GRANDE ENCHENTE DE 1970 Texto e Fotos Adriano da Rocha |
Casa das máquinas da Usina Esrer na manhã do dia 25 de Fevereiro. |
Ponte sobre o Rio Jaguari uma semana antes da grande enchente, que na madrugada do dia 24/02 destruiu totalmente a ponte. |
Os últimos meses do ano de 1969 ficaram marcados em todo o estado de São Paulo como meses de uma grande estiagem que teve inicio em grande parte do estado no final do mês de Setembro. Em Cosmópolis o clima seco era insuportável e a falta de chuva já alarmava a cidade, agricultores contabilizavam os prejuízos nas lavouras de várias culturas, principalmente na cana de açúcar que na cidade de Cosmópolis era o carro chefe do setor agrícola, setor que movimentava a cidade financeiramente na época. O ano de 1969 terminava, e o mês de Janeiro começava trazendo esperanças aos agricultores com uma pequena chuva no dia 11, a chuva cessou no dia 12 e continuou forte até o dia 17, quando em 18 de Janeiro às águas dos rios Jaguari e Pirapitingui já mostravam suas forças e o inicio da grande enchente, técnicos da Usina Ester já alertavam a prefeitura. O nível do Rio Jaguari chegava a 4 metros acima do normal do mesmo período no ano de 1969. Na manhã do dia 19 de Janeiro as chuvas eram fortes, um homem caiu com sua charrete da ponte do Rio Pirapitingui , o cavalo morreu na hora, e o homem foi levado em estado grave ao hospital das clinicas em Campinas no distrito de Barão Geraldo.
Ponte sobre o Rio Jaguari em Setembro de 1969 na época de estiagem. |
A força das águas do Rio Pirapitingui foi tamanha que destruiu uma parte do famoso Paredão, e trouxe pânico aos moradores de colônias próximas à represa do rio. Algumas casas das colônias do Jaguari foram invadidas pelas águas, e casas da colônia do Ranchão tiveram seus telhados desabados pela força das chuvas que eram incessantes e diárias. A Usina estava em alerta, os rios subindo metros em poucas horas pela intensidade das chuvas, no céu imensas nuvens de chuva se formavam entre os pequenos intervalos de calmaria, que logo eram interrompidos por fortes chuvas. A cana que nos meses da estiagem não crescia, nas semanas da enchente cresceram mais de dois palmos, cana adora água, e para os canaviais o período das águas foi de fartura, ao contrario para os moradores e funcionário da Usina Ester que narram as semanas da enchente como um período que ficou marcado pelo pânico e lembrado por muitos colonos como o “fim do mundo”. Abaixo alguns trechos do diário da Usina Ester sobre a enchente de 1970, recolhidos do livro de 100 anos de história da empresa.
13h00 horas – “Chuva, chuva, chuva, não quer mais parar. Parece
que iremos voltar a 1929, nunca choveu tanto assim, a cana cresceu nas últimas
horas um palmo, vamos ter safra de oito meses. Às 13 horas do dia 22, o Sr Ebeling
dá ordens para preparar todas as talhas existentes na Usina Ester, e
prepara-las para o pior. Em caso de perigo vamos usá-las para levantar as
maquinas da casa de força”.
“A pinguela sobre o rio não resistiu mais, o rio subiu 70 cm em menos de 4
horas, e outra forte pancada de água a cair. Vai mesmo voltar 1929, precisamos
prever o impossível. Às 14h30min o senhor Maia chega a Usina pedindo apressadamente
cordas e câmaras de ar para salvar um homem que caiu da ponte do Pirapitingui”.
“As noticias na região são alarmantes. O Dr. Paulo Neto colocou um jipe à disposição do prefeito de Cosmópolis para que ele possa verificar situação geral do município. ”
“ Às 15h30min horas. O senhor José Toledo vem correndo da repressa dizendo para providenciar imediatamente pessoas com ferramentas e sacos vazio para fazer uma barragem lá. O paredão corria o risco de desmoronar. Gente trabalhando a todo lado, quando chega noticias da casa de força, faltava menos de 1.60 metros para a água invadir o salão das maquinas. A situação está perigosa. ”
“ Às 19h00. Está escuro mais os serviços na ponte continuam. Na casa de forças faltam 1.40 para a água entrar. O senhor Ebeling dá a seguinte ordem: no momento em que faltar 1 metro vamos parar os geradores e iniciar os trabalhos para levantar as maquinas. Chamou o senhor Carlos Capraro e informou a respeito, ele deve comparecer com todos os carpinteiros. O Dr. Paulo Neto foi até a represa e ficou impressionado com, faltavam menos de 1,26 metros para às águas invadirem a casa de força.”.
“As noticias na região são alarmantes. O Dr. Paulo Neto colocou um jipe à disposição do prefeito de Cosmópolis para que ele possa verificar situação geral do município. ”
“ Às 15h30min horas. O senhor José Toledo vem correndo da repressa dizendo para providenciar imediatamente pessoas com ferramentas e sacos vazio para fazer uma barragem lá. O paredão corria o risco de desmoronar. Gente trabalhando a todo lado, quando chega noticias da casa de força, faltava menos de 1.60 metros para a água invadir o salão das maquinas. A situação está perigosa. ”
“ Às 19h00. Está escuro mais os serviços na ponte continuam. Na casa de forças faltam 1.40 para a água entrar. O senhor Ebeling dá a seguinte ordem: no momento em que faltar 1 metro vamos parar os geradores e iniciar os trabalhos para levantar as maquinas. Chamou o senhor Carlos Capraro e informou a respeito, ele deve comparecer com todos os carpinteiros. O Dr. Paulo Neto foi até a represa e ficou impressionado com, faltavam menos de 1,26 metros para às águas invadirem a casa de força.”.
Represa do Rio Pirapitingui (Paredão) em registro feito na primeira grande enchente de 1929 |
A enchente de 1970 ficou marcada na história de Cosmópolis e
principalmente na história da Usina Ester, a força das águas trouxe inúmeros estragos
e prejuízos para empresa, o rompimento de barragens, a destruição de pontes, e
a perca de maquinários danificados pela invasão das águas nos barracões da
Usina, algo nunca imaginado que poderia acontecer devido à altura das
instalações. A força das águas foi algo monstruoso e sempre narrado pelos
antigos moradores que vivenciaram o poder de força das águas com palavras de
medo e aflição, como escrito no inicio da postagem o “fim do mundo”. No paredão
nos dias de hoje ainda pode ser encontrado alguns pedaços do rompimento das
barragens, que destruiu uma parte do local. Também em alguns trechos do Rio
Jaguari que cortam as terras da Usina Ester, ainda existem destroços das pontes
destruídas pela força da enchente, e no local conhecido como “Poção” às vigas
de tijolos e pedras que serviam como alicerce para ponte levada pelas águas,
uma construção do final do século 19, que ligava as terras da Usina a atual
cidade de Americana.
Registro fotográfico feito no dia 25 de Fevereiro depois da destruição da ponte pelas águas do Rio Jaguari. |