quinta-feira, 28 de abril de 2016

ADEUS PROFESSORA MARIAZINHA

Professora Maria Strazzacappa falece aos 97 anos 




Fotos Família Strazzacappa 


   “A primeira professora a gente nunca esquece”... Mas como esquecer alguém tão especial e importante para a história de Cosmópolis e várias gerações de cosmopolenses!? Quando tristemente recebi a notícia, essa foi minha reação, total indignação pela falta de respeito e interesse por nossa história. Os detentores da notícia esqueceram, ou, faltou espaço entre tantas matérias pagas e ocorrências, para lembrarem-se desta imensurável perca.

  Cosmópolis despediu-se no dia 8 de abril, uma triste manhã de sexta-feira, da sua eterna professorinha, Maria Aparecida de Toledo Strazzacappa, ou como era carinhosamente conhecida, Dona Mariazinha. Partiu para casa do Pai, aos 97 anos de idade, sendo seu corpo sepultado no Cemitério Municipal da Saudade, ao lado do esposo Orlando Strazzacappa. Dona Mariazinha e Orlando, tiveram seis filhos, Ana Maria, Marta, Cristina, Elizabeth, Luís (Neto) e Orlando (Filho). Dona Maria Strazzacappa foi professora em todos os sentidos da vida, sua paixão e o amor pelo magistério foram seu exemplo maior de vida, seguidos pelas filhas Ana Maria, Marta, Cristina, Elizabeth, professoras com muito orgulho, professando os mesmos passos da mãe, caminhado lado a lado com seus alunos, na estrada do conhecimento. Conhecidas em Cosmópolis, como "as professorinhas da Dona Maria".

Professora  Maria Strazzacappa rodeada das filhas, as professorinhas da Dona Maria.
Irmãos Strazzacappa.
   Maria Aparecida Rangel Toledo nasceu em 2 de março, em Cruzeiro, famosa cidade paulista do Vale do Paraíba, mudando-se ainda criança para a progressista Villa de Cosmópolis. A mudança da família Rangel Toledo, surgiu por um convite do Professor Felício Marmo, primeiro professor de Cosmópolis, responsável pela fundação da primeira Escola Público da Villa em 1905, inaugurada em uma pequena casa na Avenida Esther, existente até hoje, ao lado da Loja Seller. O convite, uma proposta de emprego para Dona Mariana Conceição Rangel Toledo, mãe de Dona Mariazinha, lecionar em um grupo escolar (reunião de várias escolas) que começava a ser construído na Rua Campos Salles, ao lado da Sub-prefeitura de Cosmópolis.

Dona Mariana Rangel (óculos), em um registro familiar no fim dos anos 50.


     Oficialmente em 1925, Dona Mariana Rangel e outros professores, inauguravam o “Grupo Escolar de Cosmópolis”, que na década de 40, foi então nomeado Grupo Escolar Rodrigo Octávio Langard de Menezes. Nesta primeira turma de alunos, Dona Mariana lecionou para sua filha, a pequena Maria Aparecida, então com 7 anos de idade. As aulas, naquele tempo, eram divididas em períodos, na parte da manhã os meninos, no período da tarde as meninas. Dona Mariana é considerada a primeira professora da “Escola do Rodrigo”, assim como a primeira professora contratada pela sub-prefeitura de Cosmópolis, distrito da cidade de Campinas.

  A jovem Maria Aparecida, ao terminar o ensino fundamental em 1928, mudou-se para Campinas, para então terminar os estudos e realizar seu maior sonho, ser professora como sua mãe. A menina ficava encantada com o magistério, a sala de aula, as palavras escritas com giz no velho quadro negro, os livros, os olhares deslumbrados dos pequeninos alunos, descobrindo o mundo através das aulas da sua mãe, tudo naquele mundo escolar lhe trazia fascinação.

Maria Aparecida Rangel de Toledo, registro de 1940, álbum dos formandos do "Instituto de Educação de Campinas".


   Em 1940, oficialmente a normalista tornava-se professora, diplomada pelo renomado “Instituto de Educação de Campinas”. Nas viagens entre os estudos em Campinas, e as visitas aos pais em Cosmópolis, Maria Aparecida conheceu o jovem Orlando Strazzacappa, filho do lendário fazendeiro Luiz Strazzacappa, dono de umas das terras mais produtivas de Cosmópolis, localizada onde hoje existem os bairros do Uirapuru, Saltinho e Quilombo. Em uma cerimonia reservada na velha Igreja Matriz de Santa Gertrudes, Maria Aparecida unia votos com Orlando, tornando-se então, Maria Aparecida de Toledo Strazzacappa.

   
 O casal Dona Maria Strazzacappa e Orlando Strazzacappa.

  
Luiz Strazzacappa.

    A vida era muito corrida, a rotina com os seis filhos e os demais alunos, os quais tratava como seus filhos, era extremamente cansativa, sempre ao seu lado, o esposo incentiva Maria em tudo. Enquanto Orlando tratava dos negócios da família, a esposa lecionava nas escolinhas rurais da região do Itapavussu, onde as aulas aconteciam durante dois dias da semana, sempre nas manhãs, e diariamente no período da tarde, no Grupo Escolar Rodrigo, lecionando durante anos, ao lado da mãe, Dona Mariana.

   Não podemos esquecer que Orlando Strazzacappa foi um dos emancipadores de Cosmópolis, lutando junto a outros idealistas, pela emancipação política e administrativa da cidade de Campinas. Um sonho que se tornou realidade em 30 de novembro de 1944; nesta data Cosmópolis deixava de ser Villa, para oficializar-se como município. Na primeira legislatura de Cosmópolis, onde foram empossados Moacir do Amaral e Caetano Achiles Avancini, primeiro prefeito e vice, Orlando Strazzacappa foi nomeado um dos primeiros vereadores do recém-criado município. Sendo eleito pelo voto novamente, na primeira eleição municipal, realizada em outubro de 1945.

Família Toledo Strazzacappa reunida, Dona Maria e Orlando, rodeados dos seis filhos.


   Cortando pelas centenárias estradas rurais de Cosmópolis, “lai vem à professorinha”. Com seu impecável vestido de linho branco, um lindo chapéu na cabeça, seguia Dona Maria em seu trolinho entre as lavouras. Cortava as “picadas” (nome paulista as estradas abertas por carros de bois nos tempos dos Bandeirantes) apressada, levantando a poeira vermelha das estradas do Uirapuru, Itapavussu, Saltinho, Nova Campinas e Fazenda Usina Ester. Lugares distantes, estradas até mesmo intransitáveis, mas com coragem e muito amor aos seus alunos, seguia Dona Maria.

   
   Uma professora dos livros e letras, uma professora da vida, conselheira e amiga dos seus filhos escolares. Depois de mais de 30 anos de ensinamentos, oficialmente aposentou-se, com todos os méritos e honras, na Escola do Rodrigo.Escola que viu nascer seus sonhos, onde sua mãe foi à primeira professora. Em vida recebeu uma eterna homenagem da prefeitura, com seu nome enaltecendo uma escola infantil no bairro Cidade Alta.

Dona Maria lecionando aulas de piano aos seus alunos.
2014...Dona Maria, então com 95 anos, interpretando em um teclado algumas notas.

    Pioneira como sua mãe Dona Mariana, a primeira professora da Escola Rodrigo, Dona Maria Strazzacappa, herdou o magnifico dom de ensinar, seguindo outro marco da família: ensinar música. Ainda criança apreendeu com mãe a tocar piano, acompanhando os vários alunos que Dona Mariana recebia em sua velha casa na Rua Antônio Carlos Nogueira, próxima a antiga “Companhia Paulista de Electricidade”.

  São tantas referências de uma história fascinante, um livro que muito bem poderia ser intitulado: “Eterno amor por Cosmópolis”.



   
  Na Igreja Matriz de Santa Gertrudes, Dona Maria foi responsável por uma das mais tradicionais festas cosmopolenses, a famosa e extinta “Festa de Santo Antônio”, realizada anualmente no Largo da Matriz. Dona Maria e outras dezenas de senhoras da comunidade, organizam durante todo o mês de maio, a celebração da festa no dia 12 de junho. As trezenas começavam no fim de maio. A festa foi no seu tempo, um dos maiores eventos da região, com barracas típicas, intenso leilão de prendas e gado, animado pelos saudosos leiloeiros Zuza Nallin e Sérgio Rampazzo.

Maria Strazzacappa., em um dos últimos registros familiares.


    Fica aqui nossa homenagem, pequena comparada com a grandeza de nossa querida professorinha. Em nome do povo cosmopolense, muito obrigado Dona Maria Strazzacappa. Descanso merecido a uma eterna guerreira, a filha que escolheu Cosmópolis como seu berço, orgulhando em todos os seus 97 anos a nossa cidade. Os sinceros sentimentos aos milhares de alunos, o abraço em cada familiar, a nossa eterna saudade. As glórias de Deus e de Cosmópolis a Dona Maria...

Fotos Família Strazzacappa 

terça-feira, 26 de abril de 2016

DOMINGUEIRAS FUTEBOLÍSTICAS

Texto e foto  Adriano da Rocha


  1959... Uma típica manhã de domingo em Cosmópolis. Arquibancadas cheias, repletas de famílias de torcedores, homens, mulheres e crianças, que, ao sair da missa na Igreja Matriz de Santa Gertrudes e, do culto na Igreja Luterana, tinham seu destino certo: O “Estádio Thelmo de Almeida”. Nos impecáveis gramados do “Alviverde Cosmopolense”, todos os domingos a tradição era seguida, os velhos portões de madeira, construídos com antigas dormentes da “Cia Funilense”, ringiam pontualmente às 9h00, um som estridente que parecia dizer: “Sejam bem vindos ao Cosmopolitano”.

   Nas Ruas Campinas e Moacir do Amaral, ainda de terra batida, ansiosos torcedores aguardavam o início da “peleja futebolística”. Fordinhos, impontes Chevrolet’s e Chrysler’s, dividiam espaço nas ruas de terra com charretes, carroças e troles. As calçadas possuíam um ponto para “apiar”, um estaca de madeira possuindo na ponta uma argola de aço, onde o condutor amarrava as rédeas dos animais . Somente o passeio público era cimentado, nas calçadas do Estádio ficavam as famílias, crianças, mocinhas e senhoritas. Do outro lado, nas calçadas do “Bar do Ibi e Dona Esmeralda”, concentravam-se os rapazes, em dezenas de Calois e Monarks de barra circular.

   As bicicletas sempre impecavelmente limpas, enfeitados com fitas e sinais refletivos inusitados destacavam os “paralamas”; item obrigatório para não sujar as roupas “claradas” com “Anil”, ou quem sabe, o vestido da linda cosmopolense sentada na “garupa”.

   O registro fotográfico do fim dos anos 50 eterniza um pouco deste relato das “domingueiras futebolísticas” de Cosmópolis. Uma tradição que surgiu por intermédio dos funcionários da saudosa “Companhia Sorocabana”, percursores do “Football” no interior paulista, modalidade que chegou aos gramados da Villa de Cosmópolis no fim do século 19. A foto marca um domingo de jogo entre “Cosmopolitano e Botafogo Futebol Clube”. Uma disputa acirrada entre os reis dos gramados da Villa e da Usina, ou como diziam na época, “vileiros e colonos “rancando” até “toceira” na peleja da bola”.

  Um detalhe nesta foto para sua saudade, outras lembranças da velha Cosmópolis surgiram na sua mente. Repare no lado esquerdo da foto, o famoso carinho de doces e pipocas do “Ferruccio”. O carrinho chama atenção e saudade, por sua vitrine alta, feita de ferro forjado e revestido de vidro, onde eram expostas as pipocas que “saltitavam” na panela de alumínio batido, que reluzia de tão “arriada”, visto os cuidados com a limpeza e o amor pelo trabalho.

  Nos domingos de futebol, “Ferruccio pipoqueiro” era figurava cativa entre os torcedores, assim como o Xavier dos sorvetes (esqueci seu apelido, pai do Poly), os irmãos Bocaiuva vendendo amendoim torrado, o velho Ortiz e meu saudoso amigo Sodinha (esposo da Nega Vieira), vendendo pipoca doce e cocadas da Campineira. Doceiros, pipoqueiros, sorveteiros, não faltavam, a domingueira atraia futebolistas de toda região, paulinenses, nogueirenses e campineiros, tinham roteiro certos aos domingos.

  Terminando o jogo, os vendedores como Ferruccio, já preparavam seus carrinhos para pontualmente às 16h00, ir para o “footing” na Praça do Coreto, concentrando uma parte dos vendedores na Praça e outra turma no "Cine Theatro Avenida". O ponto principal do Ferruccio, era a calçada do extinto cinema, que deste tempo só resta a velha Sibipiruna, a qual faz sombra aos pedestres que passam pela calçada da Loja Seller.

  Não esquecendo, que as “domingueiras da bola” aconteciam em dois Estádios, revezando a cada domingo as disputas entre o Estádio Thelmo de Almeida e na Usina Esther no “Estádio Dr. Sérgio Coutinho Nogueira”, históricos gramados da União Esportiva Funilense.
  
  Como o Thelmo de Almeida, impiedosamente destruído em nome do “progresso”, o Estádio do Funilense segue o mesmo triste fim. Em nome do “progresso”, com a aval dos detentores do patrimônio particular e os “responsáveis” pelo patrimônio histórico cosmopolense, os verdes gramados darão lugar a um imenso canavial, sendo divido pela Usina, em terrenos para a plantação de cana de açúcar e ponto de armazenamento de bagaço e frota...
   
  É pois é, hoje as manhãs de futebol em Cosmópolis, ficaram somente nas lembranças, visto pelas dezenas de ocorrências policias, que até em campinho de várzea é perigoso “jogar bola” em Cosmópolis. Quando não é carrapato estrela, transmitindo febre maculosa , é “nóia noiado” roubando de bola, chuteira e celular. Fica o registro e o somente a saudade, já que nem estádio e paz temos mais...

Texto e foto Adriano da Rocha