sexta-feira, 13 de julho de 2018

DIA MUNDIAL DO ROCK

MEMÓRIA COMERCIAL
"Bar e Lanchonete Tabajara"

 No “Dia Mundial do Rock” (13/07), como esquecer do “Bar e Lanchonete Tabajara”, em especial do “botequeiro e roqueiro”, Luís Tabajara. Nesta data consagrada ao Rock, nossa homenagem ao saudoso “Taba”.
“Botequeiro” que despertou este gosto musical em várias gerações de cosmopolenses.
Lei aqui, a homenagem publicada no dia do seu falecimento, em 12 de agosto de 2017.


A HISTÓRIA COMERCIAL
Um feliz acaso, quem sabe criado pelo destino, trouxe os Felicianos para a cidade de Cosmópolis. O patriarca da família, Antônio Feliciano, estava para se aposentar da “Usina Tabajara”, em Limeira, onde trabalhou por mais de 40 anos como chefe de turmas nos canaviais.
Feliciano buscava na sua aposentadoria realizar um sonho de criança, ser patrão de si mesmo, abrindo seu próprio negócio.
O intenso movimento na região central de Limeira, chamava a atenção do novo empreendedor. Depois do “footing”, o passeio dos jovens no fim de semana, trazia centenas de pessoas as inovadoras lanchonetes limeirenses.
Seguindo o modelo americano, mas com jeitinho brasileiro, os antigos bares começavam a mudar seu cardápio, ao vender suculentos lanches feitos em pães de baguete, recheados com muito queijo, suculentos bifes de carne gorda, tomate, picles e alface.
Era a sensação na época, os bares que somente serviam porções de ovos cozidos, salgados fritos e pão com mortadela, perdiam freguesia aos comércios que mudavam seu letreiro escrevendo Bar e Lanchonete. Entusiasmado, Feliciano começou a procurar em Limeira um imóvel para abrir o seu comércio.

BAR E LANCHONETE TABAJARA
Antes de oficializar sua aposentadoria pela Tabajara, Feliciano foi chamado para levar uma carga de cana na Usina Ester, em Cosmópolis. Depois do trabalho feito, Feliciano resolveu parar no lendário “Bar Balone”, localizado na esquina da Avenida Esther com a Rua Santa Gertrudes.

O proprietário, Emilio Balone, comentava sobre um bar montado na Avenida, que ele estava vendendo o ponto. Era uma simples casa comercial, bar na frente e residência nos fundos, a localização e o valor chamavam a atenção de Feliciano.

Da porta do bar podia ser visto o imóvel, o ponto era excelente, próximo ao Cine Theatro Avenida e a poucas quadras da Praça do Coreto, famosos redutos da juventude cosmopolense.

A parada no Bar Balone mudava o destino da família, Antônio resolvia investir suas economias para realizar seu sonho em Cosmópolis. Surgia em 12 de fevereiro de 1962, o “Bar e Lanchonete Feliciano”, que popularizaria meses depois com o nome Tabajara.

O nome foi dado pela pergunta feita pelos clientes do bar: “Onde está seu pai menino?”.

Com tradicional avental azul, o qual lhe acompanhou por toda vida, o jovem de 16 anos dizia: “meu pai está na Tabajara”.

O pequeno “botequeiro” era Luiz Feliciano, que ao lado da mãe Dona Aparecida Silvestrine Feliciano, e a irmã Mafalda, trabalhava no Bar durante a semana, enquanto o pai cumpria seus últimos meses na Usina Tabajara. Antônio somente voltava para a Lanchonete no fim de semana, quando o movimento era intenso e sem igual na cidade.

Em pouco tempo o novo comércio tornou-se uma referência na região central, sendo parada obrigatória depois dos passeios no jardim e das sessões do Cine Theatro Avenida.

RECEITAS ÚNICAS E SEM IGUAIS
Antônio e Dona Cida criaram suas próprias receitas de salgados e lanches, o cardápio era simples, mas chamava atenção dos paladares pelo inconfundível tempero e preparo dos alimentos.

Nos lanches o tradicional bife era trocado pelo hambúrguer, uma mistura de carnes moídas, apresuntado e bacon em tiras, algo único e totalmente diferente na pequena Cosmópolis. Outros pratos atraiam fregueses de toda cidade, como os croquetes de carne, o camarão de mineiro (torresmo frito), e os icônicos enroladinhos feitos com massa de pastel, com recheio de presunto, queijo e tomate.

Os salgados tornaram-se uma referência do Tabajara, sendo copiados por renomados bares da região, porém nunca igualados no exato preparo dos ingredientes. Perguntando ao Luiz o segredo das receitas, sempre bem humorado dizia:

“O segredo é o cortador de frios manual, a bacia para fazer a massa, o tacho para fritar, e preparar a mesma receita com os mesmos utensílios há mais de 50 anos no mesmo lugar. É a mesmice, tendeu!!! ”.

49 ANOS DE ETERNAS HISTÓRIAS
Em novembro de 2011, após 49 anos ininterruptos de funcionamento, o Bar e Lanchonete Tabajara fechava as portas. Uma festa organizada por gerações de clientes, marcava a “triste despedida” do Bar. A despedida fechou o quarteirão na Avenida Ester, reunindo mais de 800 pessoas ao som de muito rock antigo, som preferido do “Taba”.

ENQUANTO EXISTIR BOTECO NUNCA SERÁ ESQUECIDO
Sempre sorridente e disposto a fazer sorrir, não transparecia a tristeza em seu rosto. Com o mesmo sorriso que abria as portas, fechava ao sair o último cliente.

Atendia sua vasta freguesia sem distinção, a consumação, vestimenta ou situação financeira, não definiam o seu atendimento. O cliente que chegava pela primeira vez no bar, tinha a mesma consideração do cliente que ajudou a inaugurar o boteco.

O freguês que chegava de bicicleta, consumindo uma KS no balcão, recebia igual atendimento do cliente que consumia doses de whisky e enchia uma folha de comanda. *Atualmente, coisa rara em muitos botecos de Cosmópolis*.

Era destes “butequeiros” que mesmo com pouco estudo, exercia atrás do balcão os mais diversos ofícios, como: psicólogo (tentando entender a mente), psiquiatra (ouvindo e tentando aconselhar), jornalista (informando e descobrindo notícias), e o mais nobre oficio de botequeiro, o de farmacêutico, remediando com doses e garrafadas todos os males.

Ser doutor é muito fácil, qualquer faculdade ensina. O difícil é aprender na vida, a ser doutor de boteco. O Luiz Tabajara foi bacharel, um dos únicos com “Honoris Causa” em Cosmópolis. Nobre título, concedido não por uma renomada faculdade, mas pelo povo, nos seus mais de 49 anos de balcão.

O balcão não era seu fadário, sua obrigação diária para sua sobrevivência e da família. O bar era sua paixão, assim como foi o amor do seu pai, um visionário empreendedor que mudou a história comercial de Cosmópolis.

Na lembrança, fica o jaleco de brim azul claro, com enormes bolsos (onde guardava de tudo e fazia suas mágicas), e seu inseparável pano alvejado que trazia firme no ombro. Não esquecendo a caneta guardada nas costas da orelha, utilizada para fazer com exatidão as somas das comandas.

O malabarismo com os copos americanos, os truques com moedas, as pegadinhas usando as “bisnagas” de Ketchup e mostarda, onde mesmo conhecendo a brincadeira, todos sempre caiam na “falsa” espirada de molho. Tudo acompanhado pelas velhas e conhecidas piadas do Tabajara, com temas sempre cosmopolenses, ou adaptados para a cidade.

Seu nome de batismo ele até esquecia, mas jamais seu nome de botequeiro. Tinha o “Cai uma”, “Revortoso”, “Segura essa”, “Pode não”, “Bebe e chora”, “Inchadinho”, entre tantos únicos e inconfundíveis nomes. Os meus eram “Rochinha” e Noticioso (esse surgiu ao entrevista-lo).

Fica na memória detalhes do seu “templo” de oficio, que assim como seu dono sempre serão imortais nas nossas mais inesquecíveis recordações. O piso reluzente de cerâmica vermelha, o mural desenhado no azulejo, a parede repleta de quadros de bandas de rock e carros.

Nas prateleiras sobrepostas e fixas na parede, eram estocadas e expostas as bebidas quentes, como também suas coleções de “munições” dos tempos que serviu o exército, e uma incrível quantidade de latinhas que alcançava o teto.

Como esquecer as cadeiras giratórias de baquelite, as conversas debruçado no enorme balcão refrigerado, com detalhes sem iguais, revestido de formica nas cores branca e no tom que um dia foi vermelho.

Sobre o balcão a estufa dos apetitosos salgados, vidros de conservas, e dois enormes baleiros giratórios, repletos de opções de doces. Ao girar o baleiro, surgia um som inconfundível: a melodia da infância.

A única “modernidade’’ do bar era uma enorme televisão com DVD, onde Rolling Stones, Pink Floyd, Dire Straits, entre outros “monstros consagrados” do rock, faziam seus “shows” particulares diariamente aos frequentadores.

Quantas memórias heim Tabajara!!! Mais um amigo, um irmão de balcão, um guerreiro a menos para lutar por nossa Cosmópolis. Como você mesmo dizia:

“A gente até chora, eu sei que não é fácil. Mas prefiro que bebam por mim!!! Não tem nada mais bonito, que o “tim tim” de dois copos batendo, homenageando esse botequeiro”.

Em quanto existir cerveja e botecos em Cosmópolis, sempre o Tabajara será lembrado. Descanse em paz velho amigo, esteja com Deus Luiz Tabajara...

Texto Adriano da Rocha
Vídeo Acervo Cosmopolense
Música: Wish You Were Here - Pink Floyd

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