AINDA ONTEM
Texto e foto Adriano da Rocha
Em 06 de novembro de 1941, uma triste quinta-feira, há exatos 77 anos. Estridente o telefone de baquelite tocava no escritório, a telefonista transmitia uma mensagem de Campinas. Com triste pesar, a funcionária da “Companhia Sino Azul” noticiava à direção da Usina Ester: “Dona Esther Nogueira, acabou de falecer”
Era acionada a velha sirene da Usina, colonos e pessoas da Villa de Cosmópolis, ficavam alarmados com o incessante som. O povo cosmopolense, somente ouviu a sirene ecoar daquele jeito, nos tempos da Revolução de 1932.
A triste notícia espalhava-se, ainda mais que o som incessante da sirene, ecoando pelos canaviais. Ouvia-se em Arthur Nogueira, Limeira, Paulínia e Americana. Em pausados toques, dobrando o tom de luto, os sinos do campanário da Igreja Matriz de Santa Gertrudes, confirmavam a notícia.
Muitos cosmopolenses choravam, sem ao menos conhece-la pessoalmente. Eram as dores da gratidão, lágrimas em respeito à sua memória, sentimentos de um povo benevolente, assim como, a matriarca do progresso regional.
Em comovida homenagem, o jornal “O Estado de São Paulo”, noticiava com destaque o falecimento de Esther Nogueira.
O renomado professor Nicolau de Morais Barros, sobrinho do Presidente Prudente de Morais, expressava os sentimentos do povo paulista, pela triste perda. Abaixo, trechos da histórica publicação.
“Tinha uma personalidade marcante e de singular relevo. Oriunda de tradicional família paulista, nasceu em Campinas, e ali cresceu e se educou. Seu pai, José Paulino Nogueira, campineiro dos mais ilustres, ali vivera longos anos, amando e honrando sua terra natal, prestando-lhe assinalados serviços e cobrindo-se de benemerência, durante a epidemia de febre amarela, como presidente de sua municipalidade.
Proclamada a república, e nomeados ministros Francisco Glicério e Campos Salles, amigos diletos dos quais nunca se separou, Campinas se revestiu de galas para receber os filhos vitoriosos.
Coube a menina Esther, então com 12 anos de idade, trajada de república e ostentando o barrete frígio na cabeça, cingir a fronte de Glicério com a coroa de louros simbólica, dirigir-lhe uma saudação de glórias, pronunciada com ênfase e vibração patriótica.
Foi mãe extremosa e desvelada de seus oito irmãos, o mais novo dos quais contava com meses de vida.
Repartiu-se entre o pai, o marido, os irmãos e os dois filhos que lhe vieram. Desdobrou-se em carinhos e cuidados, com uns e com outros, fez-se o centro da família, e tornou-se o ídolo da casa. Um símbolo de caridade para toda sociedade.
Possuía Dona Esther, em alto grau e perfeito equilíbrio, as edificantes virtudes femininas. Mas o traço característico de sua personalidade, a essência de sua formação moral, era a bondade.
Bondade espantosa, irreprimível e transbordante. Bondade que fluía das palavras que lhe afloravam aos lábios, que irradiava do seu olhar mortiço e doce, que inspirava os menores atos e gestos de sua vida e que a fez tão benquista dos que lhe aproximaram.
Muito caridosa, ela praticava a filantropia e de acordo com o preceito evangélico, escondida e ignorada.
Sua bolsa nunca se fechou a um pedido. Bem poucos, dentro dos seus íntimos, conheciam a extensa lista dos seu protegidos, aos quais prodigalizava, além do auxílio pecuniário mensal, interesse solicito e assistência material e moral.
Dotada de inteligência aguda e clara, e notável memoria, ela se deleitava em rememorar fatos e episódios dos seus tempos de moça, em Campinas, e os sabia contar com surpreendente minucia nos detalhes.
Muito sensível aos agrados e carinhos que recebia, não era o menos aos que se lhe recusavam. Magoava-se, doía-se, mas...perdoava
Presa ao seu leito de dores e sofrimento, por longos e intermináveis meses, ela teve os males do corpo agravados pela saudade torturante de um filho ausente, que sonhava rever, antes de fechar os olhos. Quis o destino que esse sonho não se realizasse!!
A sua morte despertou, na sociedade paulista, um sentimento generalizado de pesar. O seu funeral, constitui-se de uma tocante consagração, já pela desusada influência de pessoas amigas, já pela profusão das flores que envolveram o seu esquife” (...).
DORES DAS SAUDADES
A saudade marcante do filho Paulo Nogueira Filho, Paulito, foi um dos mais agravantes motivos da sua morte. Por ordem do ditado Getúlio Vargas, os combatentes paulista da Revolução Constitucionalista de 1932, foram expulsos do Brasil.
A saudade marcante do filho Paulo Nogueira Filho, Paulito, foi um dos mais agravantes motivos da sua morte. Por ordem do ditado Getúlio Vargas, os combatentes paulista da Revolução Constitucionalista de 1932, foram expulsos do Brasil.
Paulito, estava entre os principais responsáveis pela revolução paulista, escolhia-se o exílio fora do país, a condenação de morte. Estava vivo, porém, enquanto o ditador Vargas continua-se no poder, nunca mais poderia voltar ao Brasil.
Os familiares não podiam revelo, podendo serem condenados por conspiração ao regime do ditador Vargas. A mãe chorava a ausência do filho vivo, sem saber o dia, que poderia revelo novamente.
Essa angustia, debilitava a forte Esther, o filho estava exilado na Europa, que enfrentava a Segunda Guerra Mundial.
Qual amorosa mãe, não adoeceria nesta situação!!. Esther, faleceu aos 64 anos de idade.
Qual amorosa mãe, não adoeceria nesta situação!!. Esther, faleceu aos 64 anos de idade.
Paulito e outros combatentes paulistas de 1932, somente voltavam ao Brasil no fim da ditadura Vargas, em 1945.
OLHAR FOTOGRÁFICO
A foto em destaque, é o último registro de Dona Esther em vida, feito na varanda da Fazenda São Quirino. Na varanda, quando encontrava forças, ficava contemplando o horizonte da grandiosa fazenda. Olhando distante, na esperança de ver o filho regressando. O registro foi feito pelo neto, José Bonifácio Coutinho Nogueira.
A foto em destaque, é o último registro de Dona Esther em vida, feito na varanda da Fazenda São Quirino. Na varanda, quando encontrava forças, ficava contemplando o horizonte da grandiosa fazenda. Olhando distante, na esperança de ver o filho regressando. O registro foi feito pelo neto, José Bonifácio Coutinho Nogueira.
Texto Adriano da Rocha