quinta-feira, 2 de novembro de 2017

LUTO COSMOPOLENSE


Adeus Neu Marsoli
Empreendedor, visionário, um cosmopolense que fez história em sua cidade

Foto Acervo família Marsoli

Neu deixou filhos, netos, e uma história comercial que marcou época em Cosmópolis


  No dia de finados, Cosmópolis despede-se de José Irineu Marsoli, o popular Neu Marsoli, filho do saudoso casal Orlando Marsoli e Mafalda Bertazzo Marsoli.

Neu faleceu aos 66 anos de idade, na tarde de quarta-feira (01), segundo informado por amigos, a causa morte foi complicações cardiovasculares. A última despedida do corpo, aconteceu no velório do Cemitério Municipal da Saudade, o sepultamento foi realizado às 15h00.

Neu era divorciado, deixou filhos, netos, e uma história comercial que marcou época nas vidas de muitos cosmopolenses. Ao lado do pai e irmãos, foi proprietário da Padaria e Confeitaria Marsoli, e um dos responsáveis pela criação do empreendimento “Águas Lindas Country Clube”.

Irmãos Marsoli, Dinho, Neu, Giane e Pardal
Padaria e Confeitaria MarsoliO progresso mudava a Monte Castelo, a criação de núcleos habitacionais populares trazia centenas de moradores para a antiga rua.
Neste tempo, a movimentada rua Monte Castelo não possuía asfalto, a prefeitura criava os núcleos habitacionais, as "populares", jardim Cosmopolita, Cosmopolitano e Vila Cosmo. Loteamentos particulares, formavam os bairros Santa Rosa, Scorcione e Jardim de Faveri.

Buscando atender os moradores, o constante progresso habitacional atraia novos empreendedores, pioneiros como os Rocha (Magazine- Juvenil), Marson (Supermercado- Orides), Camilo (Bar e mercearia), Afonso (Materiais de Construção- Divanil e Leonel), e os Marsoli.

Giane e Orlando Marsoli (Landão)

  No início dos anos de 1970, Orlando Marsoli e os filhos Neu, Dinho, Pardal, Marilza (memória) e Giane, inauguravam a Padaria e Confeitaria Marsoli. Um marco na época, projeto visionário e audacioso, o primeiro estabelecimento do gênero, construído fora da região central.

Edificada na Rua Monte Castelo, equina com a Rua Tiradentes, o prédio e as instalações eram modernos e inovadores na cidade. Até então, não existia nada parecido em Cosmópolis.

“Modernas instalações e pão quente a toda hora”
Os móveis foram fabricados especialmente para a padaria, seguindo os projetos dos exigentes irmãos Marsoli. Uma indústria de São Paulo, especializada no setor de panificação, criava e instalava os modernos balcões e expositores refrigerados, garantindo melhor qualidade e durabilidade aos produtos.

As vitrines e armários, percorriam todos os espaços, divididos em setores e funções, marcados com letreiros de neon azul, destacavam: “Lacticínios”, “achocolatados e solúveis”, “mercearia” e “pães sempre frescos e quentes”.

Tudo revestido de Formica, nas cores branca e azul celeste, garantindo facilidade na limpeza e maior higiene. As vitrines e armários dividiam o prédio, ficando nos fundos a área de produção, e o gigantesco forno a lenha, onde trabalhava um seleto grupo de padeiros e confeiteiros.

Compartimentos térmicos revestidos em inox, recebiam os pães diretamente dos fornos, mantendo os produtos sempre quentinhos, enaltecendo o “slogan” da Padaria: “Pão quente a toda hora”.

O caixa, possuía uma enorme colmeia de vidro envolvendo todo o balcão, em cada espaço ficavam expostos doces industrializados, como chocolates, drops, pirulitos do Zorro, 7belo, dadinho, kids, Chita, Toffano, Pipper, entre uma infinidade de opções.

No alto do caixa, os impactantes expositores dos cigarros Souza e Phillips Morris, sempre divulgando um marca da sua linha, como Marlboro, Free, Continental ou o feminino Capri.
Meu pai fumava Free, e eu os cigarrinhos de chocolate Pan, que no meu caso comia.

A Marsoli, trabalha com toda a linha Pan, dos cigarrinhos, moedas, cerejinhas e lápis de chocolate, e a vasta linha de doces da Campineira, Lacta, Garoto e São Luiz Nestle.

A faixada chamava atenção, revestida com uma moderna cobertura de telhas de zinco, protegendo o prédio contra o sol e chuva. Um gigantesco letreiro, com letras em caixa alta, registrava o nome do estabelecimento, como também o anuncio da Fanta laranja.

As modernas portas de aço, possuíam nas suas batentes a propaganda dos deliciosos sorvetes Yopa, grafados na proteção do trilho, “o segura graxa”. O freezer da Yopa, ficava próximo da porta, ao lado do icônico freezer dos “Sorvetes Pasteurizados Kibon”.

Uma placa redonda de aço, anunciava a venda de fichas telefônicas, na calçada um orelhão da Telesp, atraia diariamente dezenas de moradores.

A instalação do orelhão, foi uma conquista do vereador Orlando Marsoli, como também o pedido de asfaltamento da Rua Monte Castelo e ruas próximas.

Ao lado dos irmãos Dinho, Pardal e Giane, como também das cunhadas e esposa, o jovem Neu fazia de tudo na padaria. Todos trabalhavam, fosse na confecção dos doces e salgados, preparo da massa dos pães, atendimento nos balcões e caixa, como no corte das grandes torras de madeira, para manter sempre acessa a gigantesca fornalha da padaria.

Neu da Padaria

São tantas as memórias e lembranças da Padaria e Confeitaria Marsoli, as quais tenho certeza, outros cosmopolenses com saudade ainda recordam.

A admirável vitrine de doces, alegria dos cafés cosmopolenses, a qualidade dos produtos atraia clientes da cidade e região. As enormes roscas de coco e creme, o “cufe” recheado com uma manta de açúcar, os tradicionais pudins e os brigadeirões, quindins, bolachas amanteigadas, carolinas, tortas e “trançada doce”.

Ah, os inigualáveis sonhos de doce de leite e creme, os meus preferidos, cobertos com confeitos de chocolate Visconti.

As lembranças do Neu são várias, como todo descente de italiano, este não negava a origem e o time de coração, o “Parmera”.

Gostava de conversar, sempre gesticulando em tudo que falava, tinha assunto para qualquer assunto. Foi compadre do meu pai, seu Juvenil da Rocha, e igual a tantos outros jovens da geração 80, cresci frequentando sua padaria.

Muitos doces e bolos de casamentos, noivados e aniversários, foram produzidos pelos Marsoli, e vendidos não somente em Cosmópolis. A Padaria atendia a região inteira, sendo fornecedora de produtos para as colônias da Usina Ester, polo petroquímico da Petrobras, e uma infinidade de bares, lanchonetes, mercearias, pensões e hospedarias.

O Neu Marsoli, eterno Neu da Padaria, foi de uma geração de comerciantes que não visavam somente os lucros e conquista de patrimônios, mas sim a qualidade nos produtos e atendimento.

Sua maior conquista, seu maior patrimônio deixado, foram as amizades, principalmente sua história comercial, a qual marcou a vida do cosmopolense.

As verdadeiras amizades, acompanharam o amigo e ex patrão, nos momentos mais difíceis de altos e baixos da sua vida.

Peço ao Pai, o conforto aos familiares e amigos, neste momento da despedida. O choro faz parte, a despedida do corpo não é fácil, mas tenham certeza, que o merecido descanso ele receberá nos braços do criador.

Vai em paz Neu Marsoli!!! O Landão está aguardando você, junto com uma infinidade de amigos, esperando sua chegada.

Como você dizia, brincando com meu pai:
“São Pedro não vai “ralhar”, muito menos impedir minha entrada. Eu fui comerciante em Cosmópolis, tenho lugar reservado no céu”.

Caso tenha alguma complicação, o velho Rocha e outros amigos, vão garantir seu acesso...

Foto Acervo família Marsoli
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