terça-feira, 26 de abril de 2016

DOMINGUEIRAS FUTEBOLÍSTICAS

Texto e foto  Adriano da Rocha


  1959... Uma típica manhã de domingo em Cosmópolis. Arquibancadas cheias, repletas de famílias de torcedores, homens, mulheres e crianças, que, ao sair da missa na Igreja Matriz de Santa Gertrudes e, do culto na Igreja Luterana, tinham seu destino certo: O “Estádio Thelmo de Almeida”. Nos impecáveis gramados do “Alviverde Cosmopolense”, todos os domingos a tradição era seguida, os velhos portões de madeira, construídos com antigas dormentes da “Cia Funilense”, ringiam pontualmente às 9h00, um som estridente que parecia dizer: “Sejam bem vindos ao Cosmopolitano”.

   Nas Ruas Campinas e Moacir do Amaral, ainda de terra batida, ansiosos torcedores aguardavam o início da “peleja futebolística”. Fordinhos, impontes Chevrolet’s e Chrysler’s, dividiam espaço nas ruas de terra com charretes, carroças e troles. As calçadas possuíam um ponto para “apiar”, um estaca de madeira possuindo na ponta uma argola de aço, onde o condutor amarrava as rédeas dos animais . Somente o passeio público era cimentado, nas calçadas do Estádio ficavam as famílias, crianças, mocinhas e senhoritas. Do outro lado, nas calçadas do “Bar do Ibi e Dona Esmeralda”, concentravam-se os rapazes, em dezenas de Calois e Monarks de barra circular.

   As bicicletas sempre impecavelmente limpas, enfeitados com fitas e sinais refletivos inusitados destacavam os “paralamas”; item obrigatório para não sujar as roupas “claradas” com “Anil”, ou quem sabe, o vestido da linda cosmopolense sentada na “garupa”.

   O registro fotográfico do fim dos anos 50 eterniza um pouco deste relato das “domingueiras futebolísticas” de Cosmópolis. Uma tradição que surgiu por intermédio dos funcionários da saudosa “Companhia Sorocabana”, percursores do “Football” no interior paulista, modalidade que chegou aos gramados da Villa de Cosmópolis no fim do século 19. A foto marca um domingo de jogo entre “Cosmopolitano e Botafogo Futebol Clube”. Uma disputa acirrada entre os reis dos gramados da Villa e da Usina, ou como diziam na época, “vileiros e colonos “rancando” até “toceira” na peleja da bola”.

  Um detalhe nesta foto para sua saudade, outras lembranças da velha Cosmópolis surgiram na sua mente. Repare no lado esquerdo da foto, o famoso carinho de doces e pipocas do “Ferruccio”. O carrinho chama atenção e saudade, por sua vitrine alta, feita de ferro forjado e revestido de vidro, onde eram expostas as pipocas que “saltitavam” na panela de alumínio batido, que reluzia de tão “arriada”, visto os cuidados com a limpeza e o amor pelo trabalho.

  Nos domingos de futebol, “Ferruccio pipoqueiro” era figurava cativa entre os torcedores, assim como o Xavier dos sorvetes (esqueci seu apelido, pai do Poly), os irmãos Bocaiuva vendendo amendoim torrado, o velho Ortiz e meu saudoso amigo Sodinha (esposo da Nega Vieira), vendendo pipoca doce e cocadas da Campineira. Doceiros, pipoqueiros, sorveteiros, não faltavam, a domingueira atraia futebolistas de toda região, paulinenses, nogueirenses e campineiros, tinham roteiro certos aos domingos.

  Terminando o jogo, os vendedores como Ferruccio, já preparavam seus carrinhos para pontualmente às 16h00, ir para o “footing” na Praça do Coreto, concentrando uma parte dos vendedores na Praça e outra turma no "Cine Theatro Avenida". O ponto principal do Ferruccio, era a calçada do extinto cinema, que deste tempo só resta a velha Sibipiruna, a qual faz sombra aos pedestres que passam pela calçada da Loja Seller.

  Não esquecendo, que as “domingueiras da bola” aconteciam em dois Estádios, revezando a cada domingo as disputas entre o Estádio Thelmo de Almeida e na Usina Esther no “Estádio Dr. Sérgio Coutinho Nogueira”, históricos gramados da União Esportiva Funilense.
  
  Como o Thelmo de Almeida, impiedosamente destruído em nome do “progresso”, o Estádio do Funilense segue o mesmo triste fim. Em nome do “progresso”, com a aval dos detentores do patrimônio particular e os “responsáveis” pelo patrimônio histórico cosmopolense, os verdes gramados darão lugar a um imenso canavial, sendo divido pela Usina, em terrenos para a plantação de cana de açúcar e ponto de armazenamento de bagaço e frota...
   
  É pois é, hoje as manhãs de futebol em Cosmópolis, ficaram somente nas lembranças, visto pelas dezenas de ocorrências policias, que até em campinho de várzea é perigoso “jogar bola” em Cosmópolis. Quando não é carrapato estrela, transmitindo febre maculosa , é “nóia noiado” roubando de bola, chuteira e celular. Fica o registro e o somente a saudade, já que nem estádio e paz temos mais...

Texto e foto Adriano da Rocha
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