quarta-feira, 26 de agosto de 2020

LUTO COSMOPOLENSE!!

MEMÓRIA

Adeus João do pandeiro e amendoins 

 João Bocaiúva, popular “João do boi”, ‘’ João do pandeiro”, querido “João do amendoim”, faleceu nesta quarta-feira (26), vitimado por uma parada cardíaca. 



2015- Documentário Centro de Memória de Cosmópolis, registro feito na Vila Cosmo - Foto Stephanie Lauria

Esposo da estimada dona Ana Bocaiúva, eterna amiga e companheira de quase 50 anos de casados, deixa filha e dois netos. A triste notícia, inesperada para todos, gerou grande comoção aos amigos. Sobretudo as inúmeras gerações de cosmopolenses, que cresceram tendo o saudoso Bocaiúva como um personagem das suas infâncias. 

Extremamente calmo, fala mansa e sorridente, era figura de destaque nos bailes cosmopolenses, celebrações religiosas, eventos culturais, como nas apresentações musicais em instituições sociais.

2001 - Apresentação no Lar dos idosos Irmã Rosália - foto Adriano da Rocha

Dentre tradicionais músicos, regionais paulistas e bandinhas, estava o velho João em seu banquinho, ditando os compassos dos mais variados ritmos musicais. 

Sempre usando boina, roupa social e sandálias de couro, acompanhado do inseparável pandeiro, companheiro desde sua infância nas colônias da Usina Ester. 

Seu pandeiro marcava o compasso musical, mas especialmente, marcou inúmeros carnavais e bailes nos salões da Usina Ester e Cosmopolitano. Tradição familiar dos Bocaiúvas, herdada dos avôs e tios, ilustres mestres musicais da velha Usina. 

Retentiva dos tempos da Funilense, para impor respeito e mostrar seus valores como negros. Vergonhoso período, quando os salões eram separados por cores, distinguindo espaços para negros e brancos.

A família impunha respeito através do trabalho e músicas, mostrando serem negros com muito orgulho, estando entre os mais antigos moradores de Cosmópolis e região. Muito antes das imigrações germânicas e italianas, testemunhas da escravidão nas terras paulistas. 

Personagens de inúmeras histórias de lutas, sobretudo por direitos iguais para todos, fossem negros ou brancos. Passagens sempre relembradas pelo João Bocaiúva, registradas em entrevistas, reportagens especiais e documentários culturais. 

2015- Documentário Centro de Memória de Cosmópolis - Foto Stephanie Lauria

Como não recordar do “João do Amendoim”, vendendo pacotinhos da gostosa iguaria nos jogos do Cosmopolitano, Botafogo, Funilense, Vila Nova, entre outros times cosmopolenses. Trabalho iniciado quando criança, acompanhado pelos irmãos e primos, uma tradição perpetuada por gerações da família. 

Amendoins torrados e salgados, preparados artesanalmente com muito carinho e capricho nos detalhes, seguindo antigas receitas da família Bocaiúva, embalados com esmero em cones e pacotinhos.

Aos eternos jovens da geração 1980 e 1990, a lembrança do carismático vendedor na região da Vila Cosmo e Cosmopolita, marcando ponto na antiga CosmoFrio e Padaria Cosmopolita (Panificadora do Donizete Rampazzo).

Entre os pacotes para as vendas nos jogos, bailes, paredão e festividades, guardava uma quantia para distribuir as crianças carentes. 

Mesmo quando as vendas não rendiam, era sagrada suas distribuições de amendoins aos meninos e meninas das colônias e Vila Cosmo. Hoje, muitos são pais de famílias, avôs até, que nunca esquecem do querido vendedor de amendoins. 

2001 - Apresentação no Lar dos idosos Irmã Rosália - foto Adriano da Rocha

Vá em paz João, Bocaiúva do pandeiro e amendoins. Nossos sinceros sentimentos aos familiares e amigos.

Texto Adriano da Rocha

Foto Stephanie Lauria / Adriano da Rocha

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