ADEUS ARIOVALDO NABÃO
Texto Adriano da Rocha
Foto Acervo Câmara Municipal de Cosmópolis
Foto Acervo Câmara Municipal de Cosmópolis
Nesta manhã de sábado (17), aos 78 anos de idade, faleceu Ariovaldo de Queiroz Nabão, o popular Ariovaldo Nabão. Descansou de uma luta travada durante meses, contra a mais impiedosa das doenças, o câncer.
O corpo foi sepultado nesta tarde, às 16h30, no Cemitério Municipal da Saudade, em Cosmópolis. Ariovaldo era divorciado, deixa filhos e netos, assim como incontáveis amigos, conquistados em mais de 50 anos de vida pública e assistencial.
Seus 12 anos na Câmara Municipal, deixaram marcas públicas eternizadas em toda cidade. Polêmico, contestador com sabedoria, um diplomata conciliador nos assuntos políticos da comunidade, definem sua vida como homem público.
CAIXEIRO E VENDEDOR DE SECOS E MOLHADOS
Ariovaldo nasceu na extinta Fazenda Coqueiro, uma gigantesca extensão de terras, dos tempos das Bandeiras Paulistas, filho do saudoso casal Zacharias de Queiroz Nabão e Benedita de Queiroz. Nos anos de 1950, com a venda das terras, a família mudava-se para a “Villa”, residindo na Rua Campinas.
Ariovaldo nasceu na extinta Fazenda Coqueiro, uma gigantesca extensão de terras, dos tempos das Bandeiras Paulistas, filho do saudoso casal Zacharias de Queiroz Nabão e Benedita de Queiroz. Nos anos de 1950, com a venda das terras, a família mudava-se para a “Villa”, residindo na Rua Campinas.
Ao concluir os estudos, no recém inaugurado “Ginásio Estadual DR. Paulo de Almeida Nogueira”, popular GEPAN, era contratado ao cargo de caixeiro, no “Armazém de Secos e Molhados Vila Nova”, de propriedade de Mario Bertazzo.
Localizado na esquina das ruas Francisco Cesário de Azevedo e DR. Moacir do Amaral, o estabelecimento marcou época, como um dos primeiros edificados fora da região central. A freguesia crescia a cada dia, com o surgimento do Núcleo Habitacional Vila Nova e a chegada do asfalto nos bairros.
O ofício de Ariovaldo, era de extrema responsabilidade, o caixeiro de armazém realizava o controle dos caixas, anotando nas centenas de cadernetas, os pagamentos e compras dos clientes de “fiado”. A intensa freguesia, elegia o proprietário ao cargo de vereador, transformando o estabelecimento em uma referência política da cidade.
COSMOPOLENSE E REPRESENTANTE DOS COSMOPOLENSES
O contato com o povo, as questões municipais, debatidas entre os vereadores no armazém, despertavam no jovem Ariovaldo o interesse pela política. Aprovado em um disputadíssimo concurso público, ingressava na carreira de servidor, trabalhando por 22 anos em diversas áreas da prefeitura, como contabilidade, finanças e obras.
O contato com o povo, as questões municipais, debatidas entre os vereadores no armazém, despertavam no jovem Ariovaldo o interesse pela política. Aprovado em um disputadíssimo concurso público, ingressava na carreira de servidor, trabalhando por 22 anos em diversas áreas da prefeitura, como contabilidade, finanças e obras.
Destacava-se entre os funcionários, atendendo à população com um jeito único e pessoal, sempre atencioso, educado e prestativo em todos os setores. Exemplo de servidor público, atendia à todos sem distinção de situação social, cor ou religião, notabilizando seu nome na cidade, como representante do povo nas eleições de 1976.
Eleito e reeleito pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), participou intensamente das gestões dos prefeitos Oswaldo Heitor Nallin e Orlando Perucci. Sua liderança, o elegeram inúmeras vezes Presidente da Câmara (neste período o mandato de presidência era de um ano), a qual presidiu a primeira sessão da nova casa do legislativo, inaugurada em 1987.
HISTÓRIA MARCADA POR OBRAS PÚBLICAS E COMUNITÁRIAS
O mandato sempre atuante e participativo, na época sem receber salário como vereador, marcavam seus 12 anos de vereança (neste período o mandato era de 6 anos).
O mandato sempre atuante e participativo, na época sem receber salário como vereador, marcavam seus 12 anos de vereança (neste período o mandato era de 6 anos).
Entre seus inúmeros projetos, concepções de leis e participações políticas, relembramos sua importante atuação na criação da Comunidade Nossa Senhora Aparecida (a qual foi Ministro), Comunidade Santo Antônio, Grêmio Estudantil, Casa da Criança, Casco (Centro de Assistência Social de Cosmópolis) e Alcoólicos Anônimos, entre inúmeras outras instituições, associações e grupos de filantropia, beneficiados por suas ideações visionárias.
Foi o principal responsável junto a FEPASA (Ferrovias Paulistas.S.A), na intervenção dos terrenos da Estatal (antiga Sorocabana), para a construção do Terminal Rodoviário, Grêmio Estudantil, Batalhão da Polícia Militar e futura Câmara Municipal.
Em memória da história ferroviária, idealizou a construção da Praça dos Ferroviários (em frente à Câmara Municpal), pedindo a Usina Esther, a doação de um dos antigos
Trenzinhos canavieiros, atualmente exposto precariamente no local. Sua participação como conselheiro municipal, concebeu as construções da Biblioteca Municipal José Kalil Aun e sede da Promoção Social (através de doação do terreno pela Família Kalil Aun), a edificação serviria como base para a futura instalação do Fórum.
Aposentado como servidor público, trabalhou durante anos no Banco Itaú, exercendo vários cargos na agência. Na comunidade Católica, foi ministro de evangelho e capelão, sempre lembrado no momento das exéquias – conjunto de rezas para "encomendar o corpo" para a vida eterna.
PROFESSOR DO MOBRAL
No início dos anos de 1970, com a criação do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), plano de alfabetização de adultos criado pelo Governo Militar, foi escolhido voluntariamente como primeiro professor do sistema de ensino. Sendo um dos responsáveis, pela implantação desta alfabetização funcional, em Cosmópolis
No início dos anos de 1970, com a criação do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), plano de alfabetização de adultos criado pelo Governo Militar, foi escolhido voluntariamente como primeiro professor do sistema de ensino. Sendo um dos responsáveis, pela implantação desta alfabetização funcional, em Cosmópolis
Ao lado de professoras como Celeste Andretto, lecionou para adultos da região rural da Granja e Saltinho, como também do recém criado EEPG de Cosmópolis (Atual Dr. Luiz Nicolau Nolandi).
APAIXONADO POR COSMÓPOLIS
Em sua ascendência, as primeiras famílias que desbravaram nossa região. Bandeirantes, representantes do Império, que na busca de um pouso, criavam raízes neste chão, lavrando grandes extensões de terras, formando os atuais bairros do Coqueiro, Quilombo, Bairrinho e Horto.
Em sua ascendência, as primeiras famílias que desbravaram nossa região. Bandeirantes, representantes do Império, que na busca de um pouso, criavam raízes neste chão, lavrando grandes extensões de terras, formando os atuais bairros do Coqueiro, Quilombo, Bairrinho e Horto.
Nas suas narrativas sobre seus antepassados, relembrava fatos e causos, passagens familiares responsáveis pelo surgimento da mais rica região do Brasil. Contava com orgulho sua história familiar e política, com incrível precisão de datas, nomes e detalhes corriqueiros, os quais traziam entusiasmo aos ouvintes, principalmente por serem memórias de Cosmópolis.
Suas críticas ao sistema político, não aceitar a profissionalização do cargo de vereador, assim como o constante declínio partidário, foram os motivos do seu afastamento das urnas. Mesmo distante das disputas eleitorais, exercia seu papel de cidadão, sempre consciente das situações que afligiam sua cidade, sempre estava disposto a debater, argumentar e sugerir novos caminhos ao município.
Falava com coração sobre sua cidade, tinha orgulho em fazer parte como personagem atuante, da história de Cosmópolis.
Seguindo os passos do ilustre primo, o cantor Carlos Queiroz, com seu incentivo e apoio, chegou a ingressar como “crooner”; cantando diversos gêneros musicais, com predileção ao estilo jovem guarda, suas apresentações animavam os bailes do Cosmopolitano, Mutuo Socorro e eventos sociais.
Como dizia Ariovaldo, foram fases da sua da vida, a qual sempre viveu intensamente. Participou até mesmo de peças teatrais do lendário “Grupo Dramático de Amadores Raul Silva”, atuando como vilão e mocinho.
Há menos de um mês, ele fez uma visita ao nosso Acervo Cosmopolense, magro e muito abatido pela doença. Seria sua despedida aos amigos.
Conversou muito sobre Cosmópolis, recordou dos tempos da Vila Mariana que virou Vila Nova, relembrou com saudade dos antigos carnavais, nossa maior festa popular. Indagou como “conseguimos destruir o melhor carnaval paulista”, o carnaval cosmopolense!!
Olhando um painel de fotos, repleto de registros históricos da cidade, falou extremamente emocionado a frase, a qual minha mãe anotou prontamente:
“Nunca sai de Cosmópolis, aqui nasci, cresci e fiz a minha história. Mesmo morando em Cosmópolis, sinto saudades de Cosmópolis. Parece estranho, mas vou te explicar!! Conheço cada pedaço desta cidade, não consigo encontrar nesta situação política, a cidade que tanto tinha orgulho em dizer ser minha terra”.
Aos familiares e amigos, os sinceros sentimentos e lembranças através desta singela homenagem. Descanse em paz Ariovaldo Nabão, ao escrever sua própria história, edificou a história publica cosmopolense...
Texto Adriano da Rocha
Foto Acervo Câmara Municipal de Cosmópolis
Os agradecimentos ao Presidente da Câmara, o vereador André Barbosa Franco, pela disponibilidade do registro fotográfico.
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