GUERRA PAULISTA
Domingo, dia 18 de setembro de 1932
Cosmópolis despertava apavorada na madruga de 18 de setembro de 1932. Os sinos do campanário da igreja Matriz de Santa Gertrudes redobravam descompassados, mas, não era o chamado para a tradicional missa de domingo.
Impaciente e trêmulo, o chefe da estação subia a caixa d’água de abastecimento dos trens da Sorocabana, conhecida “caixa preta”, localizada na atual Cooperativa Agrícola. No alto do reservatório, onde estava hasteada a bandeira paulista, ele incansavelmente girava a manivela da sirene.
Estridentes sirenes repetiam o chamado na Usina Ester, instaladas na gigantesca chaminé da indústria, o som acordava apavoradas as famílias dos colonos. Outras sirenes vibravam na mansidão, sons que ecoavam entre os imensos mares de canaviais e cafezais da região, eram as Villas de Arthur Nogueira, José Paulino e Americana. O santificado dia de domingo ficava marcado por sangue e pânico.
Somente eram acionadas as sirenes, instaladas em pontos estratégicos, para alerta de perigo iminente aos moradores. O estado de São Paulo estava em guerra pela nova Constituição, a cidade de Campinas acabava de ser bombardeada.
Aviões inimigos sobrevoam as áreas relacionadas como centrais das tropas paulistas. Cosmópolis abrigava uma das maiores centrais de comando e inteligência, instalada no Sobrado da Usina Ester.
O casarão foi cedido pela família Nogueira ( entre os principais responsáveis pela Revolução), aos comandantes paulistas, assim como o complexo industrial da Usina Ester, utilizado até nas produções de munições.
As esquadrilhas de aviões do ditador Getúlio Vargas sobrevoavam os céus cosmopolenses, como de outras vilas campineiras. Para mostrar o poder do Ditador, as máquinas de guerra faziam rasantes na pequena “Villa”. O barulho dos motores aterrorizava a população.
Uma bomba de impacto, fabricada com destroços e ferros, atingia uma plantação no bairro Santo Antônio, abrindo uma clareira na plantação de algodão. Comandados pelo major-aviador Eduardo Gomes, chefe das forças armadas getulistas, os aviões voltavam de Campinas. Depois de espalhar o pânico nas populações das vilas, temendo o incerto, ataque aéreo, ou a invasão por terra.
Bombardeiro em Campinas
A Estação Central da Paulista, onde saiam e chegavam as tropas Constitucionalistas, foi o alvo principal dos aviões, os impopulares e temidos vermelhinhos. Estrategicamente, granadas eram arremessadas e gigantescas bombas “caíam” dos aviões vermelhos de Getúlio. Casas e comércios foram devastados, inúmeros feridos, morria uma criança de nove anos, fatalmente vitimada pelas bombas.
Era o jovem Aldo Chioratto, da Cruzada Escoteira Pró Constituição, atingido por treze estilhaços das granadas lançadas dos aviões. A tragédia somente não foi maior, centenas residiam na região central, porque os soldados paulistas revidaram bravamente, atirando contra os aviões.
Das torres da Estação, os soldados disparavam as poucas munições que possuíam. Era noite, a escuridão dos céus camuflavam os aviões, os soldados paulistas “mirravam” seguindo os sons dos motores. Depois da operação feita, bombardeado o alvo campineiro, os aviões voavam rumo à Minas Gerais. Em seu caminho, até a base getulista mineira, os barulhos dos motores traziam o pânico nos céus das cidades que voavam.
Texto Adriano da Rocha
Foto: Destaque do famoso mapa criado pelo mestre José Wasth Rodrigues, na foto a importância estratégica da cidade de Campinas e sua região na Revolução Constitucionalista de 1932.
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