MULHERES COSMOPOLENSES
A primeira jornalista de Cosmópolis
Silena Sousa, de 83 anos, já passou desde a sala de aula até
a redação do Jornal de Cosmópolis
Texto Bruna Genaro
Fotos Adriano da Rocha / jornais Acervo Cosmopolense
Silena Sousa, foi durante 18 anos, uma das principais jornalistas do Jornal de Cosmópolis |
Desde muito jovem precisou trabalhar fora, já que seu pai
falecera quando ela tinha apenas 17 anos. O primeiro emprego, foi na Tecelagem
da família Kalil Aun, localizada próxima ao Coreto, exercendo anos depois, os
serviços de atendente na Loja Kalil, trabalhando ao lado da Dona Badra José
Aun. Depois de casada e com as filhas gêmeas maiores, decidiu voltar aos
estudos.
“Naquela época a gente só fazia o primário, mas eu gostava
de estudar, adoro ler. Quando consegui voltar, me formei no colegial e em
técnica de contabilidade. Tudo em Cosmópolis, tínhamos aqui, a Escola do
Comércio. Muito conceituada, responsável pelo formação de nomes importantes da
região”, recorda-se.
Nessa época, Silena já trabalhava na Prefeitura de
Cosmópolis, onde foi chefe do Departamento de Água e Esgoto.
Parte da história dessa grande mulher, está entre as
crianças cosmopolenses no fim da década de 1950. Silena foi a primeira diretora
do Parque Educacional de Cosmópolis, atualmente a EMEI Esther Nogueira. Conhecida popularmente, como Escolinha, localizada próxima ao antigo Hospital Beneficente Santa Gertrudes.
1959 / Área de lazer do Parque Infantil Esther Nogueira. Silena foi a primeira diretora da famosa escola |
Segundo Silena, a "Escolinha Esther Nogueira", foi um marco no ensino municipal .O complexo educacional, primeira escola construída pela Prefeitura de Cosmópolis, possuía horta cultivada pelas crianças, espaço de música, amplas salas de aprendizado, e até piscina. Comandos por Silene, como diretora, e uma equipe especializada na alfabetização de crianças.
1959 / Crianças na famosa piscina da escola. Ao fundo de chapéu, o prefeito José Garcia Rodrigues, popular "Zé da Pege" |
“Foi muito boa essa época. Era diferente de hoje, que cada
criança tem sua sala para estudar. Lá nós cuidávamos de mais de 150 crianças de
3 a 12 anos de idade”, conta.
“Até hoje as crianças que estudaram lá me
encontram e dizem: ‘não existe ovo com tomate igual o que era feito no Parque’,
e olha que coisa mais simples né? Ovo e tomate”, acrescenta em meio aos risos.
1986/ Silena viaja no tempo, observando o exemplar comemorativo dos 20 anos do jornal. Edição escrita por ela, com fatos históricos publicados no jornal |
No fim dos anos de 1970, quando Silena se aposentou do
trabalho realizado na Prefeitura, um novo desafio surgiu: fazer o Jornal de
Cosmópolis. Na época, ela e seu marido, Benedito de Sousa (ilustre personagem de vários setores cosmopolenses, como política, filantropia, imprensa e esportes) aposentados, decidiram abraçar a causa.
1986 / Edição especial em comemoração aos 20 anos do Jornal de Cosmópolis |
Tornaram sua casa em uma redação, emprestaram até o número de telefone (o
conhecido 72-1951), e se dedicaram de corpo e alma ao novo negócio. Que, aliás,
tinha tudo para dar certo, assim como deu, por 18 anos circulando pela cidade.
1980/ Evento no Cosmopolitano Futebol Clube, reportado no jornal, por Silena e esposo. Na foto, o primeiro prefeito eleito de Cosmópolis, João Guilherme Paz Herrmann, Benedito de Sousa e Silena |
1982 / Feira Indústrial e Agrícola de Cosmópolis (FIAC), entrevista com o cantor Martinho da Vila. Silena é a segunda, à esquerda. Benedito de Sousa, abraça o sambista |
Silena foi a primeira mulher jornalista cosmopolense e apesar de ser uma novidade para Cosmópolis, garante que foi muito bem aceita pela população.
“Não havia preconceito, muito pelo contrário, todos nos
tratavam muito bem, até porque tinham medo de a gente falar mal deles no jornal,
principalmente na coluna “O Moita”, conta em meio às risadas.
Silena lendo novamente sua famosa coluna. Publicação de 1980, há exatos 38 anos |
A famosa e polêmica coluna " O Moita", com seus destaques de 1986 |
A coluna especial, para colocar aquela “pulga atrás da
orelha”, que Silena se referiu, chamava-se “O Moita”. O peculiar nome, uma
alusão a ficar na “moita”, observando tudo, sem ninguém perceber.
A coluna surgiu em 1967, no Jornal ACP, onde Silena era colaborada com notícias de Cosmópolis. Simultaneamente, a coluna destacava fatos de Cosmópolis, Paulínia e Artur Nogueira. Posteriormente, com o surgimento do Jornal de Cosmópolis, Silena ficou responsável direta, nas notícias cosmopolenses.
Na coluna, uma seleção de pequenas estórias da cidade, onde
eram descritas informações pouco divulgadas das pessoas, sem exposição de
ninguém, mas sempre deixando aquela dúvida: “como é que eles sabem disso?”.
“No começo era eu quem escrevia totalmente a coluna, mas daí
as pessoas desconfiar, e quase descobrir quem estava por trás. Então tive que chamar alguns colaboradores que
não posso contar quem são até hoje. Eles observam tudo, faziam as anotações dos
fatos mais interessantes, depois eu, transcrevia tudo com minhas palavras”.
Uma mulher era da alta sociedade, escrevia sobre o pessoal
que ela conhecia. Outro era um ex-prefeito que gostava de escrever alguns
segredos de política. Assim formávamos, as estórias da coluna Moita e Você Sábia. As pequenas estórias, eram o maior sucesso do jornal, muita gente comprava e assinava o semanário, só para ler as colunas”, explica Silena.
Assuntos polêmicos, curiosidades, reclamações e elogios, escritos com uma linguagem única, criada por Silena. Em tempos de Regime Militar, umas visitas na delegacia faziam parte da sua rotina, sempre para esclarecer assuntos da coluna.
"O mistério em saber quem escrevia, fazia o sucesso da coluna, sendo até motivo de investigação policial. Não sabendo ao certo, quem escrevia, todos do jornal foram chamados na delegacia, sobre um assunto politico descrito. Era só perseguição dos denunciantes, fomos absolvidos como em outras vezes", relembra Silena.
E para quem recebia o jornal de oito páginas impresso, não
pense que era fácil produzir todo aquele material. Silena contava com vários colaboradores de notícias, cosmopolenses que traziam relatos da cidade, e até mesmo da capital, como era o caso de Adão Martelli. Nascido em Cosmópolis, Adão trabalhava e residia em São Paulo, enviando por cartas e ligações telefone, destaques do esporte e política paulistana.
Edição do Jornal de Cosmópolis, de 04 de janeiro de 1986 |
“Nós escrevíamos em Cosmópolis e mandávamos para Paulínia.
Lá eles montavam as páginas e imprimiam em máquinas de prensa. Aí a gente tinha
que ficar falando o que queria em cada página. Uma gigantesca maquina alemã,
fazia a impressão de cada coluna e página”, relata.
“Depois que veio o computador facilitou muito nossa vida.
Então nós escrevíamos e já diagramávamos em Cosmópolis mesmo, aí eles rodavam a
impressão em Paulínia”, acrescenta.
Edição de 04 de outubro de 1986, traz como destaque, o orçamento para o ano de 1987 |
“Meu marido era muito envolvido com os esportes da cidade,
então ele sempre escrevia sobre isso. Eu já escrevia mais sobre a parte social.
E aí nós íamos juntando um pouco aqui e um pouco lá para escrever e montávamos
cada edição do Jornal de Cosmópolis”, explica Silena.
Notícias, muitas notícias, o jornal não poupava os poucos espaços, para informar tudo sobre Cosmópolis |
“Como as pessoas dizem, o jornal era pequeno, mas tinha tudo
o que você precisava saber sobre Cosmópolis, era bem completinho”, acrescenta.
Silena ficou no Jornal de Cosmópolis até o fim da sua
participação na direção do semanário, em 1998.
Silena explica para a jornalista Bruna Genaro, os processos de diagramação e criação de textos, usando como referência uma edição escrita por ela, em 1980 |
“Foi um tempo que tinha mais de seis jornais circulando em
Cosmópolis, aí ficava extremamente difícil para todo mundo. O Carlos Tontoli,
um dos fundadores e proprietários, era quem comandava os jornais de Artur
Nogueira, Paulínia e de Cosmópolis (antigo Jornal ACP), quando faleceu, os
herdeiros não continuaram seu legado. Então, aos poucos o Jornal de Cosmópolis,
foi perdendo a força para se manter”, recorda-se Silena.
Seja no jornal, na escola, na prefeitura, Silena Sousa é uma
mulher de fibra que escreveu sua história e também a história de Cosmópolis.
Nós do Acervo Cosmopolense parabenizamos a Silena pelo
exemplo de mulher neste dia tão especial dedicado internacionalmente a todas as
mulheres. Parabéns Silena e todas as mulheres cosmopolenses, vocês têm o nosso
carinho e respeito!
Encontro de gerações do jornalismo cosmopolense, a jovem Bruna Genaro (24 anos) e Silena Sousa (83 anos) |
Por Bruna Genaro Leite, mãe, esposa, jornalista, consultora
de amamentação, filha...
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