“VIVA O ZÉ PEREIRA, VIVA O CARNAVAL”
Texto Adriano da Rocha
Foto Acervo Grupo Filhos da Terra
Fevereiro de 1936 / Vivas ao Zé Pereira na Rua Alexandrina, atual Rua Campos Salles |
Um estridente clarim, acordava os cosmopolenses na manhã de terça-feira, dia 25 de fevereiro de 1936. O simples descuido, do chefe da estação de trens, foi a oportunidade do corajoso músico, para subir na gigantesca caixa d’água da Cia Sorocabana.
Com todas as forças dos pulmões, assoprava o instrumento, mesmo com as pernas “bambeando” pela altura. O som ecoava por toda Villa e arredores, propagando o início dos festejos daquela terça-feira de Carnaval.
Vibrando de alegria, pela conquista sonora da torre, um grupo de músicos fantasiados, aguardavam o destemido folião. Saindo da Praça Major Arthur Nogueira, batuques e acordes, replicavam seu chamado de alegria.
Sons de bombos, zabumbas, tambores, pandeiros, violões, flautas e instrumentos improvisados, anunciavam a passagem do lendário Zé Pereira. Mitológico bloco carnavalesco, o qual tradicionalmente, desde os tempos de Dom Pedro I, abre “oficialmente”, os festejos de carnaval.
A cada esquina o bloco aumentava, crianças, jovens e velhos, seguiam o cortejo da folia. Na passagem dos foliões, quem não abria as portas e janelas, acordava com gritos alegres dizendo: “acordaaa!!! Zé Pereira te chama, é manhã de Carnaval!!!”.
Não adiantava ficar bravo, zangar-se com os folgazões, o dia é consagrado à alegria, é dia de carnaval. Acompanhando os instrumentos, os alegres cosmopolenses cantavam chamando todos para o carnaval.
♫♪“Venha correndo com sua fantasia, pinta sua face para ninguém te conhecer, dança nosso baile até o Nogueira, venha brincar, venha pular com o Zé Pereira!!!”.♫♪♫♪
NO CAMPANÁRIO SOMENTE SINOS ECOAM!!!
Anos passados, o despertar de carnaval, foi anunciado no alto do campanário da Igreja Matriz de Santa Gertrudes. Acordando os moradores, e o Padre, ainda sem batina. Não gostando do inconveniente, proibiu a bagunça no Largo da Matriz. O pobre sacristão, passava a madrugada de carnaval na torre da Matriz, sempre vigilante aos possíveis “despertadores da folia”.
Anos passados, o despertar de carnaval, foi anunciado no alto do campanário da Igreja Matriz de Santa Gertrudes. Acordando os moradores, e o Padre, ainda sem batina. Não gostando do inconveniente, proibiu a bagunça no Largo da Matriz. O pobre sacristão, passava a madrugada de carnaval na torre da Matriz, sempre vigilante aos possíveis “despertadores da folia”.
Como a “chefatura de polícia” não tinha inspetores de quarteirões suficientes, quem fez o patrulhamento foram as carolas e filhos de Maria. Mas como proibir e punir quem está mascarado, sem saber quem é?! Só de pirraça, os foliões mascarados, formavam uma verdadeira procissão de seguidores do Zé Pereira.
No largo da Matriz estava proibido, não na Rua Alexandrina, atual Rua Campos Salles. Até quem não estava fantasiado, entrava na brincadeira com o Padre, cantando um dos refrãos da secular marchinha:
“♫♪Viva Zé Pereira, viva Juvená, vou cair na bebedeira, nos três dias de carnavá”.♫♪♫♪
Próximo à casa do Padre, entre a Rua e o Largo, os foliões aguardavam a chegada do “retratista”. O percurso da biquinha, até a região da matriz, demorava pelo estado das ruas de terra, e principalmente o peso do aparelho “photographico”. O velho Guilherme Hasse, chegava cansado para fazer o registro da turma do Zé Pereira.
Na madrugada, havia chovido de “baciada”, as ruas de terra pareciam doce de abóboras no tacho, “alaranjado” e “macioso”. A terra vermelha cosmopolense, fazia jus ao seu nome, estava realmente massapé.
JACARÉ NA FOLIA
No carnaval de 1936, os seguidores do Zé Pereira resolveram inovar, ser o destaque dos famosos carnavais cosmopolenses. Tradicionalmente, desde os primórdios da
Fazenda do Funil, a vaca e o boi, eram os símbolos do carnaval. Uma tradição Paulista, dos tempos Bandeirantes, adaptada para os Carnavais.
No carnaval de 1936, os seguidores do Zé Pereira resolveram inovar, ser o destaque dos famosos carnavais cosmopolenses. Tradicionalmente, desde os primórdios da
Fazenda do Funil, a vaca e o boi, eram os símbolos do carnaval. Uma tradição Paulista, dos tempos Bandeirantes, adaptada para os Carnavais.
Neste carnaval, o bloco não confeccionou seus famosos boizinhos e vacas, árduo trabalho que começava meses antes da folia. O símbolo do Zé Pereira em 1936, era um Jacaré.
Enorme, com uma gigantesca cauda repleta de pontas, sua cara de mal chamava atenção, como seus dentes saltando pela boca. Trabalho minucioso, corpo feito com pedaços de couro bovino e sacas de algodão da Usina Esther, cuidadosamente tingidas de verde.
Igual as vaquinha e boizinhos cosmopolenses, uma pessoa ficava por baixo da armação, movimentando o “perigoso animal”. Alegoria temida, não só pelas crianças que choravam espantadas, mas pelos blocos concorrentes.
Uma guerra de criatividade apenas, batalha de fantasias, municiados de confetes e serpentinas, lutada com alegria nas ruas da Villa.
Zé Pereira e seu jacaré, foram um sucesso nas ruas, os foliões de outras cidades, nunca tinham visto nada parecido. Cosmópolis novamente, trazia orgulho ao carnaval campineiro, honradamente enaltecendo em mais um ano, o calendário festivo municipal.
DESTAQUES NA FOTO
As calçadas, neste tempo chamadas de “passeios públicos”, o chão era revestido de tijolos e cimento, sendo o único local “asfaltado” próximo as ruas. Talvez para não sujarem as delicadas roupas brancas, “claradas” com muita água de lavadeira, as mocinhas observam o bloco na calçada.
As calçadas, neste tempo chamadas de “passeios públicos”, o chão era revestido de tijolos e cimento, sendo o único local “asfaltado” próximo as ruas. Talvez para não sujarem as delicadas roupas brancas, “claradas” com muita água de lavadeira, as mocinhas observam o bloco na calçada.
A esquerda da foto, o tocador do clarim, está agachado, ao lado um menino tenta não cair na escorregadia lama, ou, até caiu depois do registro fotográfico. As fortes chuvas da madruga, deixaram as ruas “lameadas”, o vermelho da terra, estava ainda mais intenso no barro.
O primeiro à esquerda, usando um chapéu ao estilo de capitão, é o chefe da folião. Ao seu lado, vários músicos fantasiados, cada qual com seu instrumento de repercussão.
Ao centro, vestido de branco, possivelmente é o puxador do jacaré, quem comanda o “animal” por baixo das armações.
Próximo do homem da zabumba, um alegre rapaz com seu violão. Repare como as chuvas foram intensas, e a situação das ruas cosmopolenses, seus pés estão afundados em uma poça de barro.
Como a maioria, mesmo sujo da terra vermelha das ruas cosmopolense, mostra-se feliz, ao registro fotográfico eternizado por Guilherme Hasse.
♫♪“Viva o Zé Pereira, que a ninguém faz mal,
Viva a pagodeira, nos dias de Carnaval,
Viva, viva, viva, Viva o Zé Pereira, e viva o Carnaval” ♫♪♫♪
Texto Adriano da Rocha
Foto Acervo Grupo Filhos da Terra