MEMÓRIA COSMOPOLENSE
No dia dedicado ao amor, nossa mais tenra tradução cosmopolense da palavra namorados, o casal Elza Maria e Emilio Tetzner. Uma história que inspira a felicidade, motivando outros casais, a seguirem nesta mesma união de vidas e corações.
São 64 anos de casados, e 67 anos como eternos namorados. União de duas vidas, que constituiu o surgimento de outras vidas, reunindo três filhos, oitos netos e quatro bisnetos. Elza Maria está com 81 anos de idade, entusiasmado, Emílio prepara-se para comemorar os 89 anos.
Sitiantes, o apaixonante casal divide o amor à numerosa família e a terra, uma propriedade rural que perdura há mais de cinco gerações dos Tetzner.
Para conhecer a história destes namorados, fomos até o Serra Velha, onde residem em uma das propriedades mais antigas do bairro rural. Região que marca a divisa municipal de Cosmópolis e Limeira, que, antes da emancipação política e administrativa de 1944, pertencia totalmente ao território cosmopolense.
Na entrada da casa, toda revestida de pequenos azulejos esmaltados e cerâmica paulista, fomos recebidos nos jardins por Dona Elza. Um encantador jardim, criado e cuidado por Elza, com uma infinidade de flores das mais diversas espécies, destacando as enormes roseiras e cristas de galo.
Todo garboso, arrumando seu lenço branco no pescoço, tradição dos tempos da mocidade boiadeira, surge Emilio.
Com muito carinho, Elza “apruma” o lenço junto ao anel passador, ajeita sua roupa, e coloca o aparelho auditivo em suas orelhas. “Vamos conversar bastante sobre nós, é bom você estar com os ouvidos atentos. Nossa história é sempre juntos, não tem como contar sozinha”, fala Elza, arrumando Emílio.
Os cuidados com esposo, a atenção de Emílio com Elza, são marcantes em seus olhares, refletindo um fulgente brilho. Eis a marca dos apaixonados, o constante encontro dos olhares, marcante por este brilho, resplandecendo a todos, o amor entre o casal.
Na varanda, sentados “de apar”, como diz o paulista, as histórias vão sendo narradas. Um encontro de narrativas, pessoais do casal, familiares, e de amigos, na junção destas passagens de vidas, a história popular de Cosmópolis. Com altivez, vivida por estes importantes personagens cosmopolenses.
A memória preserva com detalhes o surgimento do namoro, há 67 anos passados, o encontro de olhares em uma “reza ao Bom Jesus”, no bairro Nova Campinas.
Naquele tempo, semanalmente as famílias reuniam-se para rezar, fazer orações e celebrar a fé aos santos de devoção. Cada semana, a reunião era realizada na casa de um devoto, sendo o encontro mensal de todas as famílias, nas capelas dos bairros.
Elza e Emílio são primos, filhos de uma das primeiras famílias de alemães da região, responsáveis pelo surgimento e desbravamento do Bairro Serra Velha, nos idos de 1840.
O histórico bairro rural, nasceu através de uma serraria criada pela família, a qual fornecia madeira das matas do Funil, para as obras da Catedral de Campinas. A velha serra, enorme e forjada em ferro, está conservada na tuia do sítio.
A família de imigrantes alemães, era dividida em luteranos e católicos convertidos. Emílio seguia as tradições católicas, Elza, ainda conservava a fé luterana dos pais. O encontro dos olhares, a aproximação do casal, surgiu quando Elza começava a frequentar as rezas, seguindo os irmãos que convertiam-se ao catolicismo.
“Meus pais, tiveram 13 filhos, todos nascidos e criados neste sítio. Quando os filhos foram casando, a família foi aumentando ainda mais. O nosso entretenimento, eram os bailes e rezas, realizados por meus pais e irmãos.
Naquela época, o respeito era tanto, que mesmo sendo primo da Elza, ela frequentando nossa casa, nunca havíamos nos aproximado. As rezas eram sérias, os bailes mais alegres, mas sempre com muito respeito, e atenção dos pais”, relata Emílio.
A aproximação do casal, o encontro dos olhares começou em uma reza no Nova Campinas, as primeiras palavras, na tradicional festa de São Francisco realizada pela família Frade, em Limeira.
“Foi linda essa época!! Caminhando por horas, saiam centenas de famílias de Cosmópolis, percorrendo estradas de terras e caminhos abertos pelas matas. Na frente, seguiam alguns cavaleiros, levando as prendas e ofertas para São Francisco, atrás, as mulheres, mães, avós, filhas e netas, por último os homens.
Era divertido, juntavam alemães, italianos, caboclada, tudo misturado, conversando, cantando pelos caminhos. O pessoal tinha charretes, troles e até trator, mas o costume era ir caminhando.
Chegávamos cansados nos Frades, lavávamos os pés, e começavam as rezas de São Francisco, ao fim, a festa e baile”. Recorda Elza, lembrando que depois de machucar os pés por causa dos sapatos, começou a fazer o percurso descalça.
“As moças quando eram solteiras, iam de calçados, sapatilhas enfeitadas, botinhas, tudo para impressionar o futuro namorado. A maioria na verdade, só tinha aqueles calçados, eram os sapatos de ir na Villa. Depois que o namoro estava firme, as moças faziam os percursos descalças. Ficava fácil conhecer quem era solteira e comprometida”. Declara Emílio, que relembra até os detalhes da sapatinha que usava Elza, a futura namorada.
Para namorar Elza, era necessário o consentimento dos seus pais, autorização imposta na época aos relacionamentos. Quem fazia o pedido não era o pretendente, mas sim, os seus pais. Com a autorização dada pelos pais de Elza, aos pais de Emílio, o namoro começava em casa.
As saídas, sempre juntos dos pais e irmãos, somente aconteciam depois de meses de namoro em casa, sempre com a mãe sentada no meio, e os namorados nos lados da velha “marquesa”, sofá de madeira.
Emílio recorda das saídas com Elza, sempre acompanhados da família.
“Há cada dois meses, íamos assistir filmes na colônia Carandina. Muitas películas eram transmitidas nos fundos do campinho, reunia uma multidão de gente. Chegavam famílias de todos os bairros rurais, até dos Pires, centro rural, Frades, ansiosos para ver os filmes.
Outro divertimento dos tempos de namoro, eram os bailes feitos na casa dos meus pais. Família muito grande, era certeza de terreirão cheio até na beira da tuia. Primeiro eram feitas as rezas, na sequência os bailes. O sanfoneiro era o Emílio Bomba de Artur Nogueira, ele pousava aqui, o baile durava dois dias, sexta e sábado.
Terminava a reza, servia pinga aos homens, anisete coloridos para as mulheres e crianças, seguindo o baile até na madrugada de domingo. Até domingo somente, por causa da missa e pela santidade do dia.”, relembra sorridente Emílio.
Em 1955, acontecia o casamento somente no civil, realizado pelo Tharcilio Mattioli, oficial e tabelião do cartório, sendo padrinhos o “Michel da Loja” e o Jorge Baracat do depósito. Os dois eram Tetzner, devido ao parentesco, mas mesmo assim, ela fez questão de preservar o seu Tetzner, ficando Elza Maria Tetzner Tetzner.
Por questões religiosas, Elza ainda não era batizada no catolicismo, e principalmente pelas burocracias da igreja, então comandada pelo Padre Germano Prado, o casamento só aconteceria em 1966. A celebração foi realizada pelo Monsenhor João Batista Maria Rigotti, pároco que considerava muito o casal.
Qual o segredo do casal, para preservar no casamento, o amor e os sentimentos de namorados?
“Respeitar as diferenças, somente assim, existirá a união de duas vidas diferentes, em uma só. O amor nunca morre, quando é verdadeiro, só aumenta. Na verdade, transformar-se em um sentimento ainda mais nobre, a eterna gratidão”. Enfatiza Elza.”
“Acreditar que o amanhã, sempre será um novo dia para recomeçar, aprimorar os acertos e consertar os erros. Nada na vida é fácil, mas quando o casal se ama, tudo vai descomplicando com o apoio deste amor’’, declara Emílio.
Aos casais de eternos namorados, uma história para inspirar e preservar a união . Aos novos casais de namorados, uma história para seguir como motivação, na união de duas vidas, em uma só no futuro matrimonio. FELIZ '' DIA DOS NAMORADOS''
Foto Paola Marques
Texto Adriano da Rocha
Agradecimentos especiais a Branca Tetzner, filha do casal Elza e Emílio. Não esquecendo do gostoso café da tarde, com legítimas iguarias da nossa culinária cosmopolense, feitas com muito carinho pela Dona Elza.