quinta-feira, 20 de setembro de 2018

RELEMBRANDO A “TUCA DA MÉLICA”

DIA DA SAUDADE
2008/ TBT/ Ainda ontem... 



Olha ela!!! Nossa saudosa “Tuca da Mélica”. Uma das personagens mais marcantes da história popular cosmopolense.

Cedinho ela já estava pelas ruas, percorrendo a cidade inteira com sua enorme cesta de palha, repleta dos seus famosos produtos, suas “coisinhas” e “negocinhos”, como ela dizia, “baratinhos para você me ajudar”.

“Tudo bem colega?! Heim, trouxe umas coisinhas “procê” me ajudar freguesa. Tem de tudo um pouquinho, dá uma “oiádinha” e compra pra ajudar eu”.

Com paciência, mostrava cada item ao cliente, enaltecendo com seu jeitinho único de falar, as qualidades e funcionalidades das “coisinhas”.

Na “cesta da Tuca”, na maioria produtos importados da china, trazidos por um familiar de São Paulo.

Nas palavras da “Tuca da Mélica”:” oiá tem chaveiros, canetas e canetinhas, lapiseiras, pulseiras, presilhas, “piranha que é de cabelo”, “coisinho para amarrar o cabelo”, muitas coisinhas e negocinhos bonitos, procê comprar e ajudar eu”.

O produto mais pedido e vendido, seu mais popular item, os imãs de geladeira, as “bonequinhas da Tuca”.

Eram pequenas bonequinhas de plástico, destas utilizadas em maquetes escolares e decoração de festas, o diferencial, a confecção artesanal das vestimentas.

Já surge na mente a Tuca, em frente sua casa na Avenida Ester, região da antiga rodoviária, tricotando. Parando à todo momento, acenando aos “fregueses amigos”, transitando pela movimentada Avenida.

Com extremo cuidado, a Tuca e familiares, confeccionavam roupinhas de tricô para cada bonequinha.
Surgiam “saiotinhos” e “chapelotes” nas pequeninas bonecas, tricotados em várias cores, roxos, vermelhos, amarelos, azuis, nas bordas, detalhes em fios brancos.

Um trabalho artesanal, feito com admirável minucia nos modestos detalhes, realçados com ornamentados de lantejoulas.

Com muito capricho e delicadeza, ela prendia parte dos produtos nas alças da cesta, cheinha dos seus “coisinhos” e “negocinhos”.

Cesta no braço, saia cedinho de casa, voltando com o balaio praticamente vazio. Tinha seus truques de venda, cativava com o olhar e a simplicidade, até conquistar a compra do cliente.

Resmungava sim, quando menosprezavam seus produtos, mas igual uma criança, não guardava magoas. Até dos zombares, como ela dizia “os caçoadores”, reprimia falando: “Deus tá vendo viu!!”.

Caminhando com seu modo bem peculiar, com um braço para traz e outro segurando à cesta, andava “ligeira” nos passos. Sequelas de um acidente, e marcas genéticas da sua formação congênita.

Os traços acentuados no rosto, a gesticulação ao conversar, seus “joínhas” ao cumprimentar e agradecer, o sorrisinho tímido, a voz de um timbre sem igual, são marcantes na memória dos cosmopolenses.

ETERNA MENINA DAS RUAS
Desde criança, possuía uma incrível disposição para as vendas, tudo que encontrava pelas ruas revendia.

Nos tempos do matadouro municipal, as sobras rejeitadas dos bois e porcos, como as vísceras, ela limpava com muita calma e cuidados, revendendo nas casas.

Os pesados baldes de alumínio, carregavam as carnes limpas, percorrendo os arredores oferecendo o peculiar produto.

As frutas das matas da Usina, ou das árvores das ruas, móveis, sucata, tudo transformava-se em produtos revendidos pela Tuca.

Sempre disposta, não rejeitava nada, distância ou cansaço, nunca serviram como impedimentos e desculpas.

Era seu jeito de ajudar à família nas despesas da casa, não por obrigação, mas por amor à sua “profissão de vendedora das ruas”. Foram mais de 50 anos, dedicados ao seu varejo popular, orgulhos da nossa menina das ruas.

Somente no fim da vida, acamada pelas complicações geradas pela diabetes, a irmã por cuidado, não aceitava suas saídas. A visão não era a mesma, as pernas cansavam facilmente, tombos começavam a ser constantes.

Aos 58 anos, a nossa menina terminou seu percurso na terra, encerrando sua missão de vida. Falecia Maria de Fátima Paes,  no dia 11 de maio de 2013, há exatos 5 anos, no Hospital Beneficente Santa Gertrudes.

Marcou época com sua história pessoal de vida, simples, humilde e até sofrida, mas dignificante em muitas passagens.
Participou sem perceber da sua importância, na criação de outras milhares histórias de vidas cosmopolenses.

Nossa menina, “Tuca da Mélica”, o motivo de infindas saudade e recordações. Merecidamente sim, resgatada neste dia consagrado mundialmente, como a “quinta-feira da saudade”.

Oh coisinha, Tuca, saudade de ti menina!!!

Texto e fotos Adriano da Rocha
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