DIA DA SAUDADE
Será que era a Rua Santa Gertrudes que começava na Matriz, ou, a Matriz de Santa Gertrudes que terminava a Rua?!
O céu está turvo, escuro, quase furta-cor, vai chover. O sacristão, “passando” as correntes que limitam o começo e fim da rua, faz o sinal da cruz. Católico fervoroso, olhando a tempestade que principia nos céus, diz: “Valei-me Santa Bárbara, dos raios e tempestades”.
Calma!!! Chuva braba, só vem em Cosmópolis, quando forma lá para os lados de Americana. Nuvem escura, formando no Coqueiro e Morro Amarelo, é benção para terra. Deixa chover!!
O escuro dos céus, envoltos de nuvens carregadas de chuvas, contrastam com o tom pêssego da Matriz. Os marcantes alto falantes das portas, memoráveis pelas tristes notas de falecimento, ainda funcionavam simultâneos com a torre, ecoando os anúncios ao som da Ave Maria.
Colunas, arcos, arabescos, e a simbólica cruz, imponente no campanário, destacam o branco na pintura.
Cândidos, como a porcelana branca reluzente, do icônico chafariz tulipa.
Altivo, com seu pedestal revestido de pequenos azulejos, ladrilhos, nas cores branco e azul celestial.
Nas bases, as marcantes cerâmicas paulistas, popular vermelhão. Assentados como soleiras, envoltos de “sempre verdes” e flores.
Antes eram dois Tulipas, imponentes, um de cada lado da Rua Santa Gertrudes. Iguais, mesmo fabricante e ano de construção, do saudoso Tulipa, do chafariz dos "Jardins" do Coreto.
Depois de muitas reclamações de zelosas mães, as coroas de Cristo foram arrancadas dos jardins. Na época, tradição na jardinagem interiorana, seguiam os arredores dos jardins, e os entornos da Matriz.
Destacados entre os revestimentos cerâmicos, assentados como “guarda peito”, segura sujeira, nas bases da Igreja. Realçados na foto, pelo intenso tom avermelhado dos azulejos.
Os arbustos, eram temidos por seus espinhos (por isso o nome, alusão a cora de espinhos usada por Cristo na crucificação), e principalmente, pelo veneno branco das folhas.
Queimava a boca, inchava os beiços. Uma senhora, amedrontando as crianças, dizia que uma menina morreu lá em Guaiquica (Engenheiro Coelho).
A molecada atentada, cortava as folhas e galhos, só para ver o caldo branco vertendo. “Um sacrilégio fazer isso”, já esconjurava uma carola.
As portas estão abertas, o relógio funcionava, pontualmente marcava três horas. Igual um carrilhão, badalava os sinos nas horas cheias e meias.
Acompanha a Rua até os degraus da Matriz, o calçamento de pedras portuguesas. Seguem bancos de granilite com propagandas comercias, e postes de iluminação com seus chapeuzinhos esmaltados, apelidados de chinesinhos.
Muitas quaresmeiras nos jardins, tons roxos e rosas, e um solitário "flamboaiã". Como dizia um senhor da Usina: "flamboriam, sombreiros da Baronesa".
O sentido viário da rua, segue para Rua Campos Salles, antiga Alexandrina. Uma caminhonete surge, rodando em direção à Rua Campos Salles, que então, seguia para Rua Expedicionários.
O portão da casa de esquina, residência do casal Tereza e Albino Scorcione, está aberto. Será que aguarda a caminhonete?!
Não sei, preciso ir embora, até o Vila Nova é um estirão. Já começou a garoar, pingando mais que os balcões do Tabajara e Mirto Davinha, em tempos de peãozada na Petrobras.
Vou cantar os pneus da minha Caloi, quero chegar rápido, para comer ainda quentinho meu cachorro quente do Dadá , com o suco de laranja de litrão, que antes era Cr$ 1,00 cruzado novo, agora já são mil cruzeiros do Rondon.
Essa “tabelação” da URV, está mudando os preços todas as semanas. Não reclamo, antes do Itamar, era tão “mar”, que mudava todo dia. Uma carestia só!!!
Espero que o tal do real, mude para melhor as coisas do Brasil.
Importante, que ainda sobrou dinheiro dos meus dez mil cruzeiros. Neste fim de semana, quero assistir “meu primeiro amor” no Cine Theatro Avenida.
Quem sabe, não vejo minha paquera, que mudou do EEPG de Cosmópolis, para Escola do Comércio.
Dinheiro vai ser contado, mas o drops dulcora está garantido. Vai que no escurinho do cinema, não imitamos a história do filme. Né não!!!
Texto e foto Adriano da Rocha