quinta-feira, 16 de novembro de 2017

ETERNA HOMENAGEM À MATRIARCA DA FAMÍLIA

16/11= Dia de Santa Gertrudes, Padroeira de Cosmópolis
 Entre boatos e lendas, a verdadeira história da escolha da santa
Texto e fotos Adriano da Rocha

"Santinho" distribuído nas festividades do dia da Padroeira em 1918- Acervo Adriano da Rocha


  Esposa, companheira do Major Arthur Nogueira, ou amante de José Paulino, inúmeros absurdos marcam a história da Padroeira de Cosmópolis. Um certo mistério, sempre assinalou vários “porquês” da escolha de Santa Gertrudes.
Em quase 120 anos, período que marca a compra e chegada oficial da família Nogueira nas terras do Funil, histórias infundas e levianas, foram sendo perpetuadas como reais na sabedoria popular. Sem contestação, incoerências chegaram a ser oficializadas em diversas mídias impressas, sendo publicada até mesmo em periódicos da comunidade católica.

1957Publicação criada pela Igreja Matriz de Santa Gertrudes, em comemoração ao aniversário de inauguração da Igreja Matriz. Folheto, impresso na arquidiocese de Campinas (Acervo Adriano da Rocha)


“LOUVAMINHAR “
A verdadeira história, o motivo da elevação de Santa Gertrudes como Padroeira, acabou ficando esquecido, ao meio de tantas versões infundadas.
Contrariando e desmentindo muitas versões, até da escolha por ser conhecida como intercessora dos agricultores, o verdadeiro motivo foi somente uma homenagem póstuma.
Onde os filhos, vinculariam com amor e fé, o nome da progenitora da família, ou, como registrou a imprensa campineira na época, “louvaminhavam” a lembrança da mãe.
Em memória de Gertrudes Eufrosina Nogueira, Dona Tudinha, matriarca da família Nogueira, Santa Gertrudes era enaltecida como Padroeira da Villa de Cosmópolis.


Setembro de 1915/ Registro feito no dia da inauguração da Matriz de Santa Gertrudes. No local onde existia a Capelinha, foi edificado uma santa cruz. Em destaque, um pé de Nogueira, simbolizando as raízes da família Nogueira na nova terra. Ao fundo várias árvores plantadas, possivelmente flamboyants, a especie até os anos de 1960, eram um dos símbolos maiores da cidade

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE RAMOS DE AZEVEDO
Acompanhando as construções do complexo industrial da Usina Esther, como a edificação do Palacete Irmãos Nogueira (Sobrado), o “Escritório de Arquitetura e Engenharia Ramos de Azevedo”, iniciava as obras da Igreja.
Em 1901, começavam as obras de edificação da Igreja Matriz de Santa Gertrudes. A pedido da família Nogueira, o arquiteto Ramos de Azevedo, seguiu como base para o projeto, a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, em Campinas.


Basílica de Nossa Senhora do Carmo, em Campinas. Igreja é o marco da colonização bandeirante na região
LEMBRANÇA CAMPINEIRA
A Basílica, localizada na região central, marca não somente o surgimento de Campinas, mas também, o início do desbravamento e colonização bandeirante na região.
No templo está sepultado o fundador de Campinas, Francisco Barreto Leme; em seus altares, celebrou muitas vezes o Padre Diogo Feijó, regente do Império; nela foram batizados Carlos Gomes, Moraes Salles, Francisco Glicério, José Paulino e grande parte dos irmãos Nogueira.
O projeto cosmopolense, em escala menor, seguia as mesmas linhas neogóticas da Basílica, porém, somente com uma torre central.
Os adornos em cimento trabalho, janelas, portas e destaques do telhado, possuíam o mesmo molde arabesco utilizado no Mercadão de Campinas, também construído por Ramos de Azevedo. A pintura, cimento e pó de mármore compactado, uma das principais marcas das obras do renomado arquiteto.

INAUGURAÇÃO EM 1915
A oficialização da Santa, feita pela igreja Católica, aconteceu com a inauguração da edificação, em 17 de setembro de 1915. O atraso das obras, quase 15 anos, foi decorrente a inúmeras intempéries climáticas.

Neste período, Cosmópolis foi assolada por fortes tempestades, como um devastador ciclone. O fenômeno raro na região, assolou a Villa, destruindo casas, parte da área industrial e colônias da Usina, destelhando e derrubando parcialmente a construção da Matriz. Com a priorização das obras do complexo da Usina, inúmeras vezes a construção do templo católico foi interrompido.

Nova Igreja Matriz de Santa Gertrudes . Registro de 2016


NOVA MATRIZ SERIA NA PRAÇA DO RODRIGO 
Demolida no fim dos anos de 1950, para construção da atual Matriz, a velha igreja foi extinta por ser pequena. Assim foi anunciado e declarado pelos responsáveis da atrocidade feita com a igreja. Era declarado a comunidade Católica, a necessidade da nova construção, para ampliar o espaço aos fiéis, sendo edificada as obras ladeando a velha igreja.
O verdadeiro motivo, foram antigas desavenças políticas e religiosas da época.
Um terreno, atual Praça do Rodrigo, foi doado pela família Nogueira para construção da nova igreja. A nova matriz, ficaria nas costas da velha igreja, sendo cogitado a elevação de outro santo para a mesma.
Certas “birras”, muito orgulho, envolvendo o pároco Germano do Prado, políticos e interesses particulares, mudaram o projeto, demolindo a velha igreja.
Restam da primeira edificação, o piso de mármore que segue até o altar, como os bancos e alguns móveis, construídos pela marcenaria e carpintaria Tavano.

Gertrudes Eufrosina de Almeida Nogueira, matriarca da família Nogueira. Em sua memória, Santa Gertrudes foi enaltecida como Padroeira de Cosmópolis
“DONA TUDINHA” NOGUEIRA
Em 1815, nas proximidades da Basílica do Carmo, nascia Dona Gertrudes, filha de João Bicudo de Almeida e Gertrudes Eufrosina do Amaral, importantes fazendeiros da época.
Nesta mesma região, berço e morada de celebres campineiros como Barreto Leme, fundador de Campinas, nasceriam os 11 filhos de Dona Gertrudes:
Maria Luiza Pereira de Nogueira; Antonio Nogueira Ferraz (Nhotó); Olympia Nogueira Ferraz; José Paulino Nogueira Ferraz (importante político, entre as várias homenagens , é patrono da cidade de Paulínia ); Sidrak Nogueira Ferraz; Major Arthur Nogueira Ferraz; Eduardo Nogueira Ferraz; Adelina Nogueira Ferraz; Anna Nogueira Pupo; Júlia Nogueira de Melo e João Nogueira Ferraz.
Casada com Luiz Nogueira Ferraz, familiar direto de ilustres nomes como os presidentes Campos Salles, Prudente de Morais e o inventor Santos Dumont, o casal permaneceu juntos até o falecimento de Gertrudes, em 04/12/1889, aos 74 anos de idade.
Dona Tudinha, como era conhecida em Campinas, possuía inúmeras extensões de terras na região. Entre as mais valorizadas, estão a atual cidade de Artur Nogueira (Lagoa Seca), parte de Paulínia (a Capela de São Bento marcava o início das terras), e gigantescas propriedades rurais as quais originariam as cidades de Campos do Jordão (Manuel Rodrigues do Jordão, era seu tio), Limeira e Piracicaba.
A maioria das terras, onde eram cultivados café e cana de açúcar, foram desbravadas e conquistadas por seus familiares no período bandeirante.
Em seu “post mortem”, impresso no santinho da missa de 7ª dia, os dizeres:
“Gertrudes Eufrosina de Almeida Nogueira, de velha linhagem paulista, foi um constante exemplo de virtude cristã. Culta, austera, reservada, compassiva e tolerante, adormeceu para eternidade confortada pela sua numerosa descendência e abençoada pela Santa Madre Igreja, em 4 de Dezembro de 1889, na sua bem amada Campinas”.
Segundo familiares, a escolha de Santa Gertrudes como Padroeira das terras cosmopolenses, foi um pedido de Luiz Nogueira. Falecido em 7 de junho de 1899, aos 77 anos de idade, o patriarca não viu as obras de construção da Igreja.

ANTES DA IGREJA, A CAPELA
Uma pequena capela, existia entre as ruas Ramos de Azevedo e João Aranha, região da casa do saudoso casal Hernesto e Madalena Kiehl, onde populares enalteciam a fé a Bom Jesus da Cana Verde.
A data de edificação da pequena edificação, é impressiva, possivelmente criada em honra cristã a alguém falecido naquele ponto. A região, nos tempos dos desbravamentos e passagens dos bandeirantes, era utilizada como caminho para Campinas, Limeira e Piracicaba.
Boiadas, tropas e tropeiros, escravos, produções de café e até pedras preciosas, percorriam o caminho nos séculos 18 e 19.
Demolida, no processo de agrimensão e loteamento das terras, feitos pelo Major Arthur Nogueira, os únicos registros da capela são de narrativas de moradores.
Em 2001, o saudoso alfaiate Arthur Suzan, nos relatou da pequena capela. Segundo Suzan, a capela foi demolida devido a construção da Igreja Matriz, em 1902.
A demolição seria uma transferência, já que o local da capela, ficava em um terreno íngreme, cheio de barrancos, inviável aos arados de bois, planarem as terras.
Pedro Suzan, seu pai, foi um dos primeiros imigrantes a adquirir as terras loteadas pelo Major naquele ponto. O local exato é impreciso, já que no processo de loteamento das terras, a Rua Ramos de Azevedo, cruzou parte do caminho onde estava a capela. Presume-se, que ficaria entre a casa da família Kiehl e o conjunto de casas construído pelos Suzans, demolido em 2016.

PRIMEIRO PADRE DE COSMÓPOLIS 
Enquanto a Igreja era construída, uma pequena capela foi edificada próxima as obras. Nesta capela, então localizada no lado esquerdo da atual Matriz, eram celebradas missas por padres voluntários, escolhidos pelo arcebispo metropolitano de Campinas, Dom João Batista Correa Nery.
Somente em 14 de janeiro de 1909, com as obras da igreja parcialmente avançadas, a Villa recebia seu primeiro padre oficial.
Uma missa campal, realizada nas obras da Igreja, celebrada pelo Monsenhor Joaquim Mamede da Silva Leite, representando a arquidiocese de Campinas, ordenava Gregório Lanza, como primeiro Padre de Cosmópolis.
Demolida a capelinha, em seu local foi construído um cruzeiro, extinto no processo de construção da nova matriz e largos.

24/07/1958 - Hino de Santa Gertrudes, letra de Padre Germano Prado, pároco da Igreja e principal responsável pela construção da nova matriz, como também, da demolição da igreja velha. Publicação criada pela Igreja Matriz de Santa Gertrudes, impressa na arquidiocese de Campinas


Texto e fotos Adriano da Rocha
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