Símbolos do progresso no passado, hoje marcam o descaso e abandono da primeira praça pública de Cosmópolis
Texto Bruna Genaro
Fotos Adriano da Rocha
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Descaso com a história .No local onde existia a famosa Fonte Tulipa, demolida para ampliar a Praça, está coberta por mato
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Padaria, armazém, bar, construtora; essas são algumas das muitas histórias de comerciantes cosmopolenses contadas silenciosamente – ou por vezes esquecidas – entre os bancos da conhecida Praça do Coreto.
Feitos em granilite – revestimento composto por sobras de minerais – os bancos estão na praça há 58 anos. Muitos deles estão depredados, não pelo tempo, já que os bancos são muito resistentes, mas pelo mau uso da população; alguns já foram quebrados e até mesmo pichados, como é o caso do banco da Usina Ester entre outros.
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Banco em granilite doado pela Usina Açucareira Ester S/A. Praça leva o nome de um dos fundadores da usina, o Major Arthur Nogueira
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Escritos em baquelite – resina sintética, plástica e muito utilizada na época – estão gravados os nomes dos 25 comércios que já existiram na cidade – alguns existentes até hoje. Dentre eles estão:
Usina Açucareira Esther, S/A Guido Longhin Construtor de Obras, Padaria e Confeitaria São José Osmar Toledo Silva, André Vieira Dias Farmacêutico, Atair Madsen, Guilherme Kowalesky, Bar e Restaurante Ideal Ernesto Kiehl e Irmão, Secos e Molhados de Emílio Mengue, Postos Atlantic Orlando Kiosia, Armazém Rage Baracate, Auto Lotação Cosmópolis Campinas Giuzio e Bertazzo, Bar Santa Gertrudes Emílio Balone, Casa das Bicicletas de Todas as Marcas Domingos Magossi, Casa São Jorge de José Garcia Rodrigues, Restaurante Avenida Antonio de Freitas Junior, Armazém Vila Nova Mário Bertazzo, Padaria Santo Antonio Hotacilio Pereira Pinto, Fábrica de Refrigerantes Armando Scorsine, Bar e Sorveteria Vila Nova Saulo Tognoni.
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Guido Longhin Construtor de Obras Responsável pelas obras de construção da nova Praça do Coreto em 1958 |
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André Vieira Dias
Prefeito na década de 1960, na inauguração da Nova Praça possuía uma renomada farmácia na Avenida Ester.
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58 anos de história comercial Banco em granilite doado por Atair Madsen |
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Banco em granililte doado por Guilherme Kowalesky, agricultor e proprietário de comércio na Avenida Ester. Guilherme era casado com a lendária parteira Dona Mina Kowalesky. |
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Na esquina da Avenida Ester com a Rua Campinas, onde atualmente funciona a Bike Mania, existia o Bar e Restaurante Ideal. O Bar marcou época e gerações, comandado pela família Kiehl, funcionou no mesmo ponto até o início dos anos de 1970 |
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Banco de granilite doado pelo armazém de secos e molhados de Emílio Mengue. Emilio foi pioneiro em vários setores em Cosmópolis, da política ao setor comercial, sendo membro de destaque na comunidade Luterana, foi um dos primeiros moradores do Núcleo Colonial Campos Salles. |
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Banco doado por Odair Kiosia, o popular Russinho, proprietário dos postos Atlantic e Royalisa. Kiosia marcou época pelo empreendedorismo comercial e por sua gestão como prefeito na década de 1970 |
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Banco doado pelo Armazém "Rage Baracate"
Os irmãos Baracate, ou Baracat, marcaram época com seu armazém na Avenida Ester, localizado nesta época na região onde está edificado atualmente o banco Santander.Na década de 50 e 60, Rage também é lembrado por sua famosa Jazz Band, a Rage e seu Conjunto, que animavam bailes em Cosmópolis e toda região.
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Próximo ao Ponto de Táxi está o banco doado pela Padaria e Confeitaria São José, de propriedade do saudoso Osmar Toledo. |
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Entre pichações e o mato, o banco doado por Hotacilio Pereira Pinto, o conhecido Hotacilio Padeiro, da Padaria e Confeitaria Santo Antonio. Na sua época uma das maiores padarias da região, localizada na Avenida Ester (ao lado da Bike Mania), o prédio foi demolido no fim dos anos de 1990 |
Memória Comercial
Padaria e Confeitaria São José – Inaugurada em 1958 por Osmar Toledo Silva e familiares. A padaria ficava localizada na Avenida Ester, antiga Papelaria Zoom, que atualmente foi dividida em dois comércios, onde hoje é a Óticas Carol e a Itacell. A padaria funcionou neste ponto até 1974.
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Osmarilda Furlan e Hilda Scorsione Toledo Silva, filha e mãe, mostram o banco doado pela Padaria São José em 1958. Osmar Toledo Silva faleceu em abril de 2015, fez história e deixou sua marca no comércio cosmopolense |
Seu Osmar foi um dos primeiros cosmopolenses a investir na modernização do ramo de padaria, tendo como principal concorrente Hotacilio Pinto, da Padaria Santo Antônio. Na época em que Osmar começou a abrir sua padaria, Hotacilio dominava as vendas na cidade. Pensando em inovar, Osmar começou a comprar os pães de Hotacilio e revender na Usina Ester e região rural. O diferencial da padaria São José era a entrega de pão e leite de porta em porta.
Seu Osmar trabalhou por 16 anos no ramo, quando decidiu vender o ponto e se aposentar.
“Na época, comprar o banco e colocar na praça foi muito bom, porque fazia uma grande divulgação da padaria, porque a praça era muito movimentada”, conta a viúva de Osmar, Ilda Scorsoni Toledo Silva, de 80 anos.
Homenagem ao Major
Usina Açucareira Ester – próximo ao coreto, entre os bancos da praça, está o nome da empresa. Além disso, a Praça do Coreto recebe o nome de um dos fundadores da Usina: o Major Artur Nogueira. A praça recebeu esse nome na década de 1930, após o falecimento do Major.
118 anos de história
A história da Praça Major Artur Nogueira está relacionada com o surgimento da Companhia Funilense, em 1898. Na época, tropeiros, viajantes, e os funcionários da Funilense se reuniam embaixo das árvores da futura Praça do Coreto. Para os tropeiros o ponto era bom para negociar cavalos, burros, além de vender os produtos advindos de Campinas. Para os viajantes e construtores das linhas da Funilense o local era perfeito para um bom descanso, seja na hora do almoço ou quando o sol era quase insuportável.
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1936/Praça da estação Sorocabana, atual Praça Major Arthur Nogueira ou como é mais conhecida Praça do Coreto. Um dos pontos mais antigos de Cosmópolis- Foto acervo Adriano da Rocha |
Por muitas décadas a “praça” abrigava quem quisesse desfrutar de uma boa sombra, principalmente os que esperavam a chegada dos trens na estação. Somente em 1929, quase três décadas mais tarde, é que a praça ganhou forma. Na gestão do prefeito de Campinas, Orosimbo Maia, duas praças fizeram parte de seus projetos no distrito de Cosmópolis: a reformulação da Praça da Matriz e a construção da Praça do Coreto.
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1957/ Remodelação e Construção da nova Praça Major Arthur Nogueira. Em destaque no registro fotográfico a construção da fonte tulipa, ao fundo entre tapumes o coreto. Foto acervo Adriano da Rocha |
A Praça da Matriz recebeu um projeto paisagístico com jardins, novas calçadas e bancos. Já a Praça do Coreto foi estruturada do início, incluindo pavimentação, bancos, jardins e coreto – que era localizado próximo ao atual ponto de táxi, o primeiro coreto da Praça. A partir dessa época, a Praça do Coreto ficou conhecida popularmente como “Jardim”.
A primeira reformulação da praça
Em 1956, o primeiro prefeito eleito por votos de cosmopolenses da cidade, José Garcia Rodrigues, conhecido como Zé da Peggê, foi o responsável pela construção da nova Praça do Coreto. Até a eleição do Zé da Peggê - apelido dado por causa de sua esposa Peggê, que foi uma das primeiras cabeleireiras e musicistas da cidade – normalmente, os prefeitos eram diretores da usina local, eleitos pelos colonos, que ultrapassavam quatro mil, incluindo funcionários e familiares.
Da antiga praça, construída por Orosimbo Maia, restaram poucos resquícios e algumas árvores. A praça foi completamente reformulada por Zé da Peggê, com o intuito de trazer um novo projeto arquitetônico para a cidade. Em sua gestão, ele manteve a Estação da Funilense – local onde é o atual relógio de sol -, fez um novo calçamento com pedras portuguesas, instalou bancos e construiu a fonte, conhecida pelas paqueras dos cosmopolenses que davam voltas ao redor da fonte enquanto flertavam.
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Década de 1960, Hugo Baccarin e Augusto Baccarin em uma tarde de domingo na Praça Major Arthur Nogueira (Coreto)- Foto acervo Adriano da Rocha |
O prefeito construiu um novo coreto – o mesmo que está até hoje na praça -, mais amplo que o antigo, além de dois banheiros e sala de sonoplastia para administrar o serviço de alto falantes oferecidos no local.
A instalação dos bancos
Os bancos, que falamos no início da reportagem, entram nessa parte da história da praça. Com o novo modelo de praça, os antigos bancos, feitos de ferragem e revestidos de madeira, foram transferidos para a Praça da Matriz. Em parceria com os comércios da cidade, o comerciante comprava um banco e doava para a Prefeitura, que fazia a instalação na praça. Dessa forma, os comerciantes divulgavam o nome de suas empresas nos bancos além de colaborar com a nova praça da cidade. A inauguração oficial da nova Praça do Coreto aconteceu no início do ano de 1958.
A última reforma
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Marca do vandalismo e do descaso da administração..Banco doado pela Auto Lotação Cosmópolis, pertencente a Giuzio e Bertazzo.
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No início dos anos 2000 foi quando a Praça do Coreto recebeu sua última reforma. Na ocasião, a fonte foi demolida e pavimentada com pedra portuguesa. O motivo da destruição foi para ter mais espaço para a Festa do Imigrante e a festa “Na Praça com Amigos”, ambos eventos não são mais realizados na praça desde 2012.
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1958/ Famosa fonte tulipa demolida no início dos anos 2000- Foto acervo Adriano da Rocha |
Texto Bruna Genaro
Fotos e fonte Adriano da Rocha