MEMÓRIA COMERCIAL
Em julho de 1992, aos sons de picaretas e escavadeiras quebrando o asfalto, amanheciam os dias na região central.
Os paralelepípedos dos anos 1950, voltavam a surgir em trechos da Avenida Ester, envoltos de uma grossa camada de massa asfáltica que os cobriam.
Um mutirão de funcionários garantiam a agilidade das obras. Criterioso aos trabalhos e detalhes, o arquiteto Beto Spana, supervisionava a presteza dos serviços.
O prazo era corrido, tudo precisará estar pronto até o dia 17 de julho, para a grandiosa inauguração do “Calçadão da Avenida Ester”.
Seguindo o projeto do “calçadão”, os passeios públicos do então lado direito da via (atualmente seria o lado esquerdo), eram alargados, prolongando cerca de 6 metros.
As “costumeiras” sibipirunas plantadas nos anos 1960, entre piúvas rosas e ipês amarelos, eram cortados. Então necessário para ampliar o espaço de pedestres, outras espécies de árvores cresciam em novos espaços.
Os destaques principais, as palmeiras imperiais e coqueirinhos, contrastando entre os salgueiros chorões e impertinentes canelinhas. Gigantescos vasos de cimento recebiam mudas de flores diversas, predominando coração-roxo (trapoeraba), santolinas brancas e amarelas, volumosas e a ave do paraíso (Strelitzia).
As rústicas calçadas de tijolos revestidos de cimento, marcas dos tempos distritais de Cosmópolis, ficavam no passado. Ao menos, nos quarteirões do calçadão.
Caminhões de pedras de calcário preto e branco chegavam para revestir o calçadão e novas calçadas. Seguindo a tradição das calçadas portuguesas, habilidosos “mestres calceteiros” assentavam as pequenas pedras, formando nos contrastes das cores, a “logo marca” da administração municipal, intitulada “Governo Popular” ...
Podemos observar na foto, registro feito pelo mestre Bruno Petch, inúmeros comércios que marcaram épocas. Ao lado esquerdo, a famosa Vídeo Som, com seus produtos de alta tecnologia expostos na enorme vitrine.
Em evidência em fronte à Avenida, álbuns de fotografias com lindas capas estampadas, alto colantes e com proteção de plástico; filmes “Kodak” de até 36 fotos; e um cavalete propagava: “6 fotos para documentação reveladas em 48 horas”.
Ao lado a “Papelaria e Livraria Santa Terezinha”, que ainda não era divulgada como Papelaria do Brandão.
Na papelaria, um homem olha as manchetes dos jornais, enquanto dois senhores observam os trabalhos nas calçadas do “Escritório Pereira” e do famoso “Restaurante e Lanchonete Ranchão”.
As cores vermelhas e amarelas, símbolos da marca Caloi, demarcavam a tradicional loja dos irmãos bicicleteiros, a icônica “Sport Magossi”. Um homem andando de bicicleta desenhado na porta principal, secular símbolo da marca, oficializam a loja como autorizada Caloi.
Um gigantesco monte de pedras, enchem as frentes da “Karen Calçados” e “Roma Calçados e Confecções”.
Nosso olhar agora viaja ao lado direito da Avenida. Embora não possamos ver com nitidez no registro fotográfico, estão neste ponto a “Auto Escola Medeiros”, “Casa de Carnes Gaúcho” e “Alemão Games”.
Um grupo adentra a “Padaria e Confeitaria Estrela”, antiga Padaria Santo Antônio, então comandada pela família Marsoli.
Um luminoso de acrílico sublimado da “Skol cerveja Pilsen”, sobressai o nome “Sucão Lanchonete”. O toldo vermelho, traz o nome Sucão, sendo destacada a letra U como uma taça de suco, enaltecendo a marca e o nome comercial.
O olhar viaja no tempo, ao ver uma plaquinha amarela, demarcando o modesto espaço criado entre outros salões comerciais.
A placa de plástico rígido é dos anos 1960, letras desgastadas em baquelite, onde os números caíram com o tempo, ou simplesmente, não acompanharam o progresso da expansão telefônica.
Neste pequeno espaço, a placa anunciava somente “Distribuidor de Jornais, Revistas e Livros”. Não precisava de mais nada, os cosmopolenses e inúmeros outros “vileiros” da região, conheciam muito bem este local. Era a popular “Banca do Alaor!!
Último ponto, da famosa bancada de jornais que marcou época em Cosmópolis. O velho Alaor, sempre sério e austero, foi um dos percursores na distribuição de jornais e revistas, permanecendo neste oficio, durante mais de 50 anos.
A velha banca começou no antigo Largo da Igreja Matriz de Santa Gertrudes, prosseguindo na Praça do Coreto, até seu último ponto na Avenida Ester.
Noticiou, divulgou e entregou histórias, sem saber que seus jornais, revistas e livros, ao serem lidos, escreviam a história do modesto jornaleiro, como marcação nas lembranças dos impressos vendidos por ele...
Texto Adriano da Rocha
Foto Bruno Petch (Arquivo Prefeitura de Cosmópolis)