sexta-feira, 2 de novembro de 2018

DIA DO ETERNO AMOR

AINDA ONTEM EM COSMÓPOLIS
Texto Adriano da Rocha
Fotos Luizinho Ferreira

 02/11/1950Dia do eterno amor, em memória da saudade, na fé pelo reencontro. Uma quinta-feira, há exatos 68 anos, em Cosmópolis. Aqui publicamos, um conjunto de três fotos, perdidas entre um álbum repleto de preciosidades do cotidiano cosmopolense. As fotos registram o “dia de finados”, no Cemitério Municipal da Saudade.

Considerada uma das datas mais importantes da liturgia católica, as imagens são de autoria de um evangélico, o saudoso Luizinho Ferreira. Não era fotografo profissional, mas sim, um apaixonado por fotografar Cosmópolis.

Em cada foto, marcas da fé popular, tradições típicas de Cosmópolis, como as barraquinhas de melancia e abacaxi, as jardineiras “bardeando” passageiros, e principalmente o respeito, na memória dos saudosos sepultados.

Nos registros, o encontro nas sepulturas, dos amigos e familiares mortos, os reencontros dos amigos vivos, nas visitas aos finados.
“Na terra dos mortos, são revividas vidas”, já dizia meu finado pai, seu Juvenil da Rocha.

Revivendo essas vidas, através das fotos, recordo suas memórias desta data, as lembranças dos “dias de finados cosmopolenses”.

AS HISTÓRIAS NAS FOTOS
O antigo cruzeiro, velário das almas, ponto mais alto do cemitério, foi utilizado como base pelo fotografo na primeira foto.

Ainda, uma simples cruz de madeira, edificada sobre degraus, onde eram acessas as velas, localizada no centro do antigo “Cemitério Alemão”. Criando em 1896 por imigrantes do Núcleo Colonial, incorporado ao município de Campinas, em 1898.

Em 1951, o modesto cruzeiro foi totalmente demolido na primeira ampliação do cemitério municipal.

Obras do prefeito João Guilherme Paz Herrmann, João da América, construindo um novo cruzeiro e velário, ao lado da extinta casa do coveiro, popularizada como casa do “Dito Coveiro”.

No fim dos anos 1950, com a demolição da “igreja velha”, e construção da nova Matriz de Santa Gertrudes, o cruzeiro do Largo, foi transferido para o cemitério. Permaneceu no cemitério, até a nova ampliação das quadras, no fim dos anos 1970.

Observe, muitas pessoas caminhando, seguindo várias direções, chegando e saindo. Reencontro de amigos vivos nos corredores, conversando sobre a vida, “visita” aos finados amigos, relembrados com saudades e orações.

Movimento intenso de familiares, casais e crianças. Intenso como o sol, ressaltado pelos vários “guarda chuvas”.

Este ponto, era utilizado como o principal acesso as sepulturas, atual quadra 8, divisa entre as quadras infantil e adulta. Próximo deste acesso da foto, ficavam as barraquinhas.

Neste período, somente barracas de velas, flores naturais, vasos e arranjos, e a tradicional barraca das melancias e abacaxis.


TRADIÇÃO DA MELANCIA 

Na barraca das melancias era intenso o movimento, expostas no chão de terra, empilhadas em fileiras, uma sobre a outra. Na bancada os abacaxis ananás, pequenos e com grandes coroas.
O motivo da escolha destas frutas, assim como a tradição cosmopolense da melancia no dia de finados, eram as produções municipais. Cosmópolis durante décadas, foi uma das principais produtoras de abacaxis e melancias do Estado.
Com destaque em inúmeras propagandas do governo, jornais, e revistas como a “Fom Fom” e Cruzeiro
A proximidade do cemitério, com os bairros produtores destas frutas, como Santo Antônio, Campos Salles e “Vista Bela”, atraia os sitiantes à venderem na data.
Aproveitando o intenso movimento dos visitantes, criando essa típica tradição de comer melancia no dia de finados.
A revenda acontecia em outros cemitérios próximos, como o de Artur Nogueira, Paulínia e o cemitério rural dos Pires, em Limeira. Seguindo essa tradição, em outras cidades da região.
Era costume ir na missa das almas (celebrada próximo do cruzeiro), e trazer para casa melancias e abacaxis. Uma tradição ainda preservada por muitos cosmopolenses.
O progresso canavieiro, e principalmente, o surgimento da laranja, mudaram as produções agrícolas de muitos produtores. Há décadas, essas frutas não são produzidas em Cosmópolis.
Porém, mesmo sem produção local, as barracas das melancias continuavam nos acessos ao cemitério.
Neste ano de 2018, não encontrei melancias na região do cemitério da saudade. Somente em Artur Nogueira e Paulínia, ainda persistem as tradicionais barracas. Nestas cidades no caso, gigantescas tendas, com centenas de enormes melancias.


JARDINEIRA, TROLES, CHARRETES E CARROÇAS

A maioria dos visitantes, chegavam ao cemitério pela velha estrada do Núcleo Colonial Campos Salles, popular caminho da “Escola Alemã” e Ponte Preta (ponte férrea da Funilense).

Nesta estrada, o acesso era direto ao cemitério, como diziam: “um retão só, com muita poeira vermelha, pomares e canaviais”.

O caminho da Escola, era utilizado pelos moradores da Villa, colonos da Usina, e região rural do Nova Campinas.

No dia de finados, o movimento de troles, com suas elegantes rodas de dois tamanhos, charretes, carroças, cavaleiros, e as icônicas jardineiras, era intenso.

As jardineiras da Auto Viação Cosmópolis, passavam o dia inteiro “bardeando” passageiros aos cemitérios da região.

Até então, o acesso pela Avenida da Saudade, era utilizado basicamente, como principal acesso dos moradores dos sítios daquela região.

Cosmopolenses do Itapavussu, Coqueiro, Saltinho, Uirapuru, utilizavam a antiga estrada do Quilombo, que acessava os fundos do cemitério.


FOTÓGRAFO DO COTIDIANO 
Sepultura de Luizinho Ferreira no Cemitério da Saudade, localizada na antiga quadra 1

Importantes registros fotográficos, como a Estação da Sorocaba (antiga Funilense), construções públicas (Castelo d´água, Praça do Coreto, pontes sobre rios, escolas), e inúmeras cenas do cotidiano cosmopolense, são de autoria do Luizinho Ferreira.

Comprou a máquina usada, modelo até moderno para época, daquelas de fole, com o zoom calculado por distância.

Foi um dos primeiros funcionários públicos de Cosmópolis, dos tempos da sub prefeitura à municipalidade, trabalhando com todos os prefeitos eleitos do seu tempo.

Amador na arte fotográfica, criou suas próprias técnicas de enquadramento, perspectiva e foco. Apaixonado pela profissão e Cosmópolis, registrou seus dias, sem imaginar, que ficariam registrados eternamente, como imagens da nossa história.

Luizinho Ferreira, faleceu aos 90 anos de idade, em 2007. Um dos irmãos do saudoso Constantino Ferreira, o inimitável, Tita da "Loja do Queima".

Era casado com Dona Elídia, casal conhecidos carinhosamente pelas crianças, como os donos da Casa dos anõezinhos, localizada na Ramos de Azevedo. Em breve, merecidas lembranças deste saudoso casal.

As fotos em destaque, foram digitalizadas pelo historiador Mano Fromberg.

Texto Adriano da Rocha
Fotos Luizinho Ferreira
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