segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Adeus Duílio de Faveri, o "Rei da Sanfona", maestro dos grandes bailes e alegria

  LUTO

O Instrumentista foi uma das principais referências musicais de Cosmópolis na região

  Na segunda-feira (10), faleceu aos 92 anos de idade, o cosmopolense Duílio Marcelo De Faveri, o popular Duílio Sanfoneiro. Extremamente querido e conhecido em toda região, popular pelos empreendimentos agrícolas e imobiliários, mas especialmente pela música. Seu alento e inclinação desde os nove anos de idade. 

Foram mais de 80 anos dedicados à música, sua paixão desde criança

Casado com Jesuína De Faveri, deixa os filhos Rodnei, Edna e Ednéia De Faveri e netos, assim como inúmeros familiares e amigos. Duílio De Faveri foi uma das principais referências musicais de Cosmópolis, principalmente na instrumentação da sanfona. Sua querida companheira de bailes, festividades, estúdios e até profissão, durante mais de 80 anos. Paixão que surgiu na infância, acompanhando o sanfoneiro até o último dia da sua vida. 


DAS LAVOURAS À SANFONA 

Aos 88 anos de idade, animava bailes da terceira idade e eventos na região

Duílio era um dos oito filhos do casal Zelinda Leoni e Pedro De Faveri, entre os percursores dos desbravamentos da região do Morro Castanho, atualmente formado pelos bairros Cidade Alta, Andorinhas, Jardim de Lurdes, Parque São Pedro e Jardim De Faveri, terras pertencentes à família, loteadas nos anos 1970 e 1980. Muitos destes loteamentos da família, como o Parque São Pedro, foram criados na sociedade dos irmãos Duílio e Servilio De Faveri, responsáveis pelos serviços de terraplanagem e vendas. 

Antes dos loteamentos e divisão das terras, arduamente com os irmãos e pais, trabalhou desde criança nas lavouras da família. Sempre plantando e colhendo, algodão, laranja, cereais para a beneficiadora de arroz e milho da família, e cortando muita cana-de- -açúcar, sobretudo para as produções de água ardente, a famosa pinga dos alambiques do “Pedro Faveri”. As produções eram intensas e prestigiadas nacionalmente, fornecendo toneladas de pinga para as empresas Tatuzinho e 3 Fazendas, entre as mais importantes marcas da época.

 A paixão pela música foi uma consequência das constantes festividades da família, como dizia a italianada cosmopolense, sempre “coalhadas de gente, comida e arrasta-pé”. 


REI DA SANFONA E ALEGRIA

Anos 1940 - Trio Juquita, Gauchinho (Duílio De Faveri) e Tininho

 Aos nove anos de idade, um franzino menino, ganhou do pai sua primeira sanfona. Mal conseguia segurar o pesado instrumento, foi aprendendo ouvindo os velhos sanfoneiros da região, sendo seu primeiro professor o acordeonista Chico Bedin, conhecido “Chico Celeiro”. 

Com 16 anos de idade, já era considerado um dos maiores talentos da região, acompanhando duplas, realizando apresentações em casamentos, batizados e grandes eventos. Sua notoriedade no instrumento crescia com as apresentações, formando seus próprios conjuntos de bailes, como a “Bandinha do Duílio”.

 “Os palcos, naquela época, eram as mesas de jantar das famílias, mas daquelas de madeira maciça, para aguentar o sanfoneiro e sua sanfona. Quando não trepavam na mesa os violeiros, tudo para garantir a sonoridade na altura, já que não tínhamos, e nem existia, caixas ou cornetas de som. Fiz muito baile assim, eram os melhores, como os mais animados. 

Muitas vezes, o pagamento era comer nas fartas ceias de casamento, demorou para ganhar uns cobre. Mas não reclamo, tenho é muita saudade. A minha sanfona pesava mais de 30 quilos, por isso, a técnica não é somente em tocar, mas envolve postura e manuseio, para continuar firme até o fim do fandango, garantido o limpa banco. 

O acordeom, harmônica como dizem no sul e Argentina, concertina na Itália, a sanfona como falamos em São Paulo, é considerado uma pequena orquestra. Somente é um grande sanfoneiro, quando você é o maestro desta orquestra, regida e tocada, por uma pessoa só” (...), declarou Duílio de Fáveri, ao programa Rancho da Saudade, transmitido na Rádio Cabocla FM, em 1999. 

1969 - Famoso Conjunto da Saudade, em destaque na foto estão:  Flávio Taboga, Guilherme Hasse, Nego, Duílio De Faveri e Godói


Com suas bandas, trios e intervenções musicais, marcou diversas épocas e gerações cosmopolenses. Como esquecer dos bloquinhos carnavalescos do Duílio, inúmeros, formado pelas crianças da numerosa família De Faveri e amigos. Sempre festivo e carismático, inventou o “trenzinho do Duílio”, criado usando um trator e vagões adaptados para levar a criançada.

 Era a sensação nas ruas de Cosmópolis, recebendo convites de toda região para desfilar. Uma versão anterior das atuais carretas e trenzinhos, animada ao som da “Bandinha do Duílio”, com sua inconfundível sanfona e cantores. Os bloquinhos infantis, charangas e bandas do Duílio, eram as apresentações mais esperadas nos desfiles cívicos e celebrações do aniversário de Cosmópolis, sendo uma das principais atrações dos eventos municipais. 

1970 -Festa junina do Cosmopolitano, em destaque na foto começando da esquerda:  Bento Cabrino, Hugo Taboga, Toninho e Duílio De Faveri

Não esquecendo das festividades juninas e carnavais cosmopolenses, sempre figura marcante nos bailes do Cosmopolitano Futebol Clube, salão de festas da “Escola Alemã”, Usina Ester, como nas comemorações da Avenida Ester, animando as festas livres populares. Foi um dos idealizadores da nova Sociedade Beneficente do Mútuo Socorro, recriando o histórico prédio de saúde para eventos festivos, surgindo a “Sociedade Recreativa e Dançante Veteranos de Cosmópolis”. O amor pela música dividia espaço com o Palmeiras, seu time de coração, mas também foi entusiasta do futebol municipal. Ao lado do irmão Dionísio De Faveri, defendeu vários times cosmopolenses, atuando como goleiro nos campeonatos regionais. 

1955 - Duílio e o bloquinho infantil "Me dá um dinheiro haí", formado por alunos do Grupo Escolar Rodrigo


No início dos anos 2000, criou o famoso “Pesqueiro e Bailão do Duílio”, um dos maiores espaços de entretenimento da cidade, com 18 mil metros quadros de área. Foi uma majestade no instrumento e empreendedorismo, como na humildade. Exemplo máximo de um legítimo cosmopolense, apaixonado por sua terra, sobretudo a família e amigos. 


Descanse em paz velho sanfoneiro, vá com Deus, animar a grande orquestra celestial. O baile agora será realmente da saudade, mas sempre com muito orgulho deste “Rei cosmopolense da sanfona”. 


Texto Adriano da Rocha 
Fotos acervos família De Faveri e Grupo Filhos da Terra

Matéria publicada na edição impressa do jornal  "O Cromo"
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