quinta-feira, 9 de agosto de 2018

AINDA ONTEM EM COSMÓPOLIS

MEMÓRIA COSMOPOLENSE


Há 12 anos...
   
  Inconfundível, polêmica e glamorosa, simplesmente a Rafaela. Entre as figuras populares mais queridas de Cosmópolis, registrada em uma das suas “andanças” diárias pela região central.

Popular entre a maioria da população, consciente da sua história de vida pessoal e familiar. Impopular, nos olhares daqueles que desconhecem sua trajetória, por preconceito e intolerância.

Nascido Rafael Guimaro, tornou-se conhecido como Rafaela nos anos de 1980. A mudança feminina do nome, surgiu de modo pejorativo nas ruas, como agressão verbal por sua condição sexual.

A infeliz brincadeira, trazia sua revolta, deixando seu carrinho de papelão onde fosse, para ir embravecido atrás do afrontoso chamado.

Quando foi expulso de casa, assumiu-se totalmente como Rafaela, a transformação foi intensa e constante. Dormia onde encontrava uma sombra no relento, não escolhia lugares depois de descobrir o álcool, ingerido como um refúgio as dificuldades da vida.

O nome feminino, antes gritado como um modo de ofensa, tornou seu nome próprio, respondendo com orgulho: “Oláá colega, sou eu mesma!!! “.

Sempre extravagante nas vestimentas, criava sua própria moda com as inúmeras doações de roupas e utensílios que recebia.

Delicada do seu jeito, não ficava sem seus batons e esmaltes, guardados no improviso entre as roupas, ou em uma bolsinha doada.

"MARCELA DA RAFA, RAFA DA MARCELA"
Discreta nos amores assumidos, teve muitos namorados pelas ruas, ou companheiros como ela dizia. Destas afeições das ruas, surgiu sua inesquecível filha, a inseparável Marcela.

Uma pequena vira latas, herança de um “ex amor”, a qual Rafaela cuidava como fosse sua filha. Sempre cheia de mimos e carinhos, dividia tudo com ela, menos as pingas.

Marcela na verdade, era sua guardiã, companheira e defensora nas ruas. Em quase 8 anos de convivência, as duas marcaram época por onde passavam.

Quem não lembrasse das duas comendo um “dogão do Dadá”, dividindo o mesmo lanche, sentadas nos bancos da Matriz?

Não esquecendo das cenas tristes, das várias convulsões da Rafaela pelas ruas, onde quem clamava por ajuda (latindo sem parar), era a intrépida Marcela.

Em uma das internações da Rafaela, em clínicas de reabilitação psicológica e química, Marcela foi adotada por uma família. A separação foi necessária, para uma mudança benéfica nas vidas das duas amigas.

O fim da história da Marcela é desconhecido, só não, das suas inúmeras crias. São incontáveis “netinhos da Rafa” espalhados pela cidade, como carinhosamente mencionava os filhotes da Marcela.

Você pergunta agora, onde está a Rafaela?
Desde 2015, a Rafaela está em uma clínica especializada na recuperação de pacientes com transtornos químicos e mentais, localizada na região do Uirapuru.

Com os cuidados diários de medicações e alimentação, ela está totalmente diferente da antiga Rafaela das ruas.

Gordinha, com cabelos loiros longos, o sorriso constante e o jeitinho único de falar, demostram que está muito bem cuidada.

Como disse aos amigos do Conselho Tutelar: “Estou bemm e feliz,abraços à todos de Cosmópolis. Estou com muitas saudades das minhas colegas!!!”.

Uma notícia feliz aos incontáveis amigos da Rafaela, a sempre querida Rafa. Na próxima, com autorização da Clínica, postaremos um vídeo desta figura inigualável de Cosmópolis.

Texto e foto Adriano da Rocha
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