segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

LUTO COSMOPOLENSE: ADEUS DARTÃO


Desta vez não é boato!!! 
 Uma das figuras populares mais lendárias de Cosmópolis, realmente faleceu. Aos 59 anos de idade, morre Adalto José Ramos, o famoso Dartão da Prefeitura.

Texto Adriano da Rocha
Fotos Thiago Bonatto/ acervo familiar

  Há anos, Dartão lutava contra vários problemas de saúde, decorrentes da obesidade, às 11h00 desta segunda-feira (22), não resistindo a inúmeras complicações, faleceu por problemas respiratórios.

VELÓRIO E SEPULTAMENTO
O corpo, aguarda aos amigos para última despedida, no Velório Municipal. O sepultado, acontece na terça-feira (23), sendo realizado às 9h00, no Cemitério da Saudade.

ETERNA CRIANÇONA COSMOPOLENSE
Em 1958, nascia na extinta Colônia Pitangueiras, o menino Adalto. O médico da Usina, com seus incontáveis anos no oficio, garantia ao casal João Ramos e Dona Maria Carlota: “Esse menino não vai “vingar”. Irá viver, no máximo, dois anos de uma vida bem sofrida”.

Com os dias marcados, a criança nascia lutando contra seu próprio destino, determinado pelo experiente médico. Sem condições até para pagar o médico, o tratamento e remédios seriam impossíveis, uma famosa benzedeira de Cosmópolis foi procurada.

Dona Dita benzedeira, fez sua parte, com garrafadas de ervas, fumacê e muitas orações. Confiantes em Deus, os pais, entregaram ao Criador o destino do menino.

Adalto nascia lutando contra a vida, contrariando imposições, cresceu, envelheceu e viveu, resistindo aos padrões da sociedade.

O seu porte, sempre gordinho, adorava um prato cheio, mudava seu nome para Dartão. Adalto, somente quem chamava era Dona Carlota, quando gritava aos outros filhos: “venha logo armoçá, o Dartão já está na mesa”.

Crescia brincando pelas colônias, correndo entre os carreadores, fazendo traquinagens nas águas do Jaguari e Pirapitingui. Não tinha malícia, suas travessuras, esconder roupas de banhistas, assustar o pescador que distraído dormia na barranca, era só risada. Ele mesmo dizia: “Leve a már não, é só pra dar risada”.

Cresceu, virou homem, mas continuou com a inocência de um menino. Semelhante a uma criança, era extremamente inquieto e teimoso. Quando provocado na maldade, ficava muito nervoso, principalmente, quando lhe chamavam pelo nome de algum ex prefeito. Esbravejava, xingava erguendo os braços, e minutos depois, tudo esquecia.

DARTÃO DA PREFEITURA
Apesar das várias restrições geradas pela obesidade, nunca os limites do corpo, impediram sua coragem para trabalhar.

Dartão foi engraxate, sorveteiro, vendedor de frutas e verduras dos quintais da Usina, sucateiro, e ajudante da família nos trabalhos na Usina.
Como ele dizia “até tentei cortar cana, apanhar algodão e laranja, mas o serviço não rendia. A barriga não ajudava”.

Na Prefeitura Municipal de Cosmópolis, encontrava sua vocação, quando foi contratado no fim dos anos de 1970. Sua função, ajudante de serviços gerais, trabalhando na limpeza, jardinagem, coleta de lixo, pintura de guias, servente de obras, o faz tudo do patrão.

Fazia é claro, do seu jeito, com suas limitações, mas fazia o serviço sem reclamar. Tinha a garagem municipal, como uma extensão da sua casa. Impossível, contar a história da prefeitura municipal, sem citar o Dartão. Figura presente em várias fases da construção da cidade de Cosmópolis, personagem ilustre, esquecido por livros e “pseudos intelectuais”.

GARGALHADAS E BORDÕES
Sempre sorridente, conversava sobre todos os assuntos, até assuntos que não sabia, e dando suas inimitáveis gargalhadas. Inusitadas e marcantes como sua voz.

Quem não gostava muito das suas gargalhadas, era o público do cinema. Local que frequentava desde criança, quando vendia sucata e fazia de tudo, juntando um dinheirinho, para ir ao “Cine Theatro Avenida”.

O velho Hardy Kowalesky, proprietário do Cinema, já advertia: “controla a risada Dartão”. Nada adiantava, o homem com espírito de criança, sorria das peripécias do Mazzaropi, ria das tiradas de Oscarito, e gargalhava ao ver as cenas das maliciosas chanchadas.

Assim como sua voz, a gargalhada era ainda mais potente, surgia espontaneamente, ecoando na bilheteria. O saudoso “Ferruccio pipoqueiro”, cochilava esperando terminar a sessão, acordava assustado com as gargalhadas do Dartão.

Riso puro, sua marca maior, na verdade quem ria, era seu coração

Sua voz era inconfundível, timbre único, assim como seu jeitão de falar, cheio de bordões inesquecíveis, como o famoso: “Oh rapái, oh rapái!!!”

Este “Oh rapái”, ou “oh rapa”, era seu modo especial de cumprimentar a todos. E como gostava de saudar os amigos, conhecia a cidade inteira, como também, era muito conhecido.

DARTÃO VEREADOR
Sua popularidade era tanta, que oportunistas políticos, cogitavam sua candidatura ao cargo de vereador. Dartão não aceitou, dando risada dizia: Oh rapái, oh rapái, isso não presta não”.

E como exercer um cargo superior, simples, estudou o básico que sua paciência permitiu. Não tinha estudos, mas foi doutor em fazer amizades. Todos eram seus amigos, até quem lhe maltratava.

Nos tempos do Regime Militar, soldados o taxaram como agitador e arruaceiro, por suas risadas e comemorações, na vitória do seu idolatrado Corinthians.

Detido, foi cruelmente torturado, por maldade dos soldados. Afinal, qual desordem tão grave, poderia fazer o Dartão!!

Para não deixar marcas das torturas, “malvadezas” na verdade (este é o nome correto), bateram nas solas dos seus pés. As sequelas, deixaram o inocente Dartão, meses de cadeiras de rodas, revoltando toda cidade.

ETERNAMENTE NAS MEMÓRIAS COSMOPOLENSES
Dartão era "corinthiano roxo", mas nunca dispensa um presente. Até mesmo um kit do São Paulo. Foto Acervo familiar

 Como esquecer do Dartão nos eventos esportivos, principalmente nas corridas e caminhadas. Sempre na metade do percurso, ele voltava de ambulância, dando risada e falando mais alto que a sirene, a qual feliz, ele fazia questão de ligar.

Nos carnavais de rua, fazia sua festa particular entre os foliões. Eterno Rei Momo, eleito pelos cordões da Avenida Esther, aclamado como imperador da folia nos blocos da Usina. As lendárias Festas da Cana, tinham o Dartão como seu mascote, divulgando a festa por onde passava.

Sua alegria, o jeitão bonachão, eram o símbolo maior de todas as festividades populares de Cosmópolis.

Há tempos, as ruas cosmopolenses, não ouviam sua voz de trovão e as gargalhadas marcantes. Dartão estava recluso em sua casa na Rua Concordia, onde era ainda mais popular, que o famoso Clube 30 de Novembro. A obesidade e inúmeros dificuldades de saúde, impossibilitavam suas peregrinações na cidade.

Quando aposentou, devido aos problemas físicos, mudou seu ponto de cartão da prefeitura, para o Bar dos Tergolinos, e a extinta muretinha do Banco Banespa.

Com muitas dificuldades, descia o morro caminhando a passos lentos, trazendo nos bolsos dezenas de balas. Nos comércios, caixas de bancos e onde encontrava uma moça bonita, entregava uma balinha. Sempre simpático dizia “Essa é só pro cê tá!!!”

ADEUS DARTÃO!!!
Viveu resistindo as maldades do mundo, principalmente as feitas contra ele. As suas maiores maldades, nunca foram para o próximo, mas sim, a si mesmo.

Encontra agora seu descanso, a cura para suas dores. Viveu em paz, tinha alma limpa, parti deste mundo, com sua missão cumprida.

Aos familiares, em nome do povo cosmopolense, os sinceros sentimentos. Assim como Deus está com Dartão, tenham certeza, nosso Criador lhes abençoam neste triste momento, com sua misericórdia.

Como dizíamos ao ouvir sua voz, assim digo ao onipotente: “Deus, lá vem o Dartão!!! Cuida dele aí pra nós” ...

Texto Adriano da Rocha
Fotos Thiago Bonatto/ acervo familiar



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