segunda-feira, 28 de março de 2016

Luto Cosmopolense: Adeus José Honorato Fozzati

  Texto e fotos Adriano da Rocha
Aos 73 anos, faleceu na madrugada de segunda-feira(28), um dos maiores defensores de Cosmópolis



  Faleceu na madrugada desta segunda-feira ( 28), aos 73 anos de idade , José Honorato Fozzati , ou, popularmente como era conhecido, “ Zé Norato do Ecin”, vitima de um infarto , decorrente de várias complicações de saúde que enfrentava nos últimos anos. Seu corpo será velado para a última despedida, na “Loja Maçônica 31 de março”, localizada na Rua Antônio Carlos Nogueira, 1860, saída para Paulínia/Campinas. O corpo despede-se da “Grande Loja” às 16h00, saindo em cortejo para o sepultamento no Cemitério Municipal da Saudade. Autoridades municipais decretaram luto oficial de três dias, pavilhão cosmopolense hasteado a meio mastro.

   Em 1943, nos fundos da antiga casa comercial dos Fozzati, uma loja de armários e alfaiataria da família, localizada na Rua Campinas, esquina com a Rua Campos Salles, local onde funcionou durante décadas a primeira Lotérica de Cosmópolis, nascia José Honorato, o 4ª filho do casal Dinorah Frungilo e Honorato Fozzati, o popular Honorato alfaiate. O menino muito tímido e reservado (traços que o acompanharam por toda a vida), começou a trabalhar ainda criança para ajudar a família. Aos 7 anos de idade, seu primeiro emprego foi como ajudante de marceneiro da lendária “ Oficina de Marcenaria e Carpintaria Tavano”, comandada pelo mestre Paulo Tavano.

   
Final dos anos 50, José Honorato (terceiro de roupas brancas), junto aos irmãos e familiares, em frente a Alfaiataria e armarinhos Fozzati, localizado na Rua Campinas esquina com a Rua Campos Salles. O prédio ainda resiste aos mais de 70 anos de sua construção, assim como o esplendoroso pé de manga, que pode ser visto no lado direito da foto ao fundo.

  O menino franzino ficou pouco tempo neste ofício, os trabalhos eram extremamente árduos para uma criança, foi quando o saudoso casal Constantino Ferreira , “Tita Bichara” e sua esposa Dona Júlia, convidaram José Honorato para trabalhar na “Loja do Tita”, onde permaneceu como ajudante durante anos. Os trabalhos na Loja do Tita começavam somente à tarde, depois de sair das aulas no “Grupo Escolar Rodrigo Octávio Langard de Menezes”, Escola do Rodrigo. Quando o tio Milton Frugilo tocava a sineta anunciando o término das aulas, José descia correndo a Campos Salles para almoçar e, rapidamente já ir para as ocupações na Loja do Tita. Na loja que tinha de tudo, Fozzati, montava móveis, vendia pregos por quilo, cortava tecidos, fazia de tudo, uma verdadeira escola, com o velho Titia, um dos mais habilidosos comerciantes de Cosmópolis.
  
  
 A velha Cosmópolis crescia as margens da Cia Sorocabana, em um progresso comercial incrível, o velho Honorato já não dava conta dos inúmeros pedidos de ternos e calças, clientes de toda a região procuravam seus serviços e do irmão Tharcílio Fozzati. Profissionais do corte e costura, “moldados” pelos mestres da alfaiataria Irmãos Nallin. Para ajudar o pai, José deixou a Loja do Tita e começou a aprender o oficio de alfaiate, trabalhando ao lado do irmão Antônio Carlos e das irmãs Maria Therezinha, Maria José e Maria Aparecida.
Final dos anos 50...Alfaiataria Fozzati, com suas maquinhas Singer "a toda pedaladas", movimentadas pelos irmãos Fozzati, comandados pelo mestre Honorato Fozzati, patriarca da família. José é o primeiro ao lado esquerdo.


  No fim dos anos 50, José Honorato e cerca de cem alunos, inauguravam o Ginásio Estadual Dr. Paulo de Almeida Nogueira, o popular Gepan, a turma constituíram os primeiros formandos ginasiais de Cosmópolis. Aos 19 anos, José Honorato ingressou os estudos no tradicional “Grupo Escolar Culto a Ciência”, centenária escola campineira, responsável pela formação acadêmica de vários imortais paulistas, como governadores, deputados e senadores . Para ajudar o pagamento das mensalidades escolares, José era contrato como escriturário do primeiro escritório de contabilidade de Cosmópolis, a “Aldohir Miguéis Contabilidade e Advocacia”. Nascia em 1962 às primeiras linhas da sua maior paixão a contabilidade, ramo comercial que dedicou intensamente todos os dias de sua vida.
  
1958..."Ginásio  Estadual  Paulo Almeida Nogueira", popularmente conhecido pela abreviação GEPAN. Foto oficial do ano de inauguração da escola, que recebia o nome de um dos principais diretores da Usina Ester, Dr Paulo Nogueira, esposo de Ester Coutinho Nogueira, genro de José Paulino Nogueira.

  Em 1965 ingressou os estudos na PUCC Campinas, formando-se anos depois em Ciências Econômicas pela instituição. Neste período acadêmico, José estudava e residia em uma pensão em Campinas, voltando para Cosmópolis somente quando sobrava algum dinheiro, para pegar a famosa “poeirinha”, nome das jardineiras que faziam o trajeto, ou odisseia, devido a condições das estradas de terra que ligavam Campinas à Cosmópolis, o apelido “poeirinha” era por esse motivo.

  Formado pela PUCC, em 1967 recebia o convite de Osvaldo Heitor Nallin, para trabalhar na administração do Escritório de Contabilidade Irmãos Nallin, o popularmente conhecido “ECIN Contabilidade”. Nascia então uma amizade e uma parceria, surgia José Honorato no ECIN para rescrever a história comercial cosmopolense, desta empresa que há quase 60 anos é um dos escritórios mais respeitados da região, responsável pela contabilidade fiscal, tributária e administrativa, de milhares de empresas da cidade e região.
  
  Confesso que ainda estou conturbado pela notícia de seu falecimento, escrevi essas linhas recordando os fatos que ouvi de sua vida, contados por ele mesmo em nossas conversas no ECIN, e outras demais prosas as quais durante horas conversava com meu pai, também saudoso, Juvenil da Rocha. Meu pai estudou com José, uma amizade que teve início nos anos 50, quando meu pai entregava carnes para o açougue do Garutti, e José Honorato entregava de casa em casa, revistas e jornais da banca do Alaor.
Em 2015,  alunos da Escola Rodrigo, homenageavam o ex aluno e defensor do antigo Grupo Escolar. Já debilitado pela doença, Fozzati buscou forças, desceu com ajuda as escadarias do Ecin e, foi ouvir a "Fanfara do Rodrigo", a qual tem José Honorato Fozzati como seu patrono. Foi está uma das últimas homenagens que José Honorato recebeu em vida. (Foto Ismael Silva)

  Um político que não era político, foi candidato uma única vez, atendo a pedidos de amigos e do sócio Osvaldo Nallin. Naquela época praticamente era obrigado pessoas ligadas ao comercio serem filiadas a um partido, no caso ARENA ou MDB. José Fozzati foi candidato a prefeito pelo MDB em 1972, perdendo para Orlando Kiosia. Com muita sabedoria e orgulho ouvi do amigo: “Por muita sorte não venci, não sou político, mas se tivesse, nunca que a estação seria demolida ”. Em 1973, por caprichos políticos de um grupo da cidade, a antiga Estação da Funilense foi totalmente demolida, para na época dar lugar a nova Rodoviária, projeto que nunca saiu do papel.

  Cada geração de cosmopolenses  terá uma lembrança do José Honorato, a geração 70 e 80, turminha da minha mãe, lembraram-se do Fozzati na extinta “Escola do Comércio “, como professor de matérias extremamente técnicas, como matemática, contabilidade e administração, as quais lecionava com verdadeira paixão pelos números e seus cálculos. Os alunos lembraram-se do professor e, também do querido Diretor Escolar do Comércio, sempre compreensivo e tolerante, um administrador escolar, consolidador e conselheiro das centenas de alunos da renomada Escola Técnica de Cosmópolis.

  A quem se lembrará do empreendedor, do conselheiro e amigo comercial de Cosmópolis, o Zé do Ecin ou Zé da Acico. Na Associação Industrial e Comercial de Cosmópolis (Acico), ao lado do saudoso Milvio José Di Sacco, o Milvio da Utilar Magazine, foi um dos percursores da instituição, responsável pela construção da Sede da Associação , e graças a sua luta o não fechando da Acico no final da década de 80, que enfrentava uma grave crise financeira.

  Na Loja 31 de Março, foi um dos fundadores da Sede e da oficialização da Maçonaria em Cosmópolis, ao lado de Frederico Capraro, Sidney Crepaldi, Miguéis e outros veneráveis. História maçônica cosmopolense ,que começou em um pequeno barracão comercial ao lado da casa de sua irmã Maria Fozzati, na Avenida Ester, local onde funciona atualmente uma Loja de Embalagens. Na loja, foi Aprendiz, Vigilante e Venerável Mestre. Aos cosmopolenses, a memória das grandes festas da “Feira Comercial e Industrial de Cosmópolis”, organizadas por José Honorato e irmãos, para construção da Loja 31 de Março, onde se apresentaram cantores como Jessé, Sérgio Reis, Chacrinha e suas Chacretes, Jair Rodrigues, entre inúmeros “astros dos discos e televisão”.
Março de 2016..No registro fotográfico a reunião da família Morais Fozzati: Mariana Fozzati, Aparecida Moarais, Daniel Fozzati e José Honorato Fozzati.

  José Fozzati, participou intensamente da vida comercial e filantrópica cosmopolense, dentro e fora do Ecin, foi presidente da ACICO, do Hospital Beneficente Santa Gertrudes (cargo que ocupou quando estava extremamente debilitado ), presidente do antigo Grêmio, Lions, conselheiro, fiscal e demais cargos no Cosmopolitano, uma lista imensa de contribuições às instituições cosmopolenses.

Enfim, tanta história para contar deste homem que fez história e, adorava resgatar e contar a história de Cosmópolis. José Honorato, foi o pioneiro a resgatar a história de Cosmópolis, digitalizando antigas fotos de amigos e clientes do ECIN. Um resgate que se tornou uma de suas maiores paixões da vida, exposta em todas as paredes do seu escritório, contada em dois livros que escreveu, “As Crônicas de uma cidade chamada Universo”, que virou até peça teatro nos palcos da “Escola Paulo Freire”, ou escrito semanalmente na coluna que escreveu durante anos no jornal “Gazeta de Cosmópolis”.
Na Gazeta de Cosmópolis, com certeza José Honorato trouxe com sua coluna, ou entrevistas especiais falando sobre a “antiga Cosmópolis”, um dos mais importantes resgates históricos de nossa cidade. Semanalmente na Gazeta, Fozatti semeava em palavras o amor e respeito a nossa história, imensuravelmente um trabalho magnifico sem precedentes. Trabalho o qual tive a oportunidade de contribuir, e hoje luto para perdurar com o mesmo afinco e amor, com o nosso “Acervo Cosmopolense”.
2015\ Prédio do Escritório Ecin na Avenida Ester, neste local Prédio Ana Victória, desde o início dos anos 2000, são realizados os trabalhos empresariais da equipe de Fozzati. (Foto  Ecin)

  Faltam palavras neste momento, Cosmópolis está de luto. A cidade perdeu um dos seus maiores defensores, o filho que amou intensamente a Mãe Cosmópolis, por 73 anos de sua vida neste chão. Aqui nasceu e escolheu Cosmópolis, para dedicar sua vida a construir a história de seus filhos, através do seu trabalho, e escrever e rescrever a nossa história. Merece o descanso velho guerreiro, os braços do Grande Arquiteto Do Universo esperam a sua chegada.

  Interceda por  sua querida Cosmópolis junto a Deus, assim como fez aqui na terra, com o mesmo amor e dedicação. Ficarão desmedidas saudades, assim como um colossal legado de honra e respeito à Cosmópolis. Em nome do povo cosmopolense, OBRIGADO José Honorato Fozzati. Vai em paz velho amigo.

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