terça-feira, 17 de julho de 2018

CALÇADÃO DA AVENIDA ESTER

MEMÓRIA COMERCIAL


AINDA ONTEM...
EM 17 DE JULHO DE 1992

  Em 17 de julho de 1992, há exatos 26 anos, oficialmente era inaugurado o “Calçadão da Avenida Ester”. Ao som da tradicional “Corporação Musical de Cosmópolis”, o então Prefeito José Pivatto ao lado de Vicente Morelli, representando os moradores da Avenida Ester, descerravam a placa de inauguração.

O projeto assinado pelo arquiteto cosmopolense Beto Spana, contemplava três quarteirões da Avenida Ester, iniciando no cruzamento com a Rua Campinas, terminando na Rua Santa Gertrudes.

Em parceria com os comerciantes e proprietários de imóveis, o calçamento dos entornos do projeto foram recriados, seguindo o mesmo padrão do Calçadão.

As obras tiveram início no dia 22 de abril de 1992, mudando totalmente a rotina da agitada região central. Até o término das obras, ficavam interditados parcialmente os acessos para Avenida Ester.

Aos sons de picaretas e escavadeiras quebrando o asfalto, amanheciam os dias na região central. Os paralelepípedos dos anos 1950, voltavam a surgir em trechos da Avenida Ester, envoltos de uma grossa camada de massa asfáltica que os cobriam.

Um mutirão de funcionários garantiam a agilidade das obras. Criterioso aos trabalhos e detalhes, o arquiteto Beto Spana e sua equipe, supervisionavam a presteza dos serviços.

No mesmo período, eram realizadas em conjunto com o Calçadão, a remodelação do Largo da Matriz de Santa Gertrudes, e criação da Praça Sérgio Rampazzo, obras também assinadas por Spana.
Os prazo eram corridos, tudo precisará estar pronto até o dia 17 de julho, para a grandiosa inauguração do “Calçadão da Avenida Ester”.

Seguindo o projeto do Calçadão, os passeios públicos do então lado direito da via (atualmente seria o lado esquerdo), eram alargados, prolongando cerca de 6 metros.

As “costumeiras” sibipirunas plantadas nos anos 1950 e 1960, entre piúvas rosas e ipês amarelos, eram cortados. Então necessário para ampliar o espaço de pedestres. Outras espécies de árvores cresciam plantadas em novos espaços.

Os destaques principais, as palmeiras imperiais e coqueirinhos, contrastando entre os salgueiros chorões e impertinentes canelinhas.

Gigantescos vasos de cimento recebiam mudas de flores diversas, predominando coração-roxo (trapoeraba), santolinas brancas e amarelas, volumosas e a ave do paraíso (Strelitzia).

Entre os jardins, sempre próximos das árvores, inúmeros bancos foram instalados. No quarteirão entre as ruas Antonio Carlos Nogueira e Santa Gertrudes, uma pequena praça foi criada, com vários bancos e mesas especiais para jogos e leitura.

A escolha deste espaço específico, é devido a maior concentração de pedestres gerada pelos Bancos Itaú, Banespa, Bradesco e Bamerindus (antigo Nacional). Outra pequena Praça, foi criada em frente a Caixa Econômica Paulista.
As rústicas calçadas de tijolos revestidos de cimento, marcas dos tempos distritais de Cosmópolis, ficavam no passado. Ao menos, nos quarteirões do Calçadão.

Caminhões de pedras de calcário preto e branco chegavam para revestir o Calçadão e novas calçadas. Seguindo a tradição das calçadas portuguesas, habilidosos “mestres calceteiros” assentavam as pequenas pedras, formando nos contrastes das cores, a “logo marca” da administração municipal, intitulada “Governo Popular”.

Em parceria com as Estatais TELESP (Companhia Telefônica Paulista) e CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), que possuíam uns dos seus mais antigos escritórios em Cosmópolis, um projeto foi criado especialmente para o Calçadão. As fiações elétricas foram embutidas no solo, sendo instalados luminárias e refletores em pontos específicos.

Acompanhando o projeto modernista da obra, a TELESP instalou orelhões especiais para o Calçadão. Eram cabines de concreto com revestimentos em vidro temperado, com assentos e espaços de armazenamentos de objetos, como sacolas e bens pessoais dos usuários.

Em parceria com comerciantes e indústrias, foram instaladas inovadoras lixeiras nos entornos do calçadão.

Construídas em cimento, com revestimentos em madeiras reflorestadas, possuíam três armazenamentos acoplados para vários tipos de lixos. Nas laterais das lixeiras, as propagandas dos comerciantes que fizeram as doações ao patrimônio público.

O TRISTE FIM DA HISTÓRIA
Após 7 anos da sua criação, a então administração Joaquim Pedrozo (1997 a 2000), mudava a história do Calçadão. Sem manutenção, devido a uma das piores crises financeiras municipais, o Calçadão transforma-se em um vergonhoso “cartão postal” da Avenida Ester.

Árvores e coqueiros imperiais sem nenhuma conservação, com galhos mortos e folhas secas, devido as intempéries climáticas e podas indevidas.

Os jardins viraram pequenos matagais, ervas daninhas cobriam os canteiros e vasos, matando flores e árvores frutíferas.

Com falhas nas iluminações, ocasionadas pela falta de custeamento do local, o vandalismo tomou conta do Calçadão. A região ficou escura, surgindo pontos de uso de drogas e prostituição.

A maioria dos bancos estavam com seus madeiramentos quebrados, as cabines telefônicas com vidros estilhaçados, pichações e sem telefones. Lixeiras sem sacos plásticos, viravam entulhos de lixos e criadouros de insetos.

DEMOLIÇÕES FINANCIADAS POR COMERCIANTES
Comerciantes reuniam-se com representantes da Prefeitura, buscando soluções a vergonhosa situação do Calçadão.

A administração apresentava modificações no projeto, alegando erros nos espaços transversais de estacionamento. As mudanças nos fluxos das ruas, na época mais de 100 vias mudavam seus sentidos, alterava a Avenida Ester.

Para ampliar os espaços de estacionamentos de veículos, o Calçadão começava a ser destruído no quarteirão entre as ruas Campinas e Sete de Setembro. Até então, somente os estacionamentos transversais seriam modificados, mantendo parcialmente o Calçadão e os jardins.

Uma reunião organizada por um pequeno grupo de comerciantes, deliberava o fim de todo o Calçadão.

A diminuição nas vagas de estacionamentos, dificuldades nas entregas de mercadorias aos comércios, marcavam como os principais motivos da demolição do Calçadão.

Os comerciantes custeariam toda a demolição, reunindo recursos próprios para financiar as demolições e recapeamentos dos trechos.

Com apoio da Prefeitura e maioria dos vereadores, os comerciantes exigiam a demolição total do Calçadão, voltando ao projeto original da Avenida Ester.

Usando como embasamento uma pesquisa realizada pela Prefeitura, onde 76% da população apoiava a demolição, os vereadores Dário Conservani e João Maximiano entravam com o pedido oficial na Câmara.

ESCRITO NA HISTÓRIA
Em edição especial do Jornal Tribuna Popular, publicada no dia 09/07/1999, os autores do projeto expunham seus motivos para o “Fim do Calçadão”.

“Só fiquei sabendo da indicação no dia da votação. Eu não ia fazer essa indicação, mas quando o assunto é polêmico, colocam o nome dos outros.
Desmanchar o que está feito nunca é bom, tem muito mais coisas para fazermos com urgência na cidade. Mas, se os comerciantes resolveram pagar, não tem como ser contra”
, desabafava João Maximiano ao jornal.

“Já que estão mexendo no Calçadão, tira já. Pra mexer agora e mais pra frente, resolvemos tirar o Calçadão agora, seriam dois gastos’’, disse Dário Conservani.

O vereador declarava ao Jornal, que não ouviu formalmente nenhuma casa comercial. De acordo com Dário, a votação foi tomada com base em uma pesquisa da prefeitura.

O assunto movimentou a cidade, dividindo a população em favoráveis e contrários as medidas. Moradores organizavam manifestações no Calçadão, bancos eram revestidos com panos pretos, representando luto.

A comerciante Doroti Morelli, afirmava que a decisão não era da maioria dos comerciantes e moradores da Avenida Ester. Enfatizando ao Jornal, que não acreditava nos números da pesquisa. Segundo ela, o Calçadão era uma segurança aos comerciantes e referencial da região.

MARCAS DO PASSADO
Em 16 de julho de 1999, um dia antes do projeto completaria sete anos, o Calçadão estava totalmente demolido. Uma fina camada asfáltica cobria os espaços onde estava projetado o Calçadão.

Atendendo aos pedidos de comerciantes, as obras de demolição do Calçadão ceifavam as vidas de dezenas de árvores da Avenida Ester. Todas as árvores do atual lado esquerdo da via, foram cortadas nesta época.

Somente seis árvores restaram no lado direito, entre elas duas frondosas sibipirunas, preservadas graças ao empenho de moradores da Avenida Ester.

Nesta terça-feira, dia 17 de julho de 2018, o Calçadão completaria 26 anos da sua criação. Marcando nesta mesma semana, dia 16/07, 16 anos do triste fim da sua história.

Texto Adriano da Rocha
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