Dia 25 de julho de 1931 - Há exatos 88 anos em Cosmópolis!!!
Cosmópolis amanhecia aos sons do campanário da Matriz, propagando as celebrações religiosas em louvor à São Cristovão, o “Padroeiro dos Motoristas”. Na tradição Católica Paulista, o Santo protetor daqueles que exercem seus trabalhos com o auxílio de conduções, sejam por trações mecânicas ou animais.
As celebrações ao Santo, consagrado por transportar doentes pelas águas, salvando o Menino Jesus, estavam entre as mais importantes do calendário Católico cosmopolense. As celebrações eram realizadas sempre nas manhãs do dia 25 de julho, reunindo centenas de fiéis e trabalhadores dos transportes.
Houve períodos, como nos anos 1920, construção da primeira Igreja Católica de Artur Nogueira, que reuniam-se fiéis das duas “villas”, com gigantescas procissões pelas estradas. Sendo o ponto principal de encontro e bênçãos de São Cristovão, o Largo da Igreja Matriz de Santa Gertrudes.
OLHAR NA FOTO1931 - O Largo da Igreja Matriz de Santa Gertrudes, então conhecido como “Praça Isabelita Vieira”, ficava repleto de carros, carroças, carroções, charretes, troles, cavaleiros e até bicicleteiros.
Pelas atuais ruas Campinas e Campos Salles, chegavam mais conduções, carros de bois, enormes carritelas e carroções, vindos da Fazenda Usina Ester, Nova Campinas, Serra Velha e Pinheirinho, e demais bairros rurais e núcleos.
A frota inteira da Usina Ester participava das celebrações, eram dezenas das mais variadas conduções agrícolas, como a maioria dos veículos automotivos existentes em Cosmópolis.
Seus condutores aguardavam nas escadarias da Igreja, acompanhados de uma multidão de fiéis. Seguindo as tradições do dia em Cosmópolis, a missa era campal, realizada nas escadarias da velha Igreja Matriz, projetada por Ramos de Azevedo.
Na madrugada do dia 25 de julho, um grupo de fiéis saia em buscas por uma típica flor laranja, nascida nos locais mais surpreendentes, semeada pelos ventos.
Era a icônica flor de São Cristovão, florzinha de um intenso tom laranja, típica na maioria das terras brasileiras, encontrada em meio aos matos, beiras de calçadas e muros, a mais popular das flores dos campos e cidades.
As pequenas flores, muitas vezes menosprezadas por serem consideradas mato e erva daninha, ornamentavam os pés de São Cristovão. O Intenso laranja das florezinhas, destacava-se entre rosas, lírios e outras flores mais nobres e ornamentais.
Ao término das celebrações litúrgicas da missa, seguia a procissão dos condutores e seus veículos pelas ruas de Cosmópolis. Saindo da atual Rua Campos Salles, a procissão seguia pela Avenida Ester até a Rua João Aranha, para as bênçãos da Estação.
Na frente da procissão, um caminhão da Usina Ester, um “Fordinho 1929 bigode”, levava em um andor todo enfeito na carroceira, a imagem de São Cristovão. Acompanhava o Padre e autoridades religiosas, seguidos das corporações musicais.
Uniam-se as corporações musicais, como a tradicional “Corporação Musical de Cosmópolis” e a “Corporação Musical dos Sorocabanos”, regidas pelos mestres Antônio Tavano e Ataliba de Carvalho, interpretando marchas em louvor á São Cristovão.
As corporações cosmopolenses com suas origens militares, seguiam uma tradição dos tempos do império, nas honrarias musicais em louvor ao santo, consagrado como um dos protetores do exército.
Uma tradição dos tempos da “Carril Agrícola Funilense”, era preservada pelos maquinistas e funcionários da "Companhia Sorocabana". Várias torras e pedações de madeira, usadas pelos foguistas nas fornalhas que movimentavam os trens, eram abençoadas na missa. Uma parte simbólica do madeiramento era trazido por carroções, ficando expostos nas laterais da Igreja.
No roteiro da procissão de São Cristovão, um dos pontos principais era a estação de trens, localizada na atual "Praça dos Estudantes", popular "Praça do Relógio do Sol". O Pároco realizava a benção da estação e das madeiras a serem utilizadas pelos trens.
Nesta data, até mesmo os trens seguiam e chegavam em horários especiais em todo o Estado. Na maioria das cidades paulistas, as estações e suas locomotivas recebiam as bençãos de São Cristovão.
A procissão voltava para a Igreja Matriz de Santa Gertrudes, seguindo pela Campos Salles, ondem eram realizadas as bênçãos aos condutores e suas conduções. Quarteirões de conduções, ruas de terras marcadas pelas marcas das rodas.
Cada condutor recebia uma pequena flor de São Cristovão, as mesmas que ornamentavam o andor. A florzinha laranja, era guardada com carinho e devoção, como uma proteção divina. A interseção de São Cristovão junto ao Menino Jesus, nos caminhos da vida.
“São Cristóvão, protegei-me e ajudai-me nas minhas idas e vindas a saber viver com alegria, agora e sempre”.
Amém!
Amém!
Texto e foto Adriano da Rocha