domingo, 12 de maio de 2019

AS SENHORAS DA VIDA E DESTINOS DE GERAÇÕES

“ As mãe das mães”
No passado, as responsáveis pelo surgimento de vidas e gerações cosmopolenses

Angélica Barbosa, a Nhá Gerca, parteira das regiões rurais do PInheirinho, Nova Campinas, Frades e regiões próximas. Iniciou seus atendimentos no fim dos anos 1930, realizando partos até o fim dos anos 1950
  Hoje, nomes de ruas e avenidas, no passado, referências de histórias familiares e vidas. Guilhermina Kowalesky (Mina), Angélica Barboza (Gerca), Maria Wölfes, Laura Miranda, Dora Tetzner, Clementina de Faveri, responsáveis pelo nascimento de incontáveis pessoas.

Nas suas mãos, os destinos de cosmopolenses, nogueirenses e paulinenses, interligados à estas mulheres, antes até, dos seus nascimentos. Gerações da região, tem a sua existência, graças as mãos voluntárias destas benditas parteiras.

Hospitais, maternidades e postos de saúde, apenas existiam em Campinas e Limeira. Os médicos, somente particulares, eram insuficientes para atender a gigantesca região dos distritos e vilas campineiras.

Eram as tradicionais parteiras as únicas opções de muitas famílias, realizando o acompanhando da gestação ao nascimento. Conselheiras, benzedeiras, caridosas com aqueles que nada tinham, realizando até sem custos, os trabalhos de partos.

Os esposos e filhos já estavam acostumados. Acordar nos mais improváveis horários, com porteiras batendo, barulhos de conduções e pessoas apeando, seguidos de impacientes chamados:
“Ajudai-me Dona Mina, socorrei-me Dona Laura!!!”. Gritava um aflito pai, acordando a casa inteira, desesperado clamando por ajuda.

Guilhermina Kowalesky, Dona Mina. Registro fotográfico do seu casamento, com Guilherme Kowalesky. Uma das mais famosas parteiras de Cosmópolis, responsável pelo nascimento de gerações. Iniciou seus trabalhos como parteira nos anos 1920, dedicando-se ao sagrado ofício até o fim da vida


Voluntárias da vida, intercediam como ferramentas divinas, trazendo ao mundo mais um vivente. Sempre dispostas, tinham tudo no jeito, para exercer o seu nobre e sagrado ofício.
Cada parteira tinha seus apetrechos próprios, heranças maternas de gerações, herdadas de quem lhes ensinou o ofício.

Em uma maleta, ou simplesmente um picuá (bolsa de pano), traziam tesouras afiadas, panos de algodão limpos, vidros de álcool para esterilização, linhas e agulhas, e até ervas e medicamentos produzidos por elas mesmas.

Eram balsamos, pomadas, chás calmantes, ervas para cicatrização, tudo cultivado em seus quintais, ou, recolhidos em locais específicos dos arredores das “villas”.

Quando a criança “custava” à nascer, não “descendo” nem com orações e preces, tinham as ervas e compressas, e os temidos “ferros”. Um utensílio dos primórdios da medicina, confeccionado forjado em ferro. Como uma grande espátula, utilizada para puxar o “rebento”, a criança do ventre da mãe.

Utilizado somente em casos de risco de morte, devido as inevitáveis sequelas que geravam em mãe e filho, principalmente no útero, tamanha a rudimentariedade do temido “ferro de parteira”.

Nas charretes, trolinhos, “carros de praça” (taxis da época, custeados pela família), saiam apressadas as caridosas parteiras pelas estradas. Uma corrida contra o tempo, uma corrida pela vida.

Laura Lange Miranda, Dona Laura. Personagem marcante na história regional, principalmente em Artur Nogueira onde residia. Seus atendimentos aconteciam em toda região, realizando partos em Cosmópolis, Limeira, e em Artur Nogueira nos seus inúmeros bairros rurais, hoje cidades como Engenheiro Coelho e Holambra. Parteira e benzedeira, uma verdadeira "doutora popular", extremamente procurada por todas as classes sociais. Aprendeu o oficio com mãe, conceitos e ensinamentos repassados de gerações de parteiras. No Cemitério Municipal de Artur Nogueira, no "Dia das Mães", sua sepultura está entre as mais visitadas da data. Personagem muito querida por gerações da região, foi até tema de Escola de Samba, no famoso carnaval Nogueirense

As mães parteiras, deixavam seus filhos em casa, para interceder às outras mães por seus filhos. Muitas parteiras, treinavam as filhas e netas, acompanhando como ajudantes nos trabalhos de partos.

Habilidosas, sabiam o exato momento da criança surgir ao mundo, descer o correto nome, como popularmente diziam.

Cada parteira, tinha nas suas mãos, os meios para acalmar as incessantes dores do parto, sabiam a posição certa para o nascimento, somente observando as contrações.

Das dores do parto, ao nascer da criança para o mundo, eram as parteiras, a mãe das mães, responsáveis por mostrar aos recém nascidos e progenitoras, a luz do mundo.

O preciso incisar do cordão umbilical, cortava somente a ligação alimentar, a união entre mãe e filho serão sempre eternas, assim como nossa eterna gratidão as nossas primeiras parteiras.

Maria Wölfes Stein, a Maria Parteira. Uma das primeiras parteiras dos núcleos germânicos de Cosmópolis, como Núcleo Campos Salles e Santo Antonio. Seus atendimentos começaram no início dos anos 1900


FELIZ DIA DAS MÃES 
"Ser mãe é sentir todo o poder do universo dentro do ventre e como um grande arquiteto ela molda, constrói e edifica o bem mais precioso, a vida!" (Luís Alves)

Nas fotos, as primeiras parteiras de Cosmópolis, Artur Nogueira e Paulínia. Pioneiras que durante décadas exerceram o sagrado ofício de parteiras, atendendo toda região da antiga Carril Funilense. Nossa homenagem, nossa eterna gratidão!!

Texto Adriano da Rocha
Fotos acervo familiares Lange Miranda, Barboza, Kowalesky e Stein

Matéria disponível impressa no jornal O Cromo, edição deste mês de maio. Distribuída gratuitamente em Cosmópolis e Paulínia
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