03/08 de 1953, com o nome Marvada Pinga, tendo somente Laureano como autor (na verdade a caipirada lá dos fundão de Paulista, recriou a moda, e na recriação só “alembraram” do Laureano). O resto da história os amigos já bem sabem, são mais de 60 anos de sucesso da Marvada Pinga, imortal sucesso da Inezita, e cantada e regravada por inúmeros caipiras e “sertanejos”, e até sucesso no inicio dos anos 2000 nas “baladinhas”, quando a moda foi adaptada para o estilo da Techno music.
Outra história que quase ninguém lembra, é do sucesso do outro lado do disco, um sambinha canção, por nome Ronda, de autoria de Paulo Vanzolini (grande amigo de Inezita, lembra-se dele!!! O mesmo do recolhe Cuitelinho). Sim a imortal música Ronda , um dos hinos de Sampa, sempre lembrada nas vozes de Nelson Gonçalves e Maysa Matarazzo, sucesso gravado primeiramente em um acaso pela querida Inezita. “De noite ando a cidade, a te procurar sem te encontrar”...
Grande Inezita Barroso, de tantas histórias e estórias, um dos maiores bens imateriais do estado de São Paulo e do Brasil. Fica a eterna lembrança da Inezita, minha amiga de telefone, de horas de prosa sobre tudo, menos música caipira (sério mesmo, conversamos muito sobre São Paulo, e seu berço caipira que foi a minha região, sua família tinha origens em Campinas, Mogi Mirim, Monte Mor. Ela adorava essas prosas) Quatrocentona com muito orgulho, sem frescura, cabocla de fato, apaixonada pela viola e nosso estado de São Paulo. Seu corpo segue hoje para o fim na terra, seguindo coberto por seu último desejo, a bandeira do estado de São Paulo. Segue aos braços de Deus Dona Zita, hoje tem festança no céu, uma linda roda de violeiros a sua espera para reger com São Gonçalo a orquestra de viola divina...
Texto Adriano da Rocha (Compadre Ancermo)